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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Análise de Louvores: Festival Promessas: Tu Podes - Regis Danese

Boa noite, amigos e irmãos. Hoje, já estudamos um louvor do Festival Promessas, Diante de Ti, de Emerson Pinheiro, cantado por Eyshila no evento. Agora, iremos estudar o primeiro de dois louvores cantados por Regis Danese no festival, Tu Podes. A melodia, vale dizer, é muito bonita, apesar de lembrar bastante a melodia do maior sucesso do cantor, Faz um milagre em mim (que estudaremos após este cântico).

A letra segue adiante:


Como Bartimeu eu preciso de um milagre
E só o senhor pode fazer
Eu farei o que for preciso
Pra que ouça a minha voz

Filho de Davi socorre-me
Sem ti eu sou tão frágil
A tua mão me sustenta de pé
Mesmo que tudo se acabe ainda me resta a fé

O que eu não posso fazer tu podes
A mudança que eu preciso tu podes
O milagre que eu espero tu podes
Senhor vem me socorrer

O meu milagre senhor eu tomo posse
A cura que eu preciso eu tomo posse
A minha benção senhor eu tomo posse
Abro as mãos para receber

Bom, as três primeiras estrofes da música não contêm problemas teológicos. O autor diz que precisa de um milagre como o de Bartimeu, que gritou e implorou para que Jesus tivesse misericórdia dele. Também reconhece que o milagre que Bartimeu desejava, somente Jesus pode realizar, desviando a tentação antropocêntrica da letra. Na segunda estrofe, a letra apresenta uma relação de dependência do homem com Deus. O homem reconhece sua fraqueza, se humilha e pede para que Deus faça algo em sua vida. Já na terceira, vemos um lindo clamor de um homem pela ação de Deus em sua vida. Se a música parasse aqui, seria um belíssimo cântico de louvor e súplicas ao Senhor, e seria aprovado de forma tranquila.
O problema do cântico está na última estrofe, mais especificamente no termo "Eu tomo posse", repetido três vezes. Este termo é um clássico termo da Teologia da Prosperidade, sendo utilizado como sinônimo de "Eu exijo" ou "Eu declaro". Segundo os estudiosos desta doutrina, o "tomar posse" de algo faria com que o homem materializasse, neste mundo, a bênção teoricamente prometida na Bíblia a ele. 
O grande problema é que o termo nunca foi usado na Bíblia para dar ao homem o poder de "tomar posse" de alguma bênção e materializá-la neste plano. Esta ideia estranha vem do fato de Deus ter prometido a terra de Canaã ao povo israelita e ter dito para eles "tomarem posse" dela (Nm. 33.53, Ex. 23.30, Dt. 1.21). Os pregadores da prosperidade dizem que o homem, por ser filho do Rei, tem direito a desfrutar as heranças do Reino de Deus neste mundo, tomando posse dela. Eles ignoram que Jesus disse, por exemplo, que seu Reino não era deste mundo (Jo. 18.36) e que esta herança, só receberemos no dia do julgamento (Mt. 25.34). 
Além disso, o termo "tomar posse" aparece muito pouco na Bíblia. Na grande maioria das vezes, se refere ao ato do povo de Israel de entrar na Terra Prometida e tomar posse dela. A ideia deste termo sempre foi mostrar que a conquista do povo de Israel já estava garantida, mas nunca a de imaginar que a fé do povo materializou a vitória aqui. O ato e a orientação divinos está sempre presente no processo. Em outros momentos, o termo é deliberadamente usado para falar sobre pessoas tomando posse de algo que pertencia a outras. 
No Novo Testamento, o termo aparece em três passagens-chave:
1. Em 2 Ts. 2.14, fala do homem poder "tomar posse" da glória do Senhor, mas fala em referência da perseverança do homem ao evangelho e ao Espírito, em vez de se deixar levar por espíritos enganadores e pelo anticristo, especialista em enganar as pessoas com sinais e maravilhas (2 Ts. 2.9).
2. Em 1 Tm. 6.12, Paulo pede para Timóteo tomar posse da vida eterna, mas fala isso em contraponto com o ato de se desprender do dinheiro, que Paulo fala ser a raiz de todos os males quando colocado como objeto de amor (1 Tm. 6.10). Este capítulo, diga-se por sinal, é uma bela exortação contra os amantes do dinheiro. Quem gosta e defende a teologia da prosperidade, deve lê-lo com toda a atenção e carinho. 
3. Em Hb. 6.18, fala-se em "tomar posse da esperança", o texto é bem complexo (começa em 6.9), mas nota-se que o autor está falando que Deus não se esquecerá de abençoar aqueles que trabalham em sua obra. Cita como exemplo a fé de Abraão e sua paciência para mostrar que devemos ter o mesmo tipo de esperança em Deus de que ele nos abençoará. Contudo, nota-se que estas bênçãos são relacionadas a "coisas próprias da salvação" (Hb. 6.9). Comparando com a perícope imediatamente anterior, que menciona o caso de pessoas que conheceram a salvação e se afastaram, é minha visão que o autor quer mencionar que esta esperança deve ser a de multiplicação da semeadura da palavra, por parte dos irmãos da igreja. O texto está encapsulado entre passagens que falam de discipulado, então deve ser entendido neste contexto. 
Desta forma, concordo com a maioria dos estudiosos bíblicos, de que a ideia da Teologia da Prosperidade sobre o homem "tomar posse" das bênçãos e promessas divinas é totalmente espúria à Bíblia. Isso estraga completamente a música cantada por Regis Danese e reflete bem a mentalidade do cristão evangélico contemporâneo brasileiro. 
O tema é complexo e estou aberto a novos questionamentos por comentário, para maiores pesquisas e explicações. Na próxima, estaremos analisando o maior sucesso de Regis Danese, "Faz um milagre em mim". Até lá.

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