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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Estudos teológicos sobre a homossexualidade na Bíblia - Parte I: 1 Coríntios 6.9-10

Boa tarde, pessoal, tudo bem? Bem, estou aqui aproveitando um tempo livre no trabalho para ler algumas notícias e informações sobre a homossexualidade e a Bíblia. Acredito que este tema será recorrente nos próximos tempos, e como percebo que o tema gera ainda muita dúvida e comoção no seio da igreja evangélica brasileira como um todo, resolvi abordar o assunto de forma corajosa, reproduzindo estudos teológicos que trabalham os dois lados da questão: Aqueles estudos que aceitam a homossexualidade como não sendo condenada na Bíblia, e aqueles estudos que confirmam a visão tradicional de que a relação homossexual é pecado.

Para iniciar este trabalho comparativo, iniciarei com um texto gentilmente fornecido por José Pierre em uma lista de discussão da qual participo. Este texto é da obra HOMOSSEXUALIDADE E A BÍBLIA de Yvette Dube (Tradução livre de José Luiz V. Silva) e é favorável a que a homossexualidade não seja considerada como pecado.

Para tal, esta obra trabalha o texto de 1 Co. 6.9-10, que diz: "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus."

Abaixo, segue transcrito o trabalho de Yvette Dube. Irei trazer outros, de ambos os lados, e os comentarei em tempo. Vamos à obra, apenas para exposição prévia:

1 Coríntios 6,9–10:
“Não sabeis que o ímpio não herdará o Reino de Deus? Não vos iludais. Nenhum destes herdará o Reino de Deus: o imoral, os idólatras, os adúlteros, malakoi, arsenokoitai, os ladrões, o ganancioso, os bêbados, os caluniadores nem os extorsionários herdarão o Reino de Deus”.

Paulo apresenta ao leitor uma lista daqueles que ele declara que não herdarão o Reino de Deus. A palavra no grego original parafraseada por ímpio é akidos e significa iníquo; por extensão, mau; por implicação, traiçoeiro; especialmente bruto: iníquo, pecaminoso.

Há duas palavras que certamente chamarão sua atenção de imediato: malakoi e arsenokoitai. Você não encontrará essas palavras em nenhuma tradução, você encontrará no entanto várias palavras e frases. O que eu mostrei acima são as palavras na língua original. A verdade é, ninguém sabe realmente com certeza que o as palavras significam, e, conseqüentemente, nem o que Paulo quis dizer realmente.

Comparando as palavras em diferentes traduções, você notará grandes variações em como estas palavras são definidas:

• Rei James: “nem afeminados nem abusadores de si mesmos com a humanidade”;
• Nova Rei James: “nem homossexuais, nem sodomitas”;
• Bíblia de Jerusalém: “nem os depravados, nem as pessoas de costumes infames”;
• Revisada Padrão (apenas uma palavra): “homossexuais”;
• Nova Internacional: “prostitutos masculinos; nem ofensores homossexuais;
• Contemporânea Inglesa: ”nem o que comporta-se como um homossexual”;
• Novo Testamento Inclusivo: “prostitutas e pederastas”;
• Oxford Comentada: “prostitutos masculinos, sodomitas”;
• Nova Versão Internacional (Edição 2002): “Nem homossexuais ativos e passivos”;
• Editora Ave Maria: “nem os efeminados, nem os devassos”;
• Sociedade Bíblica do Brasil (Edição 1969): “nem efeminados, nem sodomitas”;
• Sociedades Bíblicas Unidas: “nem adúlteros, nem effeminados (sic)”;
• Tradução Ecumênica da Bíblia: “nem os efeminados, nem os pederastas”;
• Reina Valera: “nem os efeminados, nem os que deitam com homens”.

É muito interessante que a Bíblia Contemporânea Inglesa usa a frase comporta-se como um homossexual. Se a censura é contra alguém que "comporta-se" como um homossexual, então os escritores desta tradução acreditam que as palavras não se referem nem se aplicam aos homossexuais, mas aos heterossexuais que se comportam (leia-se: engajam-se em comportamento homossexual) como homossexuais. Podia isto novamente ser uma referência ao templo de culto ou à prostituição em santuários? (Enquanto que a Nova Versão Internacional (Edição 2002, da editora Vida): “Nem homossexuais ativos e passivos”; é, no mínimo, mal intencionada...).

Por que uma tão larga gama de diferenças entre as traduções? As palavras são extremamente obscuras. Malakoi (ou malekos) aparece somente quatro vezes no Novo Testamento. Em três vezes significa fino ou macio, como quando Jesus a usou para falar de João Batista em Mateus 11,8: "... Mas que fostes ver? Um homem vestido em roupas finas (malekos)? Mas os que vestem roupas finas (malekos) vivem nos palácios dos reis" (VBJ). A outra vez onde a palavra aparece é na versão de Lucas deste mesmo discurso (7,25).

Enquanto que no Dicionário Strongs de Grego do Novo Testamento (Strongs Greek Dictionary of The New Testament) lemos como segue: malakos = macio (isto é, roupas finas); figurativamente, um afeminado, alguns dicionários gregos definem-na como significando moralmente fraco. Martinho Lutero traduziu-a como fraco (em corpo, mente ou caráter).

No Dicionário Vine, de Palavras do Novo Testamento (Vine’s Dictionary of New Testaments Words), se você procurar pela palavra macia, o livro mostra: Veja Efeminado. Lá você encontrará o original: malakos: macio, macio ao toque, fino, é usado como (a) roupa fina; (b) metaforicamente, em um mau sentido, "efeminado", não simplesmente de um macho que pratique formas de lascívia, mas das pessoas em geral que são culpadas de apego aos pecados da carne, voluptuosos.

Observe a palavra afeminado(s) usada tanto na Bíblia de Jerusalém como indicado acima, bem como no dicionário Strongs. Tom Horner, em seu livro Jônatas amou Davi (Jonathan Loved David), identifica efeminados como: "...os homens extremamente efeminados que transformaram a homossexualidade em uma profissão. Estes eram os efeminados, os prostitutos homossexuais da Grécia antiga, os assim chamados “cães sagrados” dos santuários cananeus, e os eunucos seguidores da deusa Cibele... Em algumas sociedades, tais como aquelas da antiga Frigia, os efeminados foram olhados com honra e respeito; mas na sociedade hebraica, em todos os períodos que conhecemos, não o eram". Outra vez encontramos a referência aos prostitutos de santuários, aqueles que se engajavam no sexo do mesmo gênero para o culto de ídolos.

Horner continua: "Na Grécia clássica, também, homens efeminados geralmente eram menosprezados. Por que? Porque representavam o oposto exato do tipo heróico ou nobre de amor que era muito admirado da época do Hércules legendário, que depois, na Roma imperial foi ligado eroticamente a dois homens (e numerosas mulheres) do imperador Adriano. Este modelo heróico foi idealizado como o mais nobre, e em alguns casos, romântico, tipo de amor. Em O Banquete, de Platão, é elogiado como a máxima expressão do amor físico (e espiritual, sinal de virtude). E, pelo contrário, sair com um efeminado era algo ordinário. Todo homem poderia fazê-lo; e em algumas sociedades quase todo homem o fez uma vez ou outra. Além disso, como o patriarcado aumentou seu domínio nas sociedades mediterrâneas orientais, o homem em que faltavam traços viris, como a fêmea a quem ele tão proximamente se assemelhou, foi mais e mais estigmatizado" (Páginas 22, 23).

A segunda palavra usada na passagem destacada, arsenokoitai (arsenokoites) é ainda mais obscura. Aparece somente duas vezes no Novo Testamento, aqui e em 1 Timóteo 1,10. Esta palavra é tão obscura que o dicionário Vine nem tenta defini-la. Em vez de uma definição, o dicionário dá as duas únicas passagens onde a palavra aparece. O dicionário Strongs usa: “um sodomita: abusador (que perverte) a si mesmo com a humanidade. Derivado de arsen = macho, homem, e kemai = mentir de forma contumaz”.



Rev. Robert Arthur, em seu livro Homossexualidade à Luz da Linguagem e Cultura Bíblicas (Homosexuality in the Light of Biblical Language and Culture), falando de cultos pagãos, escreve:
Era extremamente comum, portanto, encontrar deuses e deusas que recebiam presentes de apreciação e de adoração de seus adeptos sob a forma de atos sexuais. Para facilitar o oferecimento de tais presentes, homens e mulheres eram ligados (a templos) para receber estes presentes e tornaram-se conhecidos como prostitutos do templo (tanto homossexuais como heterossexuais). (...) A adoração da fertilidade deste tipo e expressões similares continuaram por pelo menos nos primeiros 100 anos da era cristã, em lugares tais como o templo de Diana em Éfeso. Na língua grega a palavra usada para os prostitutos do templo nestes lugares da adoração pagã era arsenokoites. Não foi antes de por volta de 200-250 da era cristã que uma homofobia marcante (...) começou a rastejar na Teologia. Por esta época, a adoração cultual do sexo começou a morrer e a palavra usada por Paulo para descrever os prostitutos do templo estava começando a tornar-se obsoleta. É importante observar que (...) ao tempo de Cristo a palavra de uso comum que significava ´homossexualidade´ era homophilia. (...) Esta palavra foi usada na língua grega até bem depois da época da morte de Paulo. Mas esta palavra nunca foi usada nas Escrituras.

Padre John McNeill, sacerdote jesuíta, em seu trabalho A igreja e o Homossexual (The Church and the Homosexual), escreve que o uso da palavra, no segundo século, na Apologia de Aristides, parece indicar que significa um corruptor obsessivo de meninos. Do mesmo modo, o professor Robin Scroggs, do Seminário Teológico de Chicago, em seu livro, Novo Testamento e Homossexualidade (New Testament and Homosexuality), posiciona-se que ambas as palavras – malekos e arsenokoites – referem-se aos parceiros ativos e passivos na prática grega da pederastia, a qual não deve de modo algum ser confundida com homossexualidade. Pederastia é a molestação de crianças, pura e simplesmente. Um relacionamento ‘pederástico’ existe entre um amante (geralmente um homem maduro), e o amado, um garoto jovem o bastante para ainda ser imberbe. O amante era sempre o parceiro ativo; o amado era solicitado a ser passivo. Nem todo relacionamento era sexual em sua natureza, mas quase todos o eram. O amado não devia ser sexualmente satisfeito, o que era prerrogativa exclusiva do amante apenas. Quando o amado tornava-se velho o bastante para ter barba e por outro lado tornar-se mais viril, era trocado por uma pessoa mais nova. A razão para isto era porque o ideal era um menino que se assemelhasse a uma mulher. Os meninos deveriam depilar os pelos faciais, deixar seu cabelo crescer, alguns até usavam maquiagem. O professor Scroggs sustenta que este menino era o malekos, e o adulto, o arsenokoites, referidos nesta passagem da Escritura Sagrada.

Enquanto que a pederastia parece ser, equivocadamente, homossexual por natureza, a realidade é que as pessoas engajadas nessa atividade eram, para a maioria das pessoas, heterossexuais. A pederastia era considerada apropriada ao treinamento de um menino para a masculinidade. O relacionamento não era permanente, durando somente o tempo em que o garoto mantinha sua aparência jovem. Não havia nenhuma mutualidade, nenhuma satisfação ou prazer mútuo, e o garoto era desumanizado, usado pelo amante como uma coisa, não como uma pessoa para amar e estimar. Por outro lado, o amado recebia regularmente presentes do amante. O amado, por sua vez, freqüentemente tornava-se o amado de diversos amantes, todos os mais lucrativos para ele, tornando-se, finalmente, um prostituto masculino, por tanto tempo quanto sua beleza resistisse.

Pederastia, ainda que culturalmente aceita, era moralmente errada em muitos aspectos, como demonstrado acima. Não pode de maneira alguma ser interpretada como uma descrição da homossexualidade, que é o amor emocional, espiritual, romântico, afetivo, de dedicação mútua, e sexual, entre parceiros mútuos do mesmo gênero.

A Nova Bíblia Comentada de Oxford, publicada em 2001 e considerada um dos comentários mais autorizados de todas as Bíblias, oferece a seguinte nota de rodapé para os versículos destacados:

“Os termos gregos traduzidos como prostitutos masculinos e sodomitas não se referem aos "homossexuais", como em inapropriadas traduções mais antigas; "masturbador" e prostitutos masculinos podem ser uma melhor tradução”.

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