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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Análise de Louvores: Move as águas - Comunidade Cristã de Goiânia

Boa tarde, prezados amigos. Já faz um tempo que não faço updates nesse blog, porém creio que chegou o momento de retomarmos as publicações. Em breve, explicarei os motivos, porém a intenção é aumentar a quantidade de estudos bíblicos, publicações de mensagens e trabalhos sobre temas relacionados a vida cristã.

Um dos temas que iremos retomar com força é a análise teológica de músicas gospel utilizadas em nossas igrejas. Estas análises visam demonstrar quando uma música possui uma mensagem positiva e quando um louvor possui problemas teológicos que precisam ser analisados pelos ministros de música. A razão é simples: O louvor é a forma mais simples de ensinar teologia a alguém, e se a música possui uma teologia equivocada, ela confunde a cabeça dos membros, que raramente correm para a Palavra de Deus para confrontá-la. Nossa missão será realizar este trabalho, dando subsídios para uma boa escolha de cânticos.

Hoje, iremos fazer a análise da música "Move as Águas", uma das melodias mais bonitas do meio gospel, porém com uma das letras mais problemáticas. Vamos a ela:

Quanto tempo esperei
Chegou a minha vez
Sei que hoje é meu dia Jesus está aqui (2x)
Move as águas Senhor
Move as águas
Vou mergulhar, vou restaurar a minha vida
Move as águas Senhor
Move as águas
Vou mergulhar, me libertar
Sim move as águas

A música, logo de cara, traz algumas dificuldades ao leitor mais atento:

1. O autor esperava o que? Por que ele está feliz com sua vez ter chegado?
2. Qual o poder das águas mencionadas no louvor?
3. Por que é importante que as águas sejam "movidas"?

Bem, aquele leitor bíblico mais atento vai imediatamente se lembrar do relato de João 5, que fala da história do Tanque de Betesda. Este tanque era um local onde uma lenda local dizia que um anjo passava pelo tanque e movia suas águas de tempos em tempos. Quando as águas eram movidas, a primeira pessoa que conseguisse adentrar as águas era imediatamente curado de suas doenças. Por isso, o tanque era cercado por uma multidão de cegos, coxos, enfermos e portadores de outras doenças, todos esperando a oportunidade de invadir as águas e buscar a cura teoricamente ministrada pelas águas.

Diz o relato bíblico que um homem residia ao lado do tanque há 38 anos, impossibilitado de ser curado devido à severidade de sua deficiência. Algumas traduções mais modernas já interpretam que ele era paralítico, pois no v. 7 ele afirma que não tinha ninguém para colocá-lo nas águas e que, quando ele tentava se locomover em sua direção, alguém chegava mais rápido.

O relato continua mostrando a visita de Jesus ao local e conversando com aquele homem, perguntando se ele queria ficar são. O homem fala de sua impossibilidade, mas Jesus mostra compaixão e ordena que ele se levante, imediatamente curando-o. É uma das curas mais espetaculares apresentadas no relato bíblico e serve para alfinetar os judeus, pois o homem foi curado e ordenado a carregar sua maca em um sábado, o dia sagrado do descanso para os judeus.

Quando lemos esta história, percebemos que a música remete a ela, mas distorce totalmente seu relato, pois passa a impressão de que era Jesus quem movia as águas e que ele teria curado o homem levando-o ao tanque, o que não condiz com o relato. De fato, o relato de Jesus é uma brilhante demonstração de libertação das crendices e rituais religiosos vigentes na época. Ele mostra que seu poder é distribuído mediante sua palavra-ação, e não por qualquer outro "meio de graça". Deste modo, a música torna-se equivocada por transmitir uma mensagem errada da história do Tanque de Betesda.

Existe, porém, ainda um outro detalhe sobre a música. Na penúltima frase, ela diz "Vou mergulhar, me libertar". Mas se libertar de que? Se voltarmos ao começo do refrão, a música diz que o mergulho irá restaurar a vida da pessoa. Esse tipo de afirmação infere que a doença, a deficiência física sofrida pelas pessoas, é um mal de que precisamos de libertação. Isso é muito chato, especialmente para pessoas que sofrem diariamente com as suas limitações mas vivem perfeitamente com elas. Basta ver as Paraolimpíadas para se perceber como a libertação de uma limitação física pode vir não com sua cura, mas sua superação.

Neste sentido, a música fica extremamente prejudicada em sua teologia. Ela distorce o relato bíblico, cuja função era mostrar Cristo libertando o paralítico da escravidão da crendice e da religiosidade ritual, além de botar para baixo todas as pessoas que foram libertas de suas limitações físicas superando-as e vivendo normalmente apesar delas. É uma bela melodia, porém com uma letra que não deve ser entoada em igrejas que trabalham com seriedade o ensino das Escrituras.