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terça-feira, 31 de maio de 2011

O Pastor, Profeta de Deus (Resenha) - Parte I - Apresentação

Trabalhar a atividade pastoral da pregação. Esta é a intenção de Donald E. Price ao organizar o livro O Pastor, Profeta de Deus (Vida Nova, 2002). Ao combinar textos dos pastores William Willimon, Haddon Robinson e Steve Brown, Price pretende ajudar jovens e experientes pastores a enfrentarem as dificuldades das preparação das mensagens a serem apresentadas à igreja.




A primeira parte é dividida em três capítulos e trabalha os problemas que muitos pastores enfrentam quando enfrentam conflitos culturais. No primeiro, o pr. Willimon trabalha os cuidados que os pregadores precisam ter com suas palavras, pelo poder que elas carregam. No segundo, o pr. Robinson trabalha a insegurança que muitos pastores enfrentam ao serem comparados com grandes pastores-comunicadores. Já no terceiro, o pr. Brown trabalha a pergunta que muitos pastores se fazem, sobre serem a voz de autoridade na igreja ou serem companheiros de lutas de suas ovelhas.




A segunda parte é dividida em cinco capítulos e apresenta as pressões internas que um pastor pode sentir na hora de preparar sua mensagem. No primeiro, Steve Brown apresenta o problema de quanto pastores não são levados a sério em suas igrejas. No segundo, o pr. Willimon mostra os problemas que alguns pastores enfrentam quando falam muito "crentês" e não conseguem ser efetivos em suas mensagens para os não-convertidos. No terceiro, o pr. Robinson apresenta situações causadas pela tentativa de muitos pastores de tentarem pregar para todas as pessoas ao mesmo tempo. No quarto, o pr. Brown fala sobre a dificuldade de se pregar sobre o lado difícil do evangelho. Já no quinto, o pr. Robinson apresenta os problemas que muitos pastores enfrentam ao terem que pregar quando não estão se sentindo bem emocionalmente.




Por fim, a terceira parte do livro trabalha as pressões externas que afligem os ministros ao trabalharem suas prédicas semanais. Primeiro, o pr. Willimon apresenta o desafio dos pastores de transformarem suas plateias e auditórios em igrejas. A seguir, o pr. Robinson trabalha a dificuldade que muitos pastores enfrentam em selecionar os temas das mensagens que irão ministrar, com tantas coisas acontecendo aos seus redores. Logo depois, o pr. Brown conversa sobre a necessidade dos pastores de encontrarem tempo para prepararem suas mensagens. Por fim, o pr. Willimon trabalha o desafio de pregar o evangelho para os desigrejados.




O livro, em si, é uma leitura deliciosa. Com uma linguagem acessível, os autores mostraram claramente e ilustraram com competência os problemas que enfrentam no dia a dia de seus ministérios, no tocante à preparação de seus sermões. É uma leitura extremamente recomendável para pastores jovens ou experientes, e certamente acrescentará muito a quem separar um tempo para lê-lo. Falo isso porque o livro me abençoou poderosamente e sei que ele pode abençoar a vocês.




Nos próximos dias, estarei trazendo comentários sobre frases extraídas deste livro. Foram muitas ideias interessantes que gostaria de compartilhar com todos vocês. Em breve, também trazendo novas resenhas de livros que estou lendo ou já tive a oportunidade de estudar. Abraços a todos.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O ministério de meio período e seus inconvenientes

Boa tarde, pessoal. Hoje, o bicho está pegando aqui no trabalho. Estou rodeado de pastas para analisar, por isso não tive tempo de postar alguma coisa no blog. Porém, estou terminando de ler um livro muito bom que me apresentou inúmeros tópicos interessantes e importantes de serem discutidos aqui. Em breve irei trazê-los, mas não será hoje. Pelo contrário, hoje abordarei uma das maiores dores de cabeça de um pastor: Ministério de tempo integral ou de meio período?


Este problema é conhecido e não é novo: Todo novo pastor sente um frio na barriga quando tem que tomar esta decisão. E não adianta dizer nessas horas que a confiança em Deus supre o medo, porque não supre: É uma decisão difícil viver do evangelho, pois você se coloca nas mãos da igreja para que seja decidido exatamente o que será de você, de sua vida, de seu sustento e o de sua família. Tudo dependerá do seu esforço pessoal, do seu talento e da sua competência como ministro para manter-se no posto, e isso não é fácil, ainda mais quando lidamos com as emoções das mesmas pessoas que decidem, teoricamente, o seu futuro.


Esta decisão passa pelas mentes de todo seminarista, e o assunto é muito abordado durante os 4 anos de aulas. Lembro-me bem de duas aulas com ideias diferentes: Um professor, conceituado pastor no campo carioca, defendeu o ministério de tempo integral, lembrando que o pastor acompanha muito melhor a igreja desta forma. Já uma professora defendeu o ministério de meio período, notando que o pastor teve maior liberdade para pregar sobre assuntos difíceis e gerenciar de forma mais firme sua igreja. Isso, na cabeça do seminarista, é terrível, pois só aumenta a complicação da escolha.


Nós sabemos que a Bíblia não estabelece exatamente qual tipo de ministério seria o ideal. Por exemplo, sabemos que os discípulos precisavam pescar para comer (João 21). Também sabemos que Paulo fazia tendas no início de seu ministério - o que era uma estratégia para se integrar às pessoas que passavam pela praça da cidade (local de maior movimento nas cidades antigas, pois era onde ficavam as casas comerciais) (Atos 18). Da mesma forma, a Bíblia nos fala que o obreiro - pastor - é digno de seu sustento (2 Co. 11.8), dando indicações de um ministro totalmente sustentado pela igreja local.


Independente das questões bíblicas sobre o fato, a questão é que as demandas de hoje são diferentes das demandas de 30 anos atrás. Hoje, é muito mais difícil um pastor controlar uma igreja inteira. Quando a comunidade ultrapassa a marca de 200 membros, a quantidade de ministérios e atividades é tão grande que fica muito difícil para o pastor conseguir coordenar todas as frentes de trabalho. Além disso, é muito complicado pastorear muitas pessoas, o que faz com que o pastor tenha que escolher entre se dedicar à família ou à igreja, e a decisão que ele tomar certamente frustrará a ele e ao grupo que ele deixar momentaneamente de lado.


Fiz estas divagações porque passo diariamente por esta crise. Mesmo sendo um pastor auxiliar, os ministérios que coordeno exigem muita atenção. Portanto, é frustrante ser sempre o último a saber das coisas quando acontecem. Sinto-me limitado pelo meu trabalho secular, mas, ao mesmo tempo, sei que foi Deus quem o concedeu para mim (longa história, um dia eu a conto). Sem emprego, não teria conseguido fazer o seminário, pois minha igreja olhava com ar desconfiado para mim, quando anunciei minha intenção de seguir para o Seminário do Sul. Lutei contra a opinião do então pastor da igreja e de outras pessoas.


Tendo isso em consideração, penso que muitos vivam a mesma situação que eu. Meditando sobre o assunto, pude perceber que há espaço para ambos os ministérios no meio eclesiástico. Um pastor de meio-período pode contratar, com a sobra de orçamento com salário pastoral, vários outros ministros de meio período ou outro de tempo integral. Com isso, uma igreja pode se ver com uma liderança extremamente qualificada e capacitada para ajudar a comunidade em seu crescimento.


Por outro lado, um ministro de tempo integral poderá dedicar seu tempo para acompanhar mais de perto as suas ovelhas, aconselhando-as quando preciso, além de poder gerenciar mais de perto as atividades da igreja, sabendo em primeira mão o que está sendo realizado na comunidade.


O fato é que não há uma escolha perfeita, não há uma fórmula secreta que indique qual a forma ministerial que deve ser adotada pelo futuro pastor. Em algumas igrejas, o ministério de meio período pode ser necessário, pela falta de condições da igreja de sustentar o obreiro. Em outras, o ministério de tempo integral pode se fazer indispensável. O que o futuro pastor precisa compreender é que, com a ajuda de Deus e das equipes que estão à sua volta, ambos os ministérios darão certo, restando a ele seguir em frente e trabalhar confiante na evangelização, discipulado e edificação da comunidade.


Agora, vocês devem estar se perguntando se eu já tomei minha decisão. A resposta é: Não. No momento, fico em meio período, lutando contra minhas limitações de tempo. O futuro, porém, a Deus pertence. :)

sábado, 28 de maio de 2011

Escola de Milagres

E eu pensava que já tinha visto tudo...

A igreja Hillsong, baseada na Austrália, ficou famosa no mundo todo por causa das músicas de seu ministério de louvor. Atualmente, tem chamado a atenção pela controvérsia envolvendo a promoção da chamada “Escola do Sobrenatural”. Uma das igrejas associadas à Hillsong está oferecendo um curso que promete ensinar como curar o câncer, restaurar mulheres estéreis e trazer os mortos de volta à vida.

Setenta pessoas já estão matriculadas no curso de seis meses dirigido pela Igreja Westlife, em Brisbane. O curso é baseado nos ensinamentos da Igreja Betel, com sede nos EUA e liderada por Bill Johnson, que ensinará os alunos através de uma série de DVDs.

Yvonne Baker, uma das responsáveis pelo curso, explica que vários milagres já ocorreram na igreja e há grandes esperanças que os ensinamentos da Escola de Evangelismo Sobrenatural contribua para que ocorram muitos outros.

O site da igreja diz: “A Escola do Sobrenatural foi projetada para capacitar os alunos a viver e mover no sobrenatural, através do ensino bíblico e aplicação prática – buscando ver o reino de Deus manifestado na terra. É um ambiente no qual as pessoas podem correr riscos de aprender a operar no sobrenatural, sem medo da rejeição ou do fracasso”.

Um porta-voz da Igreja Westlife rejeitou as acusações que estavam oferecendo promessas irreais: ”Compartilhamos a convicção de todas as igrejas cristãs, de todas as denominações, que Deus pode responder à oração e intercedemos pelos que estão com necessidades físicas, emocionais e espirituais… Nosso ensino sobre este assunto é idêntico à maioria das igrejas cristãs”.

Fonte: http://www.news.com.au/national/hillsong-church-offshoot-offers-supernatural-course-that-can-cure-cancer/story-e6frfkvr-1226061204195#ixzz1NGbdrulK (trad.: André Coelho)

Comentário: Dom é presente. Logo, você não pode "aprender" algo que é um presente de Deus para o homem. Dom espiritual é dado pelo Espírito Santo para edificação da igreja. Em todo caso, é uma notícia curiosa, pois mostra até onde estamos indo...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Revelação – Aula 5/5 – Comparação com outras crenças

Aula 7: Revelação – Aula 5/5 – Comparação com outras crenças

Fonte: FERREIRA, Franklin, e MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.

Revelação Geral:

- Quanto à salvação de povos que não conheceram a Cristo: Rm. 3.10-18

- Não há como o homem buscar sinceramente a Deus.

- Aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (At. 4.12, Rm. 10.18)

- Só pode crer quem ouvir sobre o Senhor (Rm. 10.14-15)

Revelação Especial:

- Quanto à não-possibilidade de revelação de Deus ao homem:

- Deus, como uma trindade, se comunicou entre si racionalmente e com os anjos (Gn. 1 e Jó 1).

- Deus aparece se comunicando diretamente com o homem em vários momentos do texto bíblico (Abraão, Moisés).

- As categorias da mente e as coisas do mundo são criações de um Deus racional, logo a correspondência entre as duas viabiliza o conhecimento verídico.

- Deus fez o mundo de forma que a comunicação racional fosse possível.

- Quanto à não-historicidade da Bíblia:

- Deus é, no AT, um Deus que se revela no tempo e no espaço histórico, com datas e locais bem definidos.

- Deus se revela nos acontecimentos históricos de seu povo (êxodo, exílio babilônico).

- A Bíblia não ensina por símbolos ou mitos, e sim por fatos reais (2 Pe. 1.16)

- A arqueologia é uma ciência inexata, que se auto-contraria seguidamente. Por isso, não pode ser usada para provar a veracidade ou não dos fatos históricos da Bíblia. Apesar disso, muitos relatos e profecias bíblicas foram comprovados, como 2 Rs. 15.29-31 e o fim da Babilônia ( Is. 13.19-21, 14.23, Jr. 51.26,43 – a nova cidade, após a sua destruição por Ciro, foi construída 60 km ao norte).

- Quanto à natureza proposicional da revelação:

- Toda revelação divina é coerente e consistente para aquele que crê (Jo. 8.24)

- Quanto à possibilidade de contato com o mundo espiritual

- Nem todas as fontes de “revelação” são confiáveis. O ocultismo, o contato com o além, é proibido na Bíblia (Is. 8.19, 47.12-15, Ap.21.8, 22.15, Dt. 13, 18).

- A Bíblia adverte que qualquer mensagem que divirja do evangelho de Cristo é anátema (Gl. 1.8-9).

- Quanto à possibilidade de outras revelações de igual ou maior importância que a revelação divina:

- A revelação com autoridade vem dos profetas, apóstolos e Cristo (Ef. 2.20)

- Não há mediadores entre Deus e o homem, além de Cristo (1 Tm. 2.5)

- Quanto à idéia de que a Bíblia foi corrompida e teve que ser reconstruída pela seita (mórmons, espíritas – reencarnação):

- Os manuscritos do Mar Morto (séc II a.c.) comprovaram a integridade do Texto Massorético (séc X d.c.) (Isaías, Joel a Ageu quase 100% iguais). Logo, seu conteúdo não foi mexido, como dizem os espíritas.

- Textos antigos, como Homero, Júlio César e Tucídides, possuem menos manuscritos e com maiores discrepâncias do que o NT (o NT possui mais de 24.000 manuscritos, sendo 5.300 em grego, 10.000 em latim. A cópia mais antiga data de 150 e o NT completo mais antigo, de 350). As dúvidas sobre o NT não passam de 0,1% do texto, e sempre em assuntos não-polêmicos (as diferenças montam a 5%, sem afetar as doutrinas básicas da Bíblia).

- Rever Gl. 1.8-9.

- Quanto às doutrinas católicas sobre as Escrituras:

- Sobre a tradição oral que caminha ao lado da Bíblia (2 Ts. 2.15, 2 Tm. 2.2), os dois textos não falam sobre uma tradição oral permanente, de igual autoridade que as escrituras (na época de Ts., os evangelhos ainda não haviam sido escritos).

- Sobre a divergência de cânons, lembramos a premissa de Lutero e dos judeus (somente textos com original em hebraico são considerados canônicos). Ainda sobre os apócrifos:

- Os manuscritos da Septuaginta não convergem quanto a que livros devem ser aceitos como parte do cânon.

- Jesus cita em Lc. 24.44 a mesma divisão rabínica de livros, já conhecida desde o séc. II a.c.

- Flávio Josefo cita os livros do AT como sendo os do cânon protestante.

- A igreja oriental de Alexandria, curiosamente, rejeitou os apócrifos, enquanto que a igreja de Antioquia usou os apócrifos, ainda que com autoridade inferior à das Escrituras.

- Somente no séc. XVI a igreja aceitou a canonicidade destes livros por unanimidade. Anteriormente, não eram tidos como livros dignos de orientarem a igreja quanto a doutrinas (Jerônimo, Agostinho).

- Não há os apócrifos entre as versões hebraicas e aramaicas do AT, além de não constarem da versão siríaca mais antiga.

- Sobre a possível “criação do cânon” pela igreja, cremos que a igreja identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das Escrituras.

COMENTÁRIO: Vídeos anti-homofobia são divulgados na internet - Parte I: Bissexualidade


Boa tarde, pessoal. Hoje, a polêmica em torno do kit anti-homofobia que seria distribuído pelo MEC em nossas escolas públicas alcançou enormes proporções. Como esperado, a bancada LGBT começou a reclamar da suspensão da divulgação do kit. Enquanto isso, os polêmicos vídeos que constariam deste material foram finalmente revelados ao público e outras notícias foram divulgadas, como o fato de que os kits também seriam distribuídos para turmas de 6º a 9º ano, atingindo crianças a partir de 11 anos de idade.

Para ter uma interpretação isenta de preconceitos, decidi analisar os vídeos com cuidado. Como estou no trabalho, só posso ver os vídeos aos poucos. Neste post, comentarei sobre o primeiro vídeo da reportagem acima, que fala sobre a bissexualidade.

Para começar, o vídeo apresenta uma história que é bem comum: Um jovem, aparentando ter entre 14 e 16 anos, muda de cidade e vai para uma nova escola, onde não encontra amigos. Ali, acaba formando amizade com um rapaz da escola, mas sofre com o preconceito dos colegas, por conta da proximidade dos dois. Depois ele descobre que o amigo é homossexual e, apesar do choque inicial, decide manter a amizade. Posteriormente, durante uma festa, o protagonista é apresentado pelo amigo ao seu primo, por quem o rapaz acaba sentindo emoções tão fortes quanto à antiga namorada dele. Sem querer ter que escolher entre um e outro sexo, o rapaz decide assumir-se bissexual, abrindo o seu horizonte para se relacionar com ambos os sexos.

Ao analisar o vídeo com carinho, ficou bem claro que a sua intenção ultrapassa a ideia divulgada pela ala LGBT e pelo MEC, de que os vídeos serviriam para prevenir a homofobia. Durante o vídeo, o narrador faz uma afirmação preocupante e incentivadora da prática, ao mencionar que, ao adotar esta postura, o protagonista teria quase 50% de chances a mais de encontrar uma pessoa legal com quem viver. Ao fazer esta afirmação, o vídeo deixa de ser um coibidor da violência anti-LGBT e passa a ser um incentivador à prática da homossexualidade, por via da bissexualidade.

O fato mais preocupante, aqui, é a intenção original do MEC (provavelmente estimulado pelos grupos LGBT em audiências públicas), de exibirem estes vídeos para crianças a partir de 11 anos de idade. É sabido e notório que a sexualidade da criança começa a se definir nesta fase. É por volta desta idade que as crianças começam a se interessar amorosamente por pessoas do sexo oposto (ou do mesmo sexo). Divulgar este vídeo para crianças nesta faixa etária não alcançaria o objetivo de prevenir a homofobia, mas sim estimularia as crianças a se relacionarem amorosamente com qualquer pessoa de qualquer sexo, e isso, no meu entendimento, não é saudável.

Se tivesse que corrigir este vídeo, certamente tiraria esta colocação infeliz do narrador e cortaria o vídeo no ponto em que o amigo se revela homossexual. Aqui, colocaria uma crítica à violência anti-LGBT sentida pelos dois rapazes por parte dos amigos, e encerraria o vídeo, partindo para o debate.

Ou seja, para começar a discussão, este primeiro vídeo mostrou-se extremamente infeliz e provou que a ideia de que uma das intenções por trás destes kits era incentivar a prática homossexual dentro das escolas era verdadeira. Resta agora ver os outros dois vídeos para ver se mantém-se esta linha de raciocínio. Farei mais comentários sobre estes vídeos em breve. Abraços a todos.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aula da EBD - 2/8/2009 - Mateus 5:29-35

Esta aula foi realizada de acordo com a divisão da revista Atitude, da JUERP, literatura adotada em minha igreja, a PIB do Grajaú. Ele trata de alguns temas polêmicos, portanto achei que seria interessante resgatar este post de meu antigo blog, o Vozes da Colina. Abraços a todos, e obrigado pela visita.

Aula EBD 02-08-2009

Texto: Mateus 5.29-35

Esquema da seleção da revista: 3 temas

Tema 1: Os sentidos que moldam o caráter. v. 29s.
Tema 2: Perenidade do casamento. v. 31s
Tema 3: Cumprimento de juramentos (compromissos). v. 33ss.

Tema 1: v. 29s

29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno.
30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno.

O paralelismo dos textos e a orientação a um de dois órgãos duplos denota uma linguagem figurada. O objetivo de Jesus não era ordenar que tal ato fosse realizado literalmente, mas alertar que os sentidos do corpo, mal usados, poderiam levar o homem à destruição.

Sabemos que os olhos são a lâmpada para o corpo. Jesus disse que, se os olhos fossem bons, o corpo seria bom, mas se os olhos fossem maus, o corpo seria trevas (Lc. 11.34-36). Desta forma, a mensagem de Jesus prima por uma santificação do corpo a partir dos sentidos.

Outro detalhe é o fato de que Jesus cita partes do corpo que são duplas, e ordena que sejam arrancadas. Isso significa que o homem pode ter áreas de sua vida que causem tropeço, mas isso não invalida o homem por completo. Tratando a raiz do mal, a fonte do tropeço, liberta o homem do próprio mal.

Por fim, Jesus cita especificamente a mão direita, que pode ser alusão à mão hábil da grande maioria dos homens. Poderíamos especular que o homem deve tomar cuidado com seus atos/ações que causem tropeço, pois eles também podem levá-lo ao inferno.

Nota: Estudiosos judeus da época criam que o indivíduo ressuscitaria da mesma forma que morreu, com ou sem órgãos. Desta forma, Jesus resgata a imagem para se fazer entendido.

Nota 2: O que é melhor? Deixar o prazer temporário para trás ou sofrer eternamente pelas faltas cometidas?

Tema 2: v. 31s

31 Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.
32 Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.

Sabemos que, pela lei, o homem dava uma carta de divórcio para a mulher para permitir que ela recasasse honrosamente (Dt. 24.1). Por conta da sociedade machista, uma mulher não tinha condições de ganhar a vida como solteira, a não ser mendigando ou se prostituindo. Sabemos também por alguns estudiosos que a prática do divórcio era comum na região de Israel e no Império Romano.

Para ensinar seus discípulos e o povo quanto a esta prática, Jesus retoma não só a lei, mostrando que apenas os casos de adultério seriam capazes de separar a união do casal, como também que a separação sem adultério não extingue os laços matrimoniais, fazendo a mulher tornar-se adúltera ao se relacionar com outro homem.

Jesus falaria mais sobre o caso mais tarde (Mt. 19.3-9), e pouco antes menciona que o mero olhar para outra mulher com intenção impura faz com que ele já tenha adulterado com ela (Mt. 5.28). Reforçando a lei sobre o casamento, dando a ele uma visão espiritual, Jesus espera ensinar que a prática do divórcio não é aceitável nos termos que aconteciam na época.

Nota: Aonde começa o direito do divórcio nos dias de hoje? Pode-se contextualizar estes versículos para abrir a possibilidade de divórcio para outras situações, como violência doméstica ou diferenças irreconciliáveis?

Tema 3: v. 33ss

33 Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos.
34 Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus;
35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei;

Jesus relembra os judeus sobre a condenação da lei sobre o falso juramento em nome de Deus (Lv. 19.12, Nm. 30. 2, Dt. 23.21). Entretanto, parece que havia uma prática de se jurar por qualquer outra coisa, já que, caso o juramento fosse quebrado, pelo menos o nome de Deus não seria difamado.

Jesus também repele esta prática, dizendo para o homem não jurar de forma nenhuma, citando três garantias de juramento aparentemente comuns na época e notando que elas estão ligadas a Deus (Is. 66.1).

Jesus afirmaria pouco depois que a palavra do homem deve ser “sim, sim” e “não, não”, ou seja, deve sempre almejar cumprir seus compromissos. Como diz o autor da revista, o homem deve “assumir diante da vida posições e atitudes que honrem e dignifiquem [sua] procedência divina”. Sua garantia deve ser sua postura illibada diante da vida, seu testemunho. Sua resposta deve ser sempre verdadeira, correta e honesta.

Nota: Podemos jurar, então, em juízo, ou devemos adotar a postura das Testemunhas de Jeová, que se negam a tal gesto? Resp.: Mt. 26.63s. (conjurar: jurar com, em companhia. No original: adjurar, acusar sob juramento).

Satanás é a "estrela da manhã"? (Ref.: Is. 14.12-15)

Fala, galera, beleza? Seguindo a linha do dia de hoje, de resgate de alguns posts de meu antigo blog, resgatei este que lancei na época do aniversário de 31 anos da PIB do Grajaú. É um pequeno estudo, bem legal, sobre o termo "Estrela da Manhã", pois surgiu uma dúvida com relação a quem o termo se referiria, a Jesus ou a Satanás. Vale a pena lê-lo. Abraços.

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Hoje foi dia de aniversário lá na PIB do Grajaú. Desde a manhã, foi um dia incrivelmente abençoado para todos os presentes. Entretanto, o dia foi ainda mais interessante para mim por conta de uma dúvida levantada por uma adolescente, que acabou alterando o momento de louvor durante o culto matutino.

Tudo começou após o começo do culto. Pretendíamos entoar o louvor "Estrela da Manhã", um louvor antigo, porém com uma letra muito bonita. Enquanto o pastor se preparava para a oração inicial do culto, já dando as boas vindas a todos os presentes, uma das jovens participantes da equipe, que não estava na escala, me fez uma pergunta que me surpreendeu: Ela teria ouvido que esta "estrela da manhã" seria uma definição para Satanás, na Bíblia. Na hora me surpreendi, pois não me lembrava de nada do tipo na Bíblia. Então ela me mostrou sua Bíblia comentada, apontando para Isaías 14.12-15. Aquela Bíblia afirmava, com todas as letras, que "Estrela da Manhã" era Lúcifer, o anjo que tentou tornar-se acima de Deus.

Totalmente desconsertado, imediatamente suspendi a música do louvor, levando-me a investigar este termo. Foi-me bem lembrado que o termo "estrela da manhã" aparecia diversas vezes no Novo Testamento, o que me levou a fazer uma pesquisa apurada sobre o termo e sobre Isaías 14. Aqui estão os passos e resultados desta pesquisa:

1º Observar os originais: Com 3 anos de seminário, um aluno já é capaz de ir nos originais e identificar alguns termos, com ajuda de dicionários e outras ferramentas, que identifiquem o original daquele termo. O termo no hebraico é "hilel", que pode ser traduzido literalmente como Vênus, "o que brilha" ou "estrela da manhã". O termo é enigmático, e, tirando todo o texto fora de contexto, realmente sua interpretação parece dar margem a ser Satanás. Vejamos o texto:

12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.

Existia um passo mais simples para tirar esta dúvida. Porém, acabei dando uma volta completa para tal. Vamos refazer estes passos:

2. Analisar outras instâncias do termo na Bíblia.

Como sempre associamos Jesus Cristo à "Estrela da Manhã", ao cantar o cântico (totalmente de adoração), fomos atrás do termo no Novo Testamento. Existem três textos com estes termos:

2 Pd. 1.19: Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração...

Neste versículo, "estrela da alva" está com o termo "phosphoros" no texto grego original. É um termo usado para se referenciar a Vênus, ou a Estrela d'Alva como a conhecemos nos dias de hoje.

Ap. 2.28: ...assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.


Neste versículo, os termos no original estão separados para "estrela" e "manhã". O problema de comparar Jesus à estrela da manhã aqui é que as palavras são do próprio Jesus, segundo a revelação de João.

Agora vem o versículo de onde certamente o autor tirou o termo para sua música e de onde o conhecemos:

Ap. 22.16: Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.


Neste versículo, é bem claro: Jesus se entitula como a "Estrela da Manhã". O adjetivo "brilhante" é apenas um qualificador de um termo triplamente composto, no original: "a brilhante", "a estrela", "a manhã".

Tendo este último versículo em vista, precisamos nos curvar ao tema da música. Ela estaria correta: Jesus é a "Estrela da Manhã", na Bíblia. Este qualificador tem inúmeras conotações teológicas, que todos podem conferir em seus comentários, por isso não entrarei nesta questão, pois meu objetivo tornou-se entender a seguinte aparente contradição bíblica: se a "Estrela da Manhã" é Jesus, como poderíamos interpretar a "Estrela da Manhã" de Is. 14.12-15 como Satanás?

Nesta hora, lembrei-me de minhas aulas com o Prof. Osvaldo, de Exegese do AT, e dos professores Dionísio e Enildes, de Metodologia Exegética do NT. Todos sempre fizeram questão de enfatizar o seguinte:

O Antigo Testamento, antes de ser polissêmico, tem um sentido histórico para o povo da época. A Palavra de Deus deve ser encontrada no sentido histórico do texto, ou seja, o motivo pelo qual o autor escreveu aquele texto naquela época.

É claro, eu creio na visão polissêmica da Bíblica, ou seja, que alguns textos proféticos contêm interpretações para a própria época e para uma era posterior. Se não fosse assim, jamais poderia crer, como cristão, que o Antigo Testamento revela, em muitas partes, a vinda de Jesus Cristo, o consumador da lei.

Tendo isto em vista, eu me perguntei: E o contexto histórico do texto, qual era, quando Isaías o escreveu? Não sou um especialista ou doutor em AT, porém não é preciso sê-lo para ler exatamente o que está escrito na perícope completa do trecho, que era o que deveria tê-lo feito desde o começo. Confesso que, antes de fazê-lo, ainda fui buscar informações e diálogos sobre o trecho em vários comentários, tanto em minha biblioteca quanto na internet. Enfim, leiamos a perícope inteira, que vai do v. 4 ao v. 23. A versão é a Almeida Revista e Atualizada da Bíblia Online (www.bibliaonline.com.br):

4 ¶ então, proferirás este motejo contra o rei da Babilônia e dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania!
5 Quebrou o SENHOR a vara dos perversos e o cetro dos dominadores,
6 que feriam os povos com furor, com golpes incessantes, e com ira dominavam as nações, com perseguição irreprimível.
7 Já agora descansa e está sossegada toda a terra. Todos exultam de júbilo.
8 Até os ciprestes se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano exclamam: Desde que tu caíste, ninguém já sobe contra nós para nos cortar.
9 O além, desde o profundo, se turba por ti, para te sair ao encontro na tua chegada; ele, por tua causa, desperta as sombras e todos os príncipes da terra e faz levantar dos seus tronos a todos os reis das nações.
10 Todos estes respondem e te dizem: Tu também, como nós, estás fraco? E és semelhante a nós?
11 Derribada está na cova a tua soberba, e, também, o som da tua harpa; por baixo de ti, uma cama de gusanos, e os vermes são a tua coberta.
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.
16 Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos?
17 Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades? Que a seus cativos não deixava ir para casa?
18 Todos os reis das nações, sim, todos eles, jazem com honra, cada um, no seu túmulo.
19 Mas tu és lançado fora da tua sepultura, como um renovo bastardo, coberto de mortos traspassados à espada, cujo cadáver desce à cova e é pisado de pedras.
20 Com eles não te reunirás na sepultura, porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos jamais será nomeada.
21 Preparai a matança para os filhos, por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades.
22 Levantar-me-ei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos; exterminarei de Babilônia o nome e os sobreviventes, os descendentes e a posteridade, diz o SENHOR.
23 Reduzi-la-ei a possessão de ouriços e a lagoas de águas; varrê-la-ei com a vassoura da destruição, diz o SENHOR dos Exércitos.

Os trechos que identificam claramente o alvo do autor do texto estão destacados acima. Observemos todos:

1) v.4: O autor claramente aponta para um texto profético contra o rei da Babilônia. Deus manda o profeta enviar uma mensagem futura para o rei babilônico, notando sua queda.

2) v.11: O texto fala em uma "cova", algo que é mais fácil ler literalmente do que alegoricamente. Pode-se alegorizar esta "cova" como o inferno? Sim, pode-se. Mas aí, também podemos alegorizar o restante da Bíblia e aceitar todas as suas interpretações, algo que nenhum teólogo sério aceita tranquilamente.

3) v.15: "Reino dos mortos" pode ser entendido como inferno? Sim. Porém, o texto aqui é a tradução do termo "Sheol", um termo de difícil tradução teológica. Em todo caso, vale notar que cria-se, no antigo Israel, que todos os mortos iriam para o "Sheol".

4) v.16: O profeta se pergunta se este rei era o "homem" que atormentava o mundo conhecido. Supondo que Satanás é o anjo caído que imaginamos (Ez. 28, conforme interpretação alegórica, também), ele não pode ser este "homem" listado aqui em Is. 14.

Desta forma, considerando que este "rei da Babilônia" era um homem, precisamos nos voltar ao contexto histórico e entender a religiosidade daquela região. E, neste link, um clássico estudo sobre a religião babilônica, podemos ver que os reis, por serem considerados filhos dos deuses, tomavam para si qualidades divinas, o que poderia levar algum rei específico a, sim, querer se elevar à posição de Deus.

Precisamos considerar, também, que a religiosidade antiga era regida por uma "divindade da terra", onde o poderio de um deus era ditado pela quantidade de vitórias que dava a seu povo. Uma vitória em batalha era sinal do favor daquele deus. Uma derrota era sinal de fracasso do deus ou de aprisionamento, por meio de encantamentos, por parte do outro povo, daquela divindade. O livro "Cidade Antiga", de Fustel de Coulanges, é um clássico sobre o assunto, e leitura obrigatória em aulas de História do Cristianismo I.

Levando-se todas estas fontes em questão, podemos definir que o "rei da Babilônia" descrito em Isaías 14 era, certamente, um governante existente, que estaria tentando assumir para si um caráter divino, por conta de suas inúmeras conquistas militares e poderio imperial. Neste sentido, então, estamos devidamente embasados para reler Is. 14.12

v. 12: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!

Leia a frase acima em voz alta. Leu? Agora leia esta mesma frase em tom de IRONIA. Perceberam? O profeta estava criticando o referido rei, ironizando o seu postulado de querer se colocar como um deus acima dos outros deuses. Ele provavelmente utilizou termos que o próprio rei se atribuiu para ironizá-lo e mostrar que seu fim havia chegado, em um futuro escatológico.

Chegando a esta conclusão, posso tranquilamente interpretar os versículos do Novo Testamento como Jesus Cristo sendo a REAL Estrela da Manhã, aquele que está acima de todos os seres existentes, criados, sejam terrenos ou celestiais, e acima de cujo nome não se pode chegar nenhum nome. As interpretações para Ap. 2.28 são diversas, não entrarei no âmbito da questão aqui, porém é certamente em Ap. 22.16 que podemos nos embasar para aceitar a teologia da música como correta.

Palavras de Vida Eterna vs. Palavras do Mundo: Mensagem SIB Grajaú em 2009 (Texto-base: João 6.60, 66-68)

Fala, pessoal, tudo bem? Estava dando uma olhada no meu antigo blog, Vozes da Colina, da época em que estudava no Seminário do Sul. Lá, encontrei três posts que achei que seria legal trazer para cá. Este é uma mensagem que preguei em um culto na SIB do Grajaú em 2009. Não é um primor de homilética, mas foi como achei que deveria dividir, por ser uma mensagem temática. Espero que seja uma bênção em suas vidas.




Mensagem 24: Palavras de vida eterna vs. Palavras do mundo


Texto base: João 6.60, 66-68.


60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? 66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. 67 Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna;


Frase base: Para ser um jovem que faz a diferença, primeiro é preciso ser um jovem diferente. Para ser um jovem diferente, é preciso ser um jovem que retém as palavras de vida eterna e descarta as palavras do mundo.


Palavras do Mundo: Situações, questões, decisões IMPOSTAS PELA SOCIEDADE como regra a ser seguida, sob pena de segregação. Tido como LEGAL, MANEIRO.
Ex.: Pra que casar cedo? Aproveite bastante a vida com as mulheres quando jovem e case-se quando você se cansar... SE cansar.


-As Palavras do Mundo DESTRÓEM a vida espiritual de um crente, afastando-o de Deus (O que aconteceu com os outros discípulos? Perderam a grande oportunidade da história, de conhecer as Palavras de Deus do seu próprio filho!!)
-As Palavras de Vida Eterna FUNDAMENTAM e RESTAURAM a vida espiritual de um crente, aproximando-o de Deus (A antiga religiosidade legalista judaica dá lugar a uma religiosidade cristã do amor)


Palavras do Mundo:


- “Os pais são quadrados”. (QUADRADICE PATERNA)


Causam: Destruição familiar, falta de sabedoria, entrega às outras palavras.
Motivo: Os pais são os mais interessados em preservar os filhos do mal.
Hoje: Os filhos ignoram os pais. Para não perder os filhos, os pais se dobram às suas vontades e jogam a culpa na sociedade.


- “O que importa é o agora”. (IMEDIATISMO)


Causam: Hedonismo (culto ao prazer), imediatismo, ignorância sobre pecado e vida com Deus, falta de compromisso.
Motivo: O inimigo quer impedir que o jovem veja a fragilidade da vida e entregue sua vida a Jesus cedo.
Hoje: Muitos profissionais não conseguem entrar no mercado de trabalho porque querem entrar por cima, ganhando salários irreais para sua posição (ILUSTRAÇÃO: notícia da Folha Online de analista de RH que diz que não consegue preencher as 20 vagas de trainee de sua empresa, apesar de ter recebido mais de 10 mil currículos porque ninguém quer começar trabalhando ganhando pouco para, posteriormente, galgar posições na empresa. Todos querem começar por cima, ganhando muito, tendo função gerencial ou até mesmo começar trabalhando em áreas internacionais).


- “Vale tudo para conseguir dinheiro”. (GANÂNCIA)


Causam: Consumismo, vontade de ganhar dinheiro a qualquer custo, sem esforço, sentimento de inferioridade.
Motivo: A sociedade impõe que uma pessoa só pode ter seu valor medido pelo que ela tem, e não pelo que ela é.
Hoje: O mercado que mais consome roupas de grife, por exemplo, é o de classe média baixa (ILUSTRAÇÃO: Shopping mais lotado do Rio: Norte Shopping).


- “Eu venho primeiro do que o outro”. (INDIVIDUALISMO)


Causam: Autoritarismo, egocentrismo, competitividade.
Motivo: A sociedade capitalista tem como premissas a vitória do mais forte, do mais capacitado, e o lucro a qualquer custo. Para subir na vida, deve-se ignorar os outros, até mesmo pisar neles, para avançar postos.
Hoje: Religiosidade internalista, de evolução espiritual pessoal. Não se fala mais de amor ao próximo, comunhão (ILUSTRAÇÃO: Qual foi a última música de sucesso nas rádios que falou de comunhão com o irmão, amor ao próximo ou sacrifício pelo outro?).


- “A vida é curta, logo devemos aproveitá-la ao máximo”. (HEDONISMO – culto ao prazer)
- “Deixa de ser careta” (CARETICE)


Causam: Sexualidade precoce, bebida, drogas, fumo, malícia (palavrões), vida em velocidade máxima.
Motivo: Na ânsia de querer pertencer a um grupo, o jovem se molda ao mundo, adotando seus valores e evitando influenciá-lo com seus valores, por medo de ser isolado do grupo.
Hoje: A permissividade da religiosidade protestante moderna tem levado a muitas aberrações, onde as pessoas vivem uma vida santificada no domingo e, durante a semana, vivem suas vidas totalmente desregradas (ILUSTRAÇÃO: Adolescentes que dizem que só irão se batizar quando se tornarem jovens, adultos ou velhinhos).




Palavras de Vida Eterna para combater as Palavras do Mundo:


Contra QUADRADICE PATERNA:
Pv. 13.1: O filho sábio ouve a instrução do pai, mas o escarnecedor não atende à repreensão.


Contra IMEDIATISMO
Pv. 27.1: Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz.
Ec. 3. 1-2: 1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: 2 há tempo de nascer e tempo de morrer;
Mt. 6.34: Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.


Contra GANÂNCIA
Lc. 16.13: Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.


Contra INDIVIDUALISMO
Mc. 12.28-34: 28 Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 29 E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. 31 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. 32 E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; 33 E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. 34 E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.
Jo 15.12: O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.


Contra HEDONISMO, CARETICE
Mt. 5. 13-14: Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte;

A Heresia da Prosperidade - Parte I: A Teologia da Semente - Sl. 126.5-6

Boa tarde, amados. Como prometi há algumas semanas, estou iniciando hoje algumas reflexões a respeito da doutrina que acredito ser o maior mal que atingiu a igreja nos últimos anos: A Teologia da Prosperidade. Este corpo de doutrinas, recheadas de afirmações extra-bíblicas, textos retirados de seu contexto e de ideias que Jesus Cristo combateu quando veio ao mundo, tem levado milhões de pessoas a investirem suas vidas e recursos em ministérios manipuladores e diabólicos, que só pensam em novas formas de explorar o crente em sua tentativa de alcançar a graça e o favor divinos.

Para iniciar nossos trabalhos, irei fazer algumas colocações a respeito da teologia da semente, que é tão difundida em várias igrejas nos dias de hoje. Posteriormente, farei pequenos estudos sobre outros temas desta heresia e trarei alguns estudos, como a história do movimento, onde ele surgiu, quem são seus maiores pregadores e seu status ao redor do mundo. Meu intuito é não só educar os novos cristãos, na esperança de que não caiam nesta esparrela maligna, mas também mostrar aos mais experientes na fé como isso é um problema real que precisa ser lidado em nossas igrejas.

A teologia da semente, basicamente, faz um trocadilho com a agricultura para incentivar os cristãos a ofertarem algo para a igreja. Ela afirma que, se o cristão "semear" uma oferta na casa de Deus, que o Senhor irá "frutificar" as bênçãos em sua vida. Neste esquema, cada pregador, do alto de sua originalidade, gera um multiplicador das bênçãos. Por exemplo, em uma determinada igreja que se diz universal, é comum pedir uma unidade monetária e dizer que a pessoa receberá dez unidades em troca. Já em outra comunidade, que diz oferecer paz e vida aos seus irmãos, foi oferecido um serviço onde as pessoas receberiam bênçãos "dobradas e quadruplicadas", em uma parca menção à história de Zaqueu. Outras comunidades inventam outros multiplicadores: Três, quatro, sete, etc.

Como disse anteriormente, é comum aos pregadores desta heresia se utilizarem de textos completamente fora de contexto para justificar suas afirmações. Determinado dia, enquanto dirigia para o meu trabalho, ouvi na rádio de maior audiência do Rio de Janeiro um pregador fazendo uma rápida reflexão sobre o texto de Sl. 126.5-6, usando-o para doutrinar as massas na heresia da semente.

O texto sagrado referido diz assim:

Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

A interpretação deste texto, por parte daquele pregador, porém, foi totalmente alegórica (1): A semente é a oferta dada pelo cristão na igreja. O sentido da semeadura com lágrimas diz que você deve semear mesmo causando um sacrifício para você. Ao fazer isso, Deus verá suas lágrimas e fará multiplicar as bênçãos em sua vida, referidas nos feixes. Estes feixes podem ser: Saúde, vida familiar boa, prosperidade financeira, etc.

A afirmação deste pregador foi interessante porque definiu bem as ideias que os pregadores da heresia da prosperidade botam na mente das pessoas:

1) Ser cristão é um relacionamento de troca com Deus.
2) Ser cristão tem, como principal benefício, a multiplicação de bênçãos materiais.
3) A oferta não deve ser por generosidade, mas sim como um investimento para posterior resgate.

O problema desta heresia está nas suas consequências nas vidas das pessoas: Quando elas "semeiam" e não recebem as bênçãos que estavam esperando, estas pessoas tendem a se rebelar, a se chatear com Deus por não terem recebido a bênção que esperavam. Jogam a culpa em Deus, sem perceber que a Bíblia nos ensina que tais dádivas são muito mais relacionadas com os nossos esforços, capacitados pela sabedoria e personalidade que Deus nos deu, do que com bênçãos sobrenaturais que ele pode nos entregar.

Para piorar, muitos pregadores e pastores defendem-se da falha das pessoas em conquistarem estas bênçãos jogando a culpa nas próprias pessoas ou no próprio Deus. Por um lado, eles afirmam que, se a pessoa não recebeu a bênção que gostaria, é porque "semeou pouco" ou porque tem algum pecado enrustido que impediu que seu pedido chegasse com sinceridade ao altar do Senhor. Por outro lado, eles afirmam que, se a pessoa acha que se enquadra em todos os requisitos para receber a bênção, que ela tem o direito de "exigir" de Deus a promessa que lhe foi dada.

Em todo caso, vamos analisar a doutrina da semente aos poucos:

Ponto 1: O texto apresentado pelo autor não tem nada a ver com ofertas ao Senhor. Ao se ler o texto de Sl. 126 completo, podemos perceber isso:

Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: "O Senhor fez coisas grandiosas por este povo". Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

Lendo este texto, percebe-se que a intenção do autor é fortalecer a alma daqueles que haviam voltado do cativeiro babilônico e estavam começando a reerguer a nação de Israel. Sião é o monte onde o Templo ficava, em Jerusalém. "Trazer os cativos de volta a Sião", logo, refere-se ao retorno do exílio na Babilônia.


Continuando com o texto, nos v. 2-4, o autor rememora a alegria do povo de Israel ao retornar para a sua casa. Esta alegria tem muito a ver com a situação em que viviam na Babilônia, pois, mesmo tendo uma vida relativamente confortável no cativeiro (cada exilado tinha casa, terra e família), eles estavam envolvidos pelo culto idolátrico aos deuses babilônicos, cultos estes que eram totalmente opostos ao culto a Iavé. Desta forma, o sofrimento do povo era pela opressão espiritual na qual viviam.


Entretanto, quando retornaram para suas terras, vemos que o povo de Israel não encontrou vida fácil. Pelo contrário, sabemos pelos livros de Esdras e Neemias que houveram conflitos entre os remanescentes da terra e o povo que retornou do exílio. Além disso, a infraestrutura que o povo possuía para plantar na Babilônia (conhecida pela riqueza e fartura da terra, por conta dos rios Tigres e Eufrates, que circundavam a região) não se encontrava na antiga Judá, terreno arenoso, desértico, difícil de ser cultivado. Daí o autor notar as lágrimas daqueles que plantam: Eram lágrimas de esforço, por estarem tendo que lutar para cultivar uma terra mais difícil de lidar do que a antiga.


Desta forma, o sentido do autor original com os v. 5-6 reside tem a ver com uma mensagem de esperança e fortaleza para os agricultores que, agora, tinham que lutar mais para conseguirem plantar e colher o que precisavam para sobreviver. A mensagem real do texto reside no fato de que Deus abençoaria seu povo pelo trabalho árduo que fazia ao retornar à sua terra e voltar a cultuar apenas a Ele (lembrando: Muitos judeus resolveram permanecer na Babilônia porque preferiram manter suas terras e casas que haviam construído no local). Ou seja, não há nada de sobrenatural no texto, muito menos troca. Pelo contrário, havia uma promessa de esperança para aqueles que retornaram à terra de Jerusalém para reconstruir a nação santa, separada por Deus para tal, e esta promessa também não tinha nada a ver com riquezas, mas sim com sobrevivência no local.


Na próxima oportunidade, comentarei sobre outros textos do AT e do NT que mencionam a ideia de semente e de prosperidade, entre eles: Lv. 26.16, Dt. 28.1-13, 39, 2 Co. 9.6-8. A gente se fala. Abraços.

(1) Alegoria é uma figura de linguagem que transmite um outro significado além do exposto no texto. Interpretação alegórica da Bíblia, portanto, é a forma de tentar entendê-la extraindo verdades que extrapolam o sentido literal do texto bíblico. Este tipo de interpretação foi muito comum na igreja católica primitiva e é a principal forma de grupos hereges afirmarem que a Bíblia diz algo que ela não diz.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Estudos teológicos sobre a homossexualidade na Bíblia - Parte I: 1 Coríntios 6.9-10 - Visão conservadora

Boa noite, pessoal. Como disse no texto anterior, irei trabalhar alguns estudos sobre a homossexualidade, por crer que o assunto está extremamente em voga, nos dias de hoje. Para trabalhar o assunto de 1 Co. 6.9-10, postei um texto que defende que os termos malakoi e arsenokoitai não se referem a relações homossexuais em geral, mas sim a relações específicas, como prostituição ou a pederastia grega.

Como contraponto inicial, posto na íntegra texto da revista Ultimato que trata do assunto. A fonte pode ser acessada clicando aqui.

Os malakoi (homossexuais passivos) e os arsenokoitai (homossexuais ativos)


Há poucos dias, ativistas domovimento gay disseram num debate que a tradução Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil de 1 Coríntios, capítulo 6, verso 9 (“Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas”) está errada à luz do original grego.

Mas eles se equivocaram. A palavra grega malakoi significa de fato homossexuais passivos, que segundo Walter Bauer equivale a “homens e meninos que se permitem serem usados sexualmente”. Também “conota passividade e submissão”.1 Já arsenokoitai significa o contrário: homossexuais ativos, homens que iniciam práticas homossexuais. São também chamados de sodomitas, numa referência histórica ao comportamento homossexual generalizado de Sodoma e Gomorra (Gn 19.6).

A primeira palavra (malakoi) é traduzida por “efeminados” nas seguintes versões: Revista e Atualizada (RA) da SBB, Bíblia do Peregrino (BP), Tradução da CNBB, Tradução Brasileira (TB), Figueiredo, Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), Edição Pastoral (EP), Edição Pastoral-Catequética (EPC) e nas Cartas às Igrejas Novas (CIN). Já na Bíblia de Jerusalém (BJ) e na tradução da Comunidade de Taizé (CT), malakoi é traduzida como “depravados”.

A segunda palavra (arsenokoitai) é traduzida por “sodomitas” na RA, CNBB, EP, TB, Figueiredo e na CIN; por “pessoas de costumes infames” na BJ; por “homossexuais” na BP e CT; e por “devassos” na EPC. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) engloba os dois casos sob a classificação geral de “homossexuais”. Já a paráfrase da Bíblia Viva (BV) diz que os adúlteros, os efeminados e os sodomitas cometem “pecados sexuais”.

A tradução mais explícita é a da Nova Versão Internacional (NVI): “Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus” (1 Co 6.9-10).

Odayr Olivetti, um dos tradutores da NVI, explica que “a comissão procurou fazer uma tradução clara, distinguindo bem os termos, e se respaldou não só na abrangência geral dos termos gregos (que o pudor faz com que até os lexicógrafos reduzam ao mínimo suas explicações), mas também no contexto geral das epístolas paulinas. As expressões “passivos” e “ativos” salientam a abrangência dos que agem como homens e dos que agem como mulheres no intercurso sexual não-natural”.2

Paulo não termina o assunto com a expressão “não herdarão o reino de Deus”, mas com a espetacular notícia de que algumas de suas ovelhas em Corinto eram homossexuais passivos ou ativos, mas deixaram de ser depois que foram alcançados pela graça de Deus, o que pode acontecer também hoje em dia (1 Co 6.11).

Estudos teológicos sobre a homossexualidade na Bíblia - Parte I: 1 Coríntios 6.9-10

Boa tarde, pessoal, tudo bem? Bem, estou aqui aproveitando um tempo livre no trabalho para ler algumas notícias e informações sobre a homossexualidade e a Bíblia. Acredito que este tema será recorrente nos próximos tempos, e como percebo que o tema gera ainda muita dúvida e comoção no seio da igreja evangélica brasileira como um todo, resolvi abordar o assunto de forma corajosa, reproduzindo estudos teológicos que trabalham os dois lados da questão: Aqueles estudos que aceitam a homossexualidade como não sendo condenada na Bíblia, e aqueles estudos que confirmam a visão tradicional de que a relação homossexual é pecado.

Para iniciar este trabalho comparativo, iniciarei com um texto gentilmente fornecido por José Pierre em uma lista de discussão da qual participo. Este texto é da obra HOMOSSEXUALIDADE E A BÍBLIA de Yvette Dube (Tradução livre de José Luiz V. Silva) e é favorável a que a homossexualidade não seja considerada como pecado.

Para tal, esta obra trabalha o texto de 1 Co. 6.9-10, que diz: "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus."

Abaixo, segue transcrito o trabalho de Yvette Dube. Irei trazer outros, de ambos os lados, e os comentarei em tempo. Vamos à obra, apenas para exposição prévia:

1 Coríntios 6,9–10:
“Não sabeis que o ímpio não herdará o Reino de Deus? Não vos iludais. Nenhum destes herdará o Reino de Deus: o imoral, os idólatras, os adúlteros, malakoi, arsenokoitai, os ladrões, o ganancioso, os bêbados, os caluniadores nem os extorsionários herdarão o Reino de Deus”.

Paulo apresenta ao leitor uma lista daqueles que ele declara que não herdarão o Reino de Deus. A palavra no grego original parafraseada por ímpio é akidos e significa iníquo; por extensão, mau; por implicação, traiçoeiro; especialmente bruto: iníquo, pecaminoso.

Há duas palavras que certamente chamarão sua atenção de imediato: malakoi e arsenokoitai. Você não encontrará essas palavras em nenhuma tradução, você encontrará no entanto várias palavras e frases. O que eu mostrei acima são as palavras na língua original. A verdade é, ninguém sabe realmente com certeza que o as palavras significam, e, conseqüentemente, nem o que Paulo quis dizer realmente.

Comparando as palavras em diferentes traduções, você notará grandes variações em como estas palavras são definidas:

• Rei James: “nem afeminados nem abusadores de si mesmos com a humanidade”;
• Nova Rei James: “nem homossexuais, nem sodomitas”;
• Bíblia de Jerusalém: “nem os depravados, nem as pessoas de costumes infames”;
• Revisada Padrão (apenas uma palavra): “homossexuais”;
• Nova Internacional: “prostitutos masculinos; nem ofensores homossexuais;
• Contemporânea Inglesa: ”nem o que comporta-se como um homossexual”;
• Novo Testamento Inclusivo: “prostitutas e pederastas”;
• Oxford Comentada: “prostitutos masculinos, sodomitas”;
• Nova Versão Internacional (Edição 2002): “Nem homossexuais ativos e passivos”;
• Editora Ave Maria: “nem os efeminados, nem os devassos”;
• Sociedade Bíblica do Brasil (Edição 1969): “nem efeminados, nem sodomitas”;
• Sociedades Bíblicas Unidas: “nem adúlteros, nem effeminados (sic)”;
• Tradução Ecumênica da Bíblia: “nem os efeminados, nem os pederastas”;
• Reina Valera: “nem os efeminados, nem os que deitam com homens”.

É muito interessante que a Bíblia Contemporânea Inglesa usa a frase comporta-se como um homossexual. Se a censura é contra alguém que "comporta-se" como um homossexual, então os escritores desta tradução acreditam que as palavras não se referem nem se aplicam aos homossexuais, mas aos heterossexuais que se comportam (leia-se: engajam-se em comportamento homossexual) como homossexuais. Podia isto novamente ser uma referência ao templo de culto ou à prostituição em santuários? (Enquanto que a Nova Versão Internacional (Edição 2002, da editora Vida): “Nem homossexuais ativos e passivos”; é, no mínimo, mal intencionada...).

Por que uma tão larga gama de diferenças entre as traduções? As palavras são extremamente obscuras. Malakoi (ou malekos) aparece somente quatro vezes no Novo Testamento. Em três vezes significa fino ou macio, como quando Jesus a usou para falar de João Batista em Mateus 11,8: "... Mas que fostes ver? Um homem vestido em roupas finas (malekos)? Mas os que vestem roupas finas (malekos) vivem nos palácios dos reis" (VBJ). A outra vez onde a palavra aparece é na versão de Lucas deste mesmo discurso (7,25).

Enquanto que no Dicionário Strongs de Grego do Novo Testamento (Strongs Greek Dictionary of The New Testament) lemos como segue: malakos = macio (isto é, roupas finas); figurativamente, um afeminado, alguns dicionários gregos definem-na como significando moralmente fraco. Martinho Lutero traduziu-a como fraco (em corpo, mente ou caráter).

No Dicionário Vine, de Palavras do Novo Testamento (Vine’s Dictionary of New Testaments Words), se você procurar pela palavra macia, o livro mostra: Veja Efeminado. Lá você encontrará o original: malakos: macio, macio ao toque, fino, é usado como (a) roupa fina; (b) metaforicamente, em um mau sentido, "efeminado", não simplesmente de um macho que pratique formas de lascívia, mas das pessoas em geral que são culpadas de apego aos pecados da carne, voluptuosos.

Observe a palavra afeminado(s) usada tanto na Bíblia de Jerusalém como indicado acima, bem como no dicionário Strongs. Tom Horner, em seu livro Jônatas amou Davi (Jonathan Loved David), identifica efeminados como: "...os homens extremamente efeminados que transformaram a homossexualidade em uma profissão. Estes eram os efeminados, os prostitutos homossexuais da Grécia antiga, os assim chamados “cães sagrados” dos santuários cananeus, e os eunucos seguidores da deusa Cibele... Em algumas sociedades, tais como aquelas da antiga Frigia, os efeminados foram olhados com honra e respeito; mas na sociedade hebraica, em todos os períodos que conhecemos, não o eram". Outra vez encontramos a referência aos prostitutos de santuários, aqueles que se engajavam no sexo do mesmo gênero para o culto de ídolos.

Horner continua: "Na Grécia clássica, também, homens efeminados geralmente eram menosprezados. Por que? Porque representavam o oposto exato do tipo heróico ou nobre de amor que era muito admirado da época do Hércules legendário, que depois, na Roma imperial foi ligado eroticamente a dois homens (e numerosas mulheres) do imperador Adriano. Este modelo heróico foi idealizado como o mais nobre, e em alguns casos, romântico, tipo de amor. Em O Banquete, de Platão, é elogiado como a máxima expressão do amor físico (e espiritual, sinal de virtude). E, pelo contrário, sair com um efeminado era algo ordinário. Todo homem poderia fazê-lo; e em algumas sociedades quase todo homem o fez uma vez ou outra. Além disso, como o patriarcado aumentou seu domínio nas sociedades mediterrâneas orientais, o homem em que faltavam traços viris, como a fêmea a quem ele tão proximamente se assemelhou, foi mais e mais estigmatizado" (Páginas 22, 23).

A segunda palavra usada na passagem destacada, arsenokoitai (arsenokoites) é ainda mais obscura. Aparece somente duas vezes no Novo Testamento, aqui e em 1 Timóteo 1,10. Esta palavra é tão obscura que o dicionário Vine nem tenta defini-la. Em vez de uma definição, o dicionário dá as duas únicas passagens onde a palavra aparece. O dicionário Strongs usa: “um sodomita: abusador (que perverte) a si mesmo com a humanidade. Derivado de arsen = macho, homem, e kemai = mentir de forma contumaz”.



Rev. Robert Arthur, em seu livro Homossexualidade à Luz da Linguagem e Cultura Bíblicas (Homosexuality in the Light of Biblical Language and Culture), falando de cultos pagãos, escreve:
Era extremamente comum, portanto, encontrar deuses e deusas que recebiam presentes de apreciação e de adoração de seus adeptos sob a forma de atos sexuais. Para facilitar o oferecimento de tais presentes, homens e mulheres eram ligados (a templos) para receber estes presentes e tornaram-se conhecidos como prostitutos do templo (tanto homossexuais como heterossexuais). (...) A adoração da fertilidade deste tipo e expressões similares continuaram por pelo menos nos primeiros 100 anos da era cristã, em lugares tais como o templo de Diana em Éfeso. Na língua grega a palavra usada para os prostitutos do templo nestes lugares da adoração pagã era arsenokoites. Não foi antes de por volta de 200-250 da era cristã que uma homofobia marcante (...) começou a rastejar na Teologia. Por esta época, a adoração cultual do sexo começou a morrer e a palavra usada por Paulo para descrever os prostitutos do templo estava começando a tornar-se obsoleta. É importante observar que (...) ao tempo de Cristo a palavra de uso comum que significava ´homossexualidade´ era homophilia. (...) Esta palavra foi usada na língua grega até bem depois da época da morte de Paulo. Mas esta palavra nunca foi usada nas Escrituras.

Padre John McNeill, sacerdote jesuíta, em seu trabalho A igreja e o Homossexual (The Church and the Homosexual), escreve que o uso da palavra, no segundo século, na Apologia de Aristides, parece indicar que significa um corruptor obsessivo de meninos. Do mesmo modo, o professor Robin Scroggs, do Seminário Teológico de Chicago, em seu livro, Novo Testamento e Homossexualidade (New Testament and Homosexuality), posiciona-se que ambas as palavras – malekos e arsenokoites – referem-se aos parceiros ativos e passivos na prática grega da pederastia, a qual não deve de modo algum ser confundida com homossexualidade. Pederastia é a molestação de crianças, pura e simplesmente. Um relacionamento ‘pederástico’ existe entre um amante (geralmente um homem maduro), e o amado, um garoto jovem o bastante para ainda ser imberbe. O amante era sempre o parceiro ativo; o amado era solicitado a ser passivo. Nem todo relacionamento era sexual em sua natureza, mas quase todos o eram. O amado não devia ser sexualmente satisfeito, o que era prerrogativa exclusiva do amante apenas. Quando o amado tornava-se velho o bastante para ter barba e por outro lado tornar-se mais viril, era trocado por uma pessoa mais nova. A razão para isto era porque o ideal era um menino que se assemelhasse a uma mulher. Os meninos deveriam depilar os pelos faciais, deixar seu cabelo crescer, alguns até usavam maquiagem. O professor Scroggs sustenta que este menino era o malekos, e o adulto, o arsenokoites, referidos nesta passagem da Escritura Sagrada.

Enquanto que a pederastia parece ser, equivocadamente, homossexual por natureza, a realidade é que as pessoas engajadas nessa atividade eram, para a maioria das pessoas, heterossexuais. A pederastia era considerada apropriada ao treinamento de um menino para a masculinidade. O relacionamento não era permanente, durando somente o tempo em que o garoto mantinha sua aparência jovem. Não havia nenhuma mutualidade, nenhuma satisfação ou prazer mútuo, e o garoto era desumanizado, usado pelo amante como uma coisa, não como uma pessoa para amar e estimar. Por outro lado, o amado recebia regularmente presentes do amante. O amado, por sua vez, freqüentemente tornava-se o amado de diversos amantes, todos os mais lucrativos para ele, tornando-se, finalmente, um prostituto masculino, por tanto tempo quanto sua beleza resistisse.

Pederastia, ainda que culturalmente aceita, era moralmente errada em muitos aspectos, como demonstrado acima. Não pode de maneira alguma ser interpretada como uma descrição da homossexualidade, que é o amor emocional, espiritual, romântico, afetivo, de dedicação mútua, e sexual, entre parceiros mútuos do mesmo gênero.

A Nova Bíblia Comentada de Oxford, publicada em 2001 e considerada um dos comentários mais autorizados de todas as Bíblias, oferece a seguinte nota de rodapé para os versículos destacados:

“Os termos gregos traduzidos como prostitutos masculinos e sodomitas não se referem aos "homossexuais", como em inapropriadas traduções mais antigas; "masturbador" e prostitutos masculinos podem ser uma melhor tradução”.

COMENTÁRIO: Marta Suplicy propõe aditamento à PLC 122 para apaziguar ânimos dos cristãos

Nesta semana, surgiram inúmeras notícias sobre a questão do tratamento à população LGBT pelo nosso governo e por nossos códigos de leis. Anteriormente, trabalhei a questão da suspensão da distribuição de kits anti-homofobia nas escolas de nível médio, em troca da não-convocação do Ministro da Casa Civil para prestar esclarecimentos quanto ao seu aumento patrimonial.

Ao mesmo tempo, surgiu a notícia de que a ministra Marta Suplicy, que tentou desenterrar o PLC 122 para ser votado no Senado Federal, após ser combatida pela bancada evangélica do Senado, decidiu propor um novo artigo para a referida lei, dizendo que esta não seria válida para manifestações religiosas. Alguns sites colocam como redação para este aditivo o seguinte: “O disposto no capítulo deste artigo não se aplica à manifestação pacífica de pensamento fundada na liberdade de consciência e de crença de que trata o inciso 6° do artigo 5° (da Constituição)”.

Diz o inciso VI do art. 5º de nossa Constituição Federal:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

O problema da proposta da senadora Marta Suplicy reside em uma questão: Alguns defensores do PLC dizem que o inciso VI apenas protege a liberdade de crença dentro dos locais de culto. Esta era a mesma premissa da época do Império (Constituição de 1824), quando pessoas somente podiam professar outra religião diferente da católica se a fizessem dentro de suas casas e sem caracterização de templo religioso. Ou seja, seria permitido apenas que um religioso professasse sua condenação ao homossexualismo dentro de seu templo. Qualquer lugar externo, porém, seria proibido se expressar tal ideia. Ou seja, o PLC não permitiria que o assunto fosse abordado na mídia, seja via jornal, programas de TV e rádio. Isso daria ao movimento LGBT total e irrestrita liberdade de pregar suas práticas, sem contestação, nos meios de difusão de massa.

Apesar desta questão grave de interpretação, o aditivo proposto pela ministra já é um avanço em relação à proposta original. Se for mantido de fora o direito de expressão por parte de clérigos e pastores no ambiente religioso, várias preocupações da igreja seriam sanadas, em especial a prisão de pastores por suas pregações e a demissão em massa de ministros que, por não aceitarem se dobrar à lei dos homens, fossem mandados embora por igrejas temerosas das multas que poderiam receber.

Como a redação está estranha e, no meu entendimento, incompleta, precisamos ficar atentos, pois quaisquer vacilos na análise desta lei podem trazer gravíssimas consequências para a igreja e para a classe ministerial em nosso país.

COMENTÁRIO: Dilma veta distribuição de "kits anti-homofobia" às escolas

Fonte: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2011/05/dilma-rousseff-manda-suspender-kit-anti-homofobia-diz-ministro.html

Eu sempre detestei as maquinações políticas em nosso país. Talvez esta fúria venha do fato de ver que ninguém está acima do poder do dinheiro (vide os inúmeros líderes evangélicos que caíram no infame esquema das ambulâncias, anos atrás). Como pago altos impostos e não vejo retorno de nosso governo em termos de serviços públicos de qualidade, esta fúria aumenta ainda mais, por conta da sensação que tenho de que a carga tributária que arco com meu estilo de vida acaba indo, na verdade, para os bolsos dos poderosos de nosso país.

Por conta disso, a notícia que surgiu na internet hoje, de que a presidente Dilma Rousseff teria vetado a distribuição dos kits anti-homofobia nas escolas públicas de nosso país, em uma possível troca pela não-convocação do Ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, a depor sobre seu aumento patrimonial nos últimos anos, me deixa completamente dividido. Dividido entre a alegria de saber que um mal que estava brotando em nossas escolas foi debelado e a tristeza de saber que uma situação que merece explicações vai acabar sendo jogada para baixo do tapete.

Para quem não sabe sobre a história dos kits, no começo deste ano, o MEC aprovou a exibição a rede pública de ensino médio de nosso país, de três vídeos que abordam a temática homossexual. Em um dos polêmicos vídeos, feito por uma ONG, seria mostrado o relacionamento entre duas meninas como algo natural. Além destes vídeos, o kit apresentaria materiais para discussão do tema nas salas de aula, tendo como intenção diminuir a intensidade da homofobia em nosso país, reduzindo, desta forma, a quantidade de crimes contra a população homossexual em nosso território.

Eu, particularmente, não tenho nada contra a pessoa do homossexual, tanto é que defendo que ela seja tratada como um indivíduo igual a todos perante a lei nacional. Porém, não posso aceitar, por razões de fé, o relacionamento homossexual como algo natural do ser humano. O debate sobre os diversos textos bíblicos que tratam sobre o assunto é vasto e pretendo, um dia, abordá-los com a calma e atenção merecidas pelo tema. Porém, os poucos textos que já trabalhei a fundo não dão outra margem de interpretação que não seja a condenação total do homossexualismo pela Bíblia, livro que sigo como regra de fé e prática.

Tendo isso em vista, sempre vi com muito ceticismo a forma como o MEC trabalharia a educação de nossas crianças com relação a este tema. Como trabalhar esta questão, se as escolas não ensinam os alunos a agirem como cidadãos, respeitando os direitos do próximo? A antiga aula de EMC (Educação Moral e Cívica) ajudava em muito nesse sentido, mas ela sempre foi vista como uma matéria menor, que não merecia ser estudada ou ensinada em nossas escolas. Somente agora, com estudos sobre filosofia e sociologia retornando às escolas, as coisas começam a mudar, porém a EMC sempre trazia conteúdos mais práticos e precisos, que ajudavam o jovem a se portar na sociedade.

Em todo caso, as notícias iniciais, de que este kit seria exibido e trabalhado entre crianças do ensino fundamental, me chocaram. Eu sempre fui defensor de que criança deve agir e ser tratada como criança. Entretanto, nossa sociedade entrou numa era de antecipação dos valores e educação, novamente retirando de nossas crianças o direito de serem crianças. As crises da adolescência aparecem cada vez mais cedo. Crianças de 8, 9 anos de idade, já são bombardeadas pela sexualidade pregada pela mídia, e educá-las sobre a homossexualidade tão cedo apenas ajudaria a criar confusão na cabeça destas crianças, especialmente por, nesta fase, elas ainda darem preferência a brincarem e conviverem com indivíduos do mesmo sexo (o despertar para o sexo oposto costuma ocorrer entre os 9 e os 12 anos, com a chegada da puberdade). Logo, ao ler a notícia do veto à distribuição dos kits, fiquei mais tranquilo, com a esperança de um melhor planejamento para a abordagem sobre o tema por parte da sociedade.

Entretanto, ver a troca que foi feita pelos nossos políticos para impedir que este kit fosse distribuído me embrulhou o estômago. Acobertar um possível ilícito para conseguir o veto presidencial à distribuição dos kits é algo que jamais seria aceito por Jesus Cristo. Tal manobra chega a demonstrar a falta de fé que nossos políticos cristãos possuem na atuação do Espírito Santo e da igreja na tentativa de manter valores de família tradicionais na mente de nossa sociedade. É fato que a luta é grande. É fato que as novelas atuais fazem questão de destruir a família tradicional como a conhecemos. É fato que a luta no ramo político é necessária, tendo em vista a movimentação do grupo LGBT neste campo. Porém, não posso aceitar com bons olhos tal manobra. Simplesmente não posso.

Em todo caso, como tenho dito, a maior luta contra o fim da liberdade de expressão em nosso país, hoje, é o PLC 122, que tenho trabalhado aqui em nosso blog. É este PLC que pode, dependendo de sua redação, botar uma mordaça na boca de nós, pastores, que ainda defendem que o homossexualismo não pode ser enquadrado na Bíblia como um meio de vida natural, mas sim pecaminoso. E mesmo em relação a este PLC, a luta deve ser feita de forma ética, e nunca se utilizando de subterfúgios políticos para garantir que os interesses da população cristã sejam alcançados.

terça-feira, 24 de maio de 2011

As transições da juventude. Parte III: Os jovens casais

Hoje, estou terminando minha série de comentários e estudos sobre a juventude cristã atual e os desafios enfrentados pela igreja contemporânea para atrair estes jovens às atividades eclesiásticas. Meu intuito, como disse desde o começo, não foi ser o dono da verdade. De fato, creio que estas reflexões me ajudaram a pensar mais sobre meu ministério e como ser mais efetivo no trabalho com esta faixa da igreja. São, primeiramente, reflexões pessoais, oriundas de alguns anos de visão analítica dos jovens de minha própria igreja e de outras comunidades cristãs.

Como sabemos, uma das maiores ânsias do jovem cristão é constituir família. Esse desejo ultrapassa em muito a vontade de pessoas não-religiosas de se casarem por conta da vedação do sexo antes do casamento e por causa do texto paulino em que o autor declara que é melhor ao casal se casar do que abrasar (1 Co. 7.9). Por causa disso, é costumeiro encontrarmos casais muito jovens em nossas igrejas, com cônjuges entre 20 e 25 anos.

Os problemas começam a surgir quando um dos membros do casal não tem os mesmos interesses do que o outro. Isso é muito comum, devido à educação e persondalidades diferentes de cada cônjuge. No entanto, o que causa frustração em muitos casais cristãos é que existem diferenças de interesses espirituais entre os dois, e aqui surgem os problemas: Por conta destas diferenças, muitos jovens acabam impossibilitados de participarem das atividades programadas pela igreja para a juventude. É impressionante a quantidade de jovens que, por exemplo, abandonam a EBD porque seus maridos ou esposas não desejam acordar cedo no domingo.

Esta questão começa a se agravar quando a igreja começa a demandar estes jovens a participarem das suas atividades. Muitos jovens, pressionados, acabam deixando aquela comunidade e buscando outra, onde podem se ocultar na multidão. Não sendo cobrados, os casais geram menos situações de conflito, o que é sempre benéfico para a entidade familiar. Somando isso ao discurso de muitos pastores (discurso correto, na minha opinião, porém mal interpretado), de que a família deve sempre vir antes da igreja, e acabamos vivendo uma situação de afastamento e até esfriamento espiritual por parte de muitos casais cristãos.

O problema se torna ainda pior quando surgem os filhos. Nesse momento, muitos casais se veem em uma situação de abandono na igreja, pois não têm, muitas vezes, onde deixar seus filhos, fazendo com que não possam participar das atividades jovens porque precisam cuidar e dar atenção a suas crianças. Como fazer as crianças acordarem cedo também é um problema em muitas famílias, hoje em dia, é fácil perceber que a quantidade de jovens casais com filhos frequentando a EBD é bem menor do que a quantidade de jovens casais na igreja como um todo.

Existem inúmeras soluções que podem ajudar a igreja a trabalhar este grupo de pessoas. Entre algumas que me veem à cabeça, vejo as seguintes:

1) Tratar os jovens casados como um grupo diferente da juventude: Este é o primeiro passo, para se evitar frustrações de todos os lados. Os jovens casados, por mais que tenham uma mentalidade jovial, possuem interesses diferentes dos jovens solteiros e dos adolescentes. Desta forma, o líder de juventude deve deixar o trabalho com casais para outros líderes e focar seus esforços no grupo que está ao seu alcançe.

2) Criar programas e atividades específicas para este grupo: Hoje em dia, as igrejas que mais crescem são aquelas que diversificam e fortalecem seus ministérios. O ministério de jovens casais é vital neste sentido, pois ajuda a unir os casais em torno de seus assuntos de interesse. Programas culturais, congressos, encontros de casais, pequenos grupos de comunhão, são estratégias que dão muito certo para atrair pessoas deste segmento.

3) Trabalhar em conjunto com o Ministério Infantil: Toda e qualquer atividade para os jovens casais deve ser pensada em conjunto com o Ministério Infantil, para que os filhos destes jovens casais tenham algo para fazer enquanto os pais aproveitam as atividades. Por mais que seja um pequeno grupo no lar de alguém, pelo menos uma ou duas pessoas devem ficar responsáveis por distrair as crianças enquanto os adultos participam da reunião.

Por fim, uma excelente estratégia para atrair jovens casais à igreja é investir fortemente no Ministério Infantil. As igrejas que mais atraem jovens famílias são aquelas que possuem infra-estrutura para receber, distrair e educar os filhos destes casais durante a realização dos cultos e de outras atividades. Muitas igrejas, hoje, investem em salas de aula, parquinhos, aparelhos audio-visuais e corais para atrair as crianças à igreja. Com as crianças se encantando pela igreja, os pais acabarão seguindo-os, resultando em uma nova família tendo a oportunidade de ouvir sobre Jesus.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Revelação (Aula 4/5 - Declaração Doutrinária CBB)

Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira

I- Escrituras Sagradas
A Bíblia é a palavra de Deus em linguagem humana.1 É o registro da revelação que Deus fez de si mesmo aos homens.2 Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo.3 Tem por finalidade revelar os propósitos de Deus, levar os pecadores à salvação, edificar os crentes, e promover a glória de Deus.4 Seu conteúdo é a verdade, sem mescla de erro, e por isso é um perfeito tesouro de instrução divina.5 Revela o destino final do mundo e os critérios pelo qual Deus julgará todos os homens.6 A Bíblia é a autoridade única em matéria de religião, fiel padrão pelo qual devem ser aferidas as doutrinas e a conduta dos homens.7 Ela deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo.8

1 Sl 119.89; Hb 1.1; Is 40.8; Mt 24.35; Lc 24.44,45; Jo 10.35; Rm 3.2; 1Pe 1.25; 2Pe 1.21
2Is 40.8; Mt 22.29; Hb 1.1,2; Mt 24.35; Lc 24.44,45; 16.29; Rm 16.25,26; 1Pe 1.25
3 Ex 24.4; 2Sm 23.2; At 3.21; 2Pe 1.21
4 Lc 16.29; Rm 1.16; 2Tm 3.16,17; 1Pe 2.2; Hb 4.12; Ef 6.17; Rm 15.4
5 Sl 19.7-9; 119.105; Pv 30.5; Jo 10.35; 17.17; Rm 3.4; 15.4; 2Tm 3.15-17
6 Jo 12.47,48; Rm 2.12,13
7 2Cr 24.19; Sl 19.7-9; Is 34.16; Mt 5.17,18; Is 8.20; At 17.11; Gl 6.16; Fp 3.16; 2Tm 1.13
8 Lc 24.44,45; Mt 5.22,28,32,34,39; 17.5; 11.29,30; Jo 5.39,40; Hb 1.1,2; Jo 1.1,2,14

As transições da juventude. Parte II: Os vinte e poucos

Na semana passada, tive a oportunidade de trabalhar a questão da transição da criança para a adolescência e os desafios que isso traz para as igrejas cristãs modernas. Hoje, iremos trabalhar a fase posterior de desenvolvimento do ser humano, a juventude dos vinte e poucos anos, época em que a fé do cristão é mais atacada.

Hoje em dia, é sabido e notório que o período dos vinte e poucos anos são os piores para os cristãos. É nessa época que o indivíduo cristão tem uma interação maior com a sociedade: Faculdade e estágio são dois novos locais de contato com pessoas do mundo, e os desafios passam a ser maiores, pois não há mais a supervisão constante dos pais e, com isso, o jovem se vê sozinho, tendo que enfrentar a nova cena de total e irrestrita liberdade de ofertas para o jovem cair no mundo: Festas, bebidas, drogas, sexo, tudo muito liberado e aberto.

Envolvido por toda esta gama de ofertas, é muito comum o jovem se deixar levar por elas, na tentativa de encontrar o seu espaço na sociedade. É nesse momento que as amizades tornam-se mais perigosas, pois a tendência é encontrar jovens com educação totalmente liberal, onde os pais não se importam com quem seus filhos estão andando, desde que tirem notas boas na faculdade e caminhem em direção ao diploma.

Ao mesmo tempo, é nessa fase em que os jovens começam a ser não só questionados, mas afrontados sobre sua fé. São vários os professores universitários que se divertem às custas das crenças e visões de mundo dos cristãos, fazendo afirmações audaciosas sobre a não-existência de Deus, sempre baseando-se em frases prontas de filósofos ateus ou nos conhecimentos científicos adquiridos. Com medo do embate por não quererem ser afetados nas provas e avaliações, muitos jovens se calam, ocultando a sua fé ou mesmo questionando-a.

O conjunto desse cenário acaba levando uma quantidade enorme de jovens de simplesmente abandonarem a sua fé, preferindo entregar-se de corpo e alma à vida de prazeres que o mundo lhes oferece. Muitos o fazem crendo que poderão se entregar à vida religiosa quando forem mais velhos, ou quando constituírem famílias. Outros simplesmente preferem se rebelar contra o passado, crendo que agora são verdadeiramente "livres" para agir como desejarem, em vez de seguirem as regras de conduta de suas antigas comunidades de fé.

Nos dias de hoje, enfrentar este cenário é um grande desafio para qualquer líder. Tanto é que os ministérios de jovens são, em geral, os mais esvaziados em nossas igrejas. Conheço uma igreja de cerca de mil membros que, por exemplo, não consegue colocar mais do que vinte alunos em uma classe matutina de EBD. Isso é um sintoma das igrejas de hoje: Os jovens querem farra, os ministérios sofrem. O mais duro é ver os adolescentes, criados na igreja, deixando-a aos poucos quando chegam à maioridade. Alguns ainda perduram, mas a maioria acaba deixando de lado o compromisso com a obra do Senhor.

Buscar soluções para esse problema é um grande desafio. Penso, porém, que os pequenos grupos de estudo e comunhão são uma boa saída. Nessa fase, o indivíduo precisa ser mais estimulado pelos seus colegas de mesma idade a manter uma vida digna, longe dos excessos e vícios do mundo. Os pequenos grupos dão ao jovem a plataforma para poder debater os seus problemas e encontrar, dentro do grupo, os laços comunitários que irão ajudá-lo a enfrentar as dificuldades da vida.

Outra solução que penso ser boa é o estímulo ao jovem de participar de eventos coletivos, como congressos, retiros e louvorzões. Em eventos coletivos, os jovens podem conhecer e encontrar outras pessoas que pensam como ele, vivem como ele, enfrentam as mesmas lutas que ele. Dessa forma, com esse diálogo, os jovens conseguem renovar as forças para enfrentar os problemas e as lutas diárias.

Por fim, penso que o acompanhamento pastoral deve ser constante. Aqui, porém, abro o leque do significado do termo "pastoral" para todos os outros jovens engajados na igreja. O maior problema que pode acontecer com um jovem é ele se sentir afastado do convívio dos colegas. Isso o faz se sentir "envergonhado" de voltar ao convívio dos seus pares. O cuidado dos outros jovens com os afastados acaba gerando ótimas oportunidades de resgate daqueles jovens que estão começando a deixar o convívio eclesiástico para se jogarem no mar de pecado que o mundo oferece. As redes sociais ajudam a manter este contato. Escolha alguns jovens na sua comunidade para fazer este trabalho de acompanhamento, mantendo conversas por MSN ou contato via Orkut e Facebook. A internet, nesta fase, pode ser uma importante arma de manutenção de contato com esses jovens.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Revelação Especial (Instituto da Bíblia - Aula 3/5 - Base Histórica)

Assim como a temática da revelação geral, a revelação especial também foi tema de discussão dos teólogos desde o início da Igreja:

Pais da Igreja: Desde o início da igreja, os teólogos precisaram defender a fé cristã dos movimentos heréticos, como o movimento gnóstico e outros. Desde o começo, os pais da igreja se utilizavam da Bíblia para defender suas posições. Usavam isso porque acreditavam que tanto o Antigo Testamento quanto os novos escritos que estavam surgindo eram inspirados por Deus, e por isso eram os únicos escritos com total autoridade e veracidade para defender a fé da igreja. Justino de Roma (não é Justino Mártir) costumava apresentar citações do NT com a expressão “está escrito”, dando autoridade a eles.

O problema surgiu quanto estas seitas heréticas começaram a apresentar defesas de suas visões também baseando-se na Bíblia. Por exemplo, Marcião, defensor da ideia de que o Deus dos cristãos era completamente diferente do Deus dos judeus e não poderia fazer “maldades”, criou um cânon de escrituras inspiradas, baseando-se em João, as epístolas paulinas e Hebreus (Marcião defendia que Hebreus tinha sido escrito por Paulo).

Pensando em combater esta situação, Ireneu (130-202) defende que, além das Escrituras Sagradas, a doutrina da igreja seja regida pela Tradição da Igreja, ou seja, a interpretação historicamente reconhecida das escrituras por parte dos apóstolos e seus discípulos posteriores (os Pais Apostólicos). Irineu, diga-se por sinal, foi educado por Policarpo (69-155), tendo trabalhado muito com o pensamento de Policarpo para defender a igreja das heresias da época. Porém, há estudiosos que defendam que Ireneu apenas usou a Tradição da Igreja como apoio para a defesa das doutrinas da Igreja contra as heresias e que, para ele, a Tradição da Igreja era confirmada e derivada das escrituras.

Foi também Ireneu que começou a falar livremente em um “Novo Testamento”, em paralelo com o Antigo . A partir daqui, a nomenclatura de Novo Testamento para os escritos apostólicos tornou-se comum, baseando-se no texto de 2 Co. 3.14, quando Paulo designa as escrituras judaicas de “Antiga Aliança”.

A importância dada pela igreja aos escritos apostólicos chega ao ápice em Agostinho, que fala em diversos momentos sobre a importância das escrituras para ele, como “O que a minha escritura diz, eu digo” e “Estes livros são obra dos dedos de Deus. Foram compostos por inspiração do Espírito Santo aos santos”.

O grande problema para a defesa da fé cristã no começo da igreja era saber quais eram os livros que deveriam ser utilizados para a defesa da fé cristã. Os apóstolos não deixaram uma lista de livros considerados inspirados por Deus, por isso houve uma certa confusão no começo da igreja sobre quais livros deveriam ser considerados inspirados e quais deveriam ser descartados. Sabemos, hoje, que centenas de livros foram escritos com base na história de Cristo ou dos apóstolos. Porém, apenas alguns foram considerados verdadeiramente inspirados, e mesmo assim houveram controvérsias em vários momentos, devido aos critérios a serem adotados.

Hoje, sabemos que as epístolas paulinas só foram reunidas no final do primeiro século, enquanto que os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas foram reunidos por volta de 150. Depois deste momento, em várias fases da igreja tivemos tentativas de formar um cânon, um grupo de livros inspirados por Deus:

200: Cânon Muratoriano (usado pela Igreja de Roma no seu começo): Não tinha Hebreus, 1 e 2 Pedro, 3 João, continha Apocalipse de Pedro e Sabedoria de Salomão. Além disso, para uso reservado, não em culto público, recomendava-se a leitura de “O Pastor de Hermas”.

250: Orígenes: Não tinha 2 Pedro, 2 e 3 João. De autoria disputada: Hebreus, Tiago, 2 e 3 João, Judas, Pastor de Hermas, Epístola de Barnabé, Didaquê, Evangelho aos Hebreus.

300: Eusébio de Cesaréia: Igual ao de Orígenes. Apocalipse posto em dúvida. Disputados, mas bem conhecidos pela igreja: Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas. Excluídos: Pastor de Hermas, Epístola de Barnabé, Evangelho aos Hebreus, Apocalipse de Pedro, Atos de Pedro, Didaquê.

400: NT reconhecido pelo Ocidente no Concíio de Cartago: Nosso cânon atual.
Os critérios de reconhecimento da inspiração de um livro foram: Apostolicidade, Reconhecimento de sua autoria pela igreja primitiva, Harmonia com os livros sobre os quais não tinham dúvidas.

Igreja Católica: Para a ICAR, oficialmente, Deus se revelou através dos profetas, apóstolos e Jesus Cristo nas Escrituras Sagradas, que são inerrantes. Porém, devido ao surgimento de diversas doutrinas estranhas (como o purgatório, por exemplo), a Igreja teve que se justificar, e o fez criando a ideia da Tradição Oral Apostólica, que seria um grupo de ensinos não-escritos dos apóstolos, que a Igreja teria adotado e mantido mediante a sucessão de Pedro e Paulo aos bispos posteriores de Roma. Esta tradição, apesar de “apostólica”, tem sua autoridade regida pela igreja, formada por seus bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma (o papa).

O efeito prático disso, segundo Ferreira , é que o magistério da igreja católica se torna a autoridade final. “O povo católico é obrigado a crer que o que essa igreja diz é a verdade. Em vez de sola scriptura, a prática católica é sola ecclesia. Isso apesar de reivindicar que ela é serva da revelação de Deus”.

Eventualmente, em reação à Reforma Protestante, a Igreja Católica se reuniu em 1545, na cidade de Trento, onde tomou diversas decisões para combater os novos ensinos de Lutero e outros. No tocante à revelação especial, especificamente, a ICAR afirmou que a versão latina da Bíblia, a Vulgata, era suficiente para quaisquer debates a respeito da fé, e aceitou como inspirados os chamados “livros deuterocanônicos”, que aparecem hoje na versão católica da Bíblia.

Reformadores e Tradição Evangélica: Lutero trouxe de volta a ideia de que a Bíblia era a única e suficiente fonte de autoridade para formação das doutrinas da igreja. Para dar ao povo a chance de aprender sobre Cristo sem ter que passar pela igreja, iniciou um audacioso projeto de tradução da Bíblia, porém o fez a partir dos textos originais hebraico e grego, completando sua versão alemã da Bíblia pouco antes de falecer.

Além da tradução da Bíblia ao alemão a partir dos idiomas originais, Lutero combateu a hermenêutica católica tradicional, chamada de Alegoria. Esta forma de interpretação da Bìblia ditava que o texto tinha segregos que iam além do que o texto dizia e que cabia à Igreja dizer onde estavam estes segredos. Daí surgiu, por exemplo, a ideia de que Cantares era um livro profético do casamento de Cristo com sua noiva, a Igreja. Para Lutero, o centro da interpretação da Bíblia deveria ser Cristo.

Sobre a correta interpretação das Escrituras, Lutero baniu a ideia de um líder ou um colegiado unicamente capazes de interpretar a Bíblia, afirmando que o texto sagrado era claro o suficiente para ser entendido, e que o Espírito Santo poderia guiar a pessoa no processo de interpretação individual da Palavra de Deus. Calvino concordou com esta ideia, afirmando que a Bíblia tinha sua autoridade confirmada no interior do homem pelo próprio Espírito Santo. Porém, ele combateu a noção anabatista de que o poder do Espírito poderia substituir a Palavra Escrita.

Pensamentos posteriores:

Ceticismo iluminista e liberalismo moderno: Não há como haver revelação especial, nem há necessidade nela. Os milagres são impossíveis, logo uma revelação divina também seria. Segundo Hume, as leis da natureza são absolutas e invioláveis. Kant, por outro lado, afirma que Deus existe numa esfera diferente da nossa e não há comunicação entre a Sua esfera de existência (o númeno), e a nossa. Já no séc. XIX, filósofos como Feuerbach, Freud, Marx e Nietzsche negaram a própria existência de Deus.

Neo-ortodoxia: Barth refuta uma inspiração “literal” da Bíblia, defendendo uma inspiração “verbal” no sentido de ser testemunhada pelo Verbo, Jesus. Porém, as palavras de Deus não teriam equivalente humano, por isso não poderiam estar contidas na Bíblia. Ele teria, porém, inspirado homens a escreverem os escritos sagrados. Ele também afirma que a Bíblia é autoridade por uma questão de confissão, de fé.

Fundamentalismo e a inerrância: Em uma resposta extremada ao movimento liberal, o movimento fundamentalista americano defendeu, no começo do séc. XX, a inerrância literal da Bíblia, ou seja, que não havia nenhum erro em qualquer linha da Palavra de Deus, seja teologicamente ou cientificamente. Para eles, esta era uma questão de fé.

A questão da inerrância foi debatida extensamente ao longo do séc. XX, com alguns defendendo que a Bíblia era literalmente inerrante e outros defendendo que ela era inerrante somente em seus ensinos salvíficos.