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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Análise de Louvores: Festival Promessas: Parte 2: Pregador Luo - Coração Brasileiro; Pavão Pavaozinho (com Fernanda Brum)

Bom dia, prezados irmãos e leitores. Ontem, tivemos a oportunidade de iniciar uma nova área de estudo em nosso blog: A análise da música gospel brasileira. Como dissemos, escolhemos as músicas entoadas no Festival Promessas devido à grande exposição que o festival obteve na mídia e à forma controvertida como o festival foi recebido por inúmeros pastores, teólogos e fieis.

Iniciamos hoje com duas músicas entoadas pelo Pregador Luo no Festival. A primeira, "Coração Brasileiro", abriu o programa. A segunda, "Pavão Pavaozinho", foi na verdade cantada em dueto com Fernanda Brum.

Primeiro, estudemos a letra de Coração Brasileiro:

Coração brasileiro

Ôôôôôôôôôôôôôôôôô
Nosso brado é retumbante
A natureza nos fez forte e gigantes
A liberdade me dá sentido
No mundo todo resplandece o nosso brilho
O desafio, desafio não nos para
Só tem guerreiro preparado pra batalha
É numeroso e muito forte
O meu povo bota o peito a própria morte
Ó pátria amada idolatrada salve, salve!
Ó pátria amada idolatrada salve, salve!
É o Brasil, país de amor, é o colosso
É o Brasil, país de amor, é o colosso

É da América que sairá a luz que iluminará
O nosso brilho em toda Terra então se verá
A nossa vez chegou, a nossa vez chegou, a nossa vez chegou
Brasil chuta e marca gol

Gol, gol, gol o Brasil é
Gol, gol, gol craque chuta é
Gol, gol, gol eu tô com fome de gol

Ôôôôôôôôôôôôôôôôô
Dança, balança, segura, responsa
Colosso gigante que chega e estronda

Don?t stop, don?t stop,don?t stop and believe
Don?t stop, don?t stop,don?t stop and believe

No pare, no pare, siga y creia
No pare, no pare, siga y creia
Acredita, credita , goleia, goleia
Firmeza na rocha, goleia, goleia

Gol, gol, gol o Brasil é
Gol, gol, gol craque chuta é
Gol, gol, gol eu tô com fome de gol

O tempo é de luta unam-se fiéis
O país do futebol põe o coração nos pés
Fé no time, fé no homem, fé na camisa dez
Voam alto canarinhos que também são leões
Brilham bonito, cospem fogo, queimam até dragões
Milhões e milhões sinceras orações
Rezam e choram para o time que voltem campeões
Beleza e raça bem-digam um futebol cheio de graça
Aqui é nós que tá, vamo lá levantar a taça
Trazer aqui pra nossa casa
Ninguém vai roubar, ninguém vai derreter
Aprendemos a lição com a Jules Rimet
Alegria que alguém prometeu e não me deu
Futebol brasileiro pro meu povo devolveu

Leões nós somos leões
Leões nós somos leões

Ôôôôôôôôôôôôôôôôô Brasil
Ôôôôôôôôôôôôôôôôô Brasil
Ôôôôôôôôôôôôôôôôô Brasil


Ao analisar esta música, percebemos que ela é claramente uma música voltada para o contexto futebolístico. Possui uma tentativa de instilar no coração do brasileiro um orgulho, um patriotismo, que só existe nos campos de futebol. Como música popular, é bem feita. Porém, não cabia em um show evangélico, onde o propósito era glorificar a Deus e espalhar o evangelho a toda a criatura. Quando vi o show, fiquei com a sensação de que a música foi usada para abrir o programa justamente para mostrar que o crente é normal, também gosta de futebol como o restante do povo. Se esta foi a intenção, então acho relativamente aceitável, porém creio que a ministração poderia ter sido melhor, com o cantor informando a todos que eles também são "gente como a gente", e não pessoas "bitoladas", que não chutam o "ovinho do Diabo", como algumas congregações mais conservadoras chamam a bola de futebol.

Agora, analisemos a música "Pavão Pavaozinho", entoada por Fernanda Brum em conjunto com Pregador Luo no meio do Festival:

O que vi na Central do Brasil
No Pavão Pavãozinho, em Padre Miguel
Eu não vi em outro lugar, fora daqui
Fora com tanta miséria
Vou lá espantar o fantasma do caos
E mandá-lo pra outro lugar
Pra casa de Apolion
O que vi no agreste mineiro
O que vi no sertão, nos ribeirinhos do amazonas
Extrapolou, extrapolou

É, é a hora do senado acordar
É a hora desse povo sacudir
É a hora da bondade dominar
É, é a hora de crer mais nos tribunais
De exorcizar o mofo das prisões
De ver nossos velhinhos a cantar

Incoerência, Imprudência e maledicência,
os que queriam pregar
perdeu a inocência
No Palanque da injustiça onde o pobre passa fome,
Onde o orfão, A viúva e o idoso não têm nome
Promessas esquecidas de outros carnavais
Lembravam da igreja, agora não lembram mais
Seguiram no batuque dessa dinherada
Perderam a visão, agora já não têm mais nada!

É, é a hora do senado acordar
É a hora desse povo sacudir
É a hora da bondade dominar
É, é a hora de crer mais nos tribunais
De exorcizar o mofo das prisões
De ver nossos velhinhos a cantar

Oe Oe Oe Oe Oe
Canta Brasil ( 3x )

Oe Oe Oe Oe Oe
Acorda Brasil !


Esta música possui um aspecto denunciativo, que lembra os melhores raps de origem paulista. Ela comenta sobre o Senado Federal e como alguns que foram eleitos para estarem lá, representando o povo cristão, esqueceram-se da igreja, caindo na mesma desgraça que outros políticos caíram. Lembra o escândalo das ambulâncias, com uma lista de denunciados saída da bancada evangélica. É uma bela peça de denúncia, que pede para o Brasil acordar e lutar contra as potestades que dominam a política nacional.

Há, nesta música, um pequeno problema, uma pequena questão doutrinária que vale a pena notar: No comecinho da música, fala-se em "espantar o espírito do caos" para a "Casa de Apoliom", expulsando a miséria das áreas de periferia cantadas (Central do Brasil, estação terminal de trem do Rio de Janeiro conhecida pelo movimento de viciados em crack, e o Morro Pavão Pavaozinho, favela que fica nos bairros de Copacabana e Ipanema e causa um enorme contraste entre ricos e pobres no Rio). Ao se falar em "espírito do caos" e colocá-lo no mesmo campo poético da miséria das áreas de periferia, poderia ser deduzido que algum "espírito de miséria" seria a causa dos problemas destas pessoas.

Este tipo de teologia é próprio da Igreja Universal do Reino de Deus e de adeptos da Batalha Espiritual. Contudo, esta teologia não é bíblica. Para a Palavra de Deus, a miséria pode ser causada por:

1. Fome causada por desastres naturais (Gn. 43.1, At. 11.28)
2. Afastamento de Deus por parte de pessoas em posição de domínio (Rm 3.16, cf. Rm 3.10-18, Sl. 14.1-3, 53.1-3)
3. Juízo de Deus sobre a Terra, para conversão dos maus (Am. 4.1-6)

Existem muitas outras instâncias bíblicas que falam sobre pobreza e miséria, mas nenhuma delas menciona qualquer "espírito de miséria", ou seja, qualquer entidade espiritual que possa causar pobreza financeira na vida da pessoa. As possessões bíblicas são causadoras de males físicos e psíquicos que, por sua vez, são os causadores de seus problemas financeiros  (epilepsia - Mc. 9.20, mudez e surdez - Mt. 12.22).

Por fim, creditar a miséria humana a um "espírito de miséria" é transferir a culpa das mazelas sociais brasileiras da classe dominante e opressora para a classe oprimida. Tal discurso é típico da classe opressora, que busca se eximir das consequências da concentração de renda e do sistema educacional falho e indigno, que premia os alunos elitistas, que podem pagar por colégios particulares, e relega a população que depende do ensino público à exploração de universidades particulares fracas e gananciosas.

Na próxima, estaremos analisando a música Os Sonhos de Deus, de Ludmila Ferber, uma das mais problemáticas do repertório do Festival Promessas. Aguardem.

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