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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Análise de Louvores: Festival Promessas: Os Sonhos de Deus - Ludmila Ferber

Boa tarde, prezados leitores e amigos. Hoje, iremos fazer mais uma análise de um louvor que faz sucesso em nosso meio gospel. Como temos feito, iniciamos esta área de trabalho com as músicas apresentadas no Festival Promessas. Hoje, em especial, estaremos analisando um dos cânticos que tem maior impacto no meio, um dos mais cantados em nossas igrejas, e, ao mesmo tempo, um dos mais problemáticos. O louvor é "Os Sonhos de Deus", de Ludmila Ferber. Este é um cântico curto, com belíssima e envolvente melodia. Vamos analisar a sua letra:

Se tentaram matar os teus sonhos,Sufocando o teu coração,Se lançaram você numa cova e ferido perdeu a visão. 2x
Não desista, não pare de crer.Os sonhos de DEUS jamais vão morrer.Não desista, não pare de lutar, não pare de adorar.Levanta teus olhos e vê, DEUS está restaurando teussonhos e a tua visão.
Recebe a cura, recebe a unção. Unção de ousadia, unção de conquista Unção de multiplicação. 2x

Esta música transparece algumas características reprováveis do cristianismo moderno: Antropocentrismo, má utilização de termos bíblicos, Teologia da Prosperidade e linguagem meramente motivacional. Vamos estudar as três primeiras características aqui:

1. Antropocentrismo: Nesta música, vemos que o autor iguala os sonhos da pessoa aos sonhos de Deus para ela. A ideia da música é que você não pode desistir de seus sonhos, mas ao mesmo tempo exorta o cantor a não perder a fé, pois "os sonhos de Deus não podem morrer". Logo, o autor relaciona um sonho ao outro. Os sonhos que o homem tem, são iguais aos sonhos que Deus possui para ele.

A Bíblia nos ensina, porém, que os nossos sonhos, em geral, estão dissociados dos desejos de Deus para nós. Ela nos mostra que nosso coração é enganoso e que Deus analisa nosso coração para nos abençoar conforme as nossas reais intenções (Jr. 17.9,10). Também vemos que as coisas que "o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam" (1 Co. 2.9).

Mas e Salmos 37.4, onde entra nesta história? Simples: O Salmo diz que o homem que se deleitar no Senhor terá os desejos do seu coração concedidos. O problema é que o homem que se deleita no Senhor muda seu padrão de conduta e o que ele deseja. O homem que se deleita no Senhor passa a olhar para as coisas do alto (Cl. 3.1,2), tem sua mente transformada (Rm. 12.2).

Mas eu não tenho o direito de receber as bênçãos do Reino de Deus neste mundo? Não tenho o direito de ser rico? Bem, o próprio Jesus nos ensina que ser rico não é sinônimo de ser temente a Deus. Pelo contrário, ele nos mostra que o amor ao dinheiro nos impede de nos chegarmos a Deus (Lc. 18.18-25, Mt. 6.24). Paulo também comenta sobre como devemos nos contentar com nosso sustento, e que a riqueza é um laço do inimigo (1 Tm. 6.8,9).

Ou seja, precisamos tomar muito cuidado com os sonhos que achamos que são de Deus para nossas vidas. Se eles forem de coisas que vêm do alto ou são planos REALMENTE de Deus para nós (família, sustento, tranquilidade, santidade, intimidade com Deus), então podemos confimar nele e perseverar em oração. Mas detalhe: Nós, como humanidade, podemos atrapalhar os planos de Deus, bastando nos entregar à nossa mentalidade pecaminosa.

2. Má utilização de termos bíblicos: O termo "unção" é muito mal empregado pelos músicos gospel. O que, na Bíblia, só é utilizado para denotar o ato de consagrar reis para liderarem seu povo, no cristianismo moderno ganhou uma conotação estranha. O termo tornou-se sinônimo de uma graça especial, dada por Deus para transformar algo ou executar algo. Pode ser uma bênção ou um dom. Esta interpretação do termo é estranha à Bíblia e não tem nenhum sentido teológico. Logo, "unção de ousadia", "unção de conquista" e "unção de multiplicação" não são termos amparados na Palavra de Deus. No futuro, farei um estudo mais aprofundado sobre o tema.

3. Teologia da Prosperidade: O grande problema desta música, no quesito Teologia da Prosperidade, está nos três associativos da unção que a cantora declara que o cristão deve receber: Ousadia, Conquista e Multiplicação. Estes termos não fazem sentido sem uma ministração que os oriente. Ousadia para fazer o que? Conquista de que? Multiplicação de que?

Se observarmos, porém, os postulados da Confissão Positiva, um dos suportes da Teologia da Prosperidade, perceberemos que a música passa a fazer sentido. Para esta teologia, o homem deve, com ousadia, exigir de Deus que Ele derrame sobre o fiel as bênçãos do céu, adquirindo, na Terra, a herança que o homem tem direito por ter se tornado filho de Deus por adoção. Ao fazer isso, o homem conquistará seus direitos. Já a questão da multiplicação, certamente, faz referência à infame Lei da Semeadura, que já comentamos no passado em nosso blog.

Este tipo de interpretação torpe da Palavra de Deus não tem sentido teológico ou exegético (a ideia de que a melhor tradução do verbo aiteo - pedir, suplicar - ser exigir não é comprovada por nenhum estudioso sério do grego do Novo Testamento). Ou seja, a música conduz o homem a adotar, em sua cabeça, a visão teológica da Teologia da Prosperidade, sem ele muitas vezes saber disso.

Conclusão

Você deve estar se perguntando sobre a segunda estrofe da música, já que analisei a primeira e a terceira. Bem, realmente não devemos parar de lutar. Não devemos parar de lutar pela propagação do Evangelho, da sã doutrina, dos ensinamentos que Cristo verdadeiramente quis nos trazer ao vir ao mundo. Eu creio que ainda há esperança para o evangelho puro, e é por isso que só salvo esta estrofe, e no contexto da pregação da Palavra de Deus, do mais puro alimento espiritual. Além disso, esta música não se salva, teologicamente.

3 comentários:

  1. Olá Pr. André!
    Quero que vossa pessoa, dê uma analisada neste hino de Davi Sacer:
    Invoca-me e Te Responderei,
    Confia, Descansa o Coração.
    Porque Eu Bem Sei, O Que Penso de Ti
    Espera e Te Darei O Melhor
    Nas ondas bravias do mar
    Sossega a tua alma

    Eu Sou o Senhor que Te Cura,
    Jeová Rafa o Teu Deus!!!
    Que Cuida de Ti e nunca Te Abandonarei.
    Ponha tua fé em Meu Nome,
    E faz uma prova de Mim.
    A Tua oração Eu já recebi,
    E Te Responderei com Poder!!!

    Confia, Espera, Estou contigo, Nunca te abandonarei...
    Este nos mostra fidelidade de Deus para quem é fiel, certo? Ou tem algo que ele está "errado" teologicamente?

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