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quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Heresia da Prosperidade - Parte I: A Teologia da Semente - Sl. 126.5-6

Boa tarde, amados. Como prometi há algumas semanas, estou iniciando hoje algumas reflexões a respeito da doutrina que acredito ser o maior mal que atingiu a igreja nos últimos anos: A Teologia da Prosperidade. Este corpo de doutrinas, recheadas de afirmações extra-bíblicas, textos retirados de seu contexto e de ideias que Jesus Cristo combateu quando veio ao mundo, tem levado milhões de pessoas a investirem suas vidas e recursos em ministérios manipuladores e diabólicos, que só pensam em novas formas de explorar o crente em sua tentativa de alcançar a graça e o favor divinos.

Para iniciar nossos trabalhos, irei fazer algumas colocações a respeito da teologia da semente, que é tão difundida em várias igrejas nos dias de hoje. Posteriormente, farei pequenos estudos sobre outros temas desta heresia e trarei alguns estudos, como a história do movimento, onde ele surgiu, quem são seus maiores pregadores e seu status ao redor do mundo. Meu intuito é não só educar os novos cristãos, na esperança de que não caiam nesta esparrela maligna, mas também mostrar aos mais experientes na fé como isso é um problema real que precisa ser lidado em nossas igrejas.

A teologia da semente, basicamente, faz um trocadilho com a agricultura para incentivar os cristãos a ofertarem algo para a igreja. Ela afirma que, se o cristão "semear" uma oferta na casa de Deus, que o Senhor irá "frutificar" as bênçãos em sua vida. Neste esquema, cada pregador, do alto de sua originalidade, gera um multiplicador das bênçãos. Por exemplo, em uma determinada igreja que se diz universal, é comum pedir uma unidade monetária e dizer que a pessoa receberá dez unidades em troca. Já em outra comunidade, que diz oferecer paz e vida aos seus irmãos, foi oferecido um serviço onde as pessoas receberiam bênçãos "dobradas e quadruplicadas", em uma parca menção à história de Zaqueu. Outras comunidades inventam outros multiplicadores: Três, quatro, sete, etc.

Como disse anteriormente, é comum aos pregadores desta heresia se utilizarem de textos completamente fora de contexto para justificar suas afirmações. Determinado dia, enquanto dirigia para o meu trabalho, ouvi na rádio de maior audiência do Rio de Janeiro um pregador fazendo uma rápida reflexão sobre o texto de Sl. 126.5-6, usando-o para doutrinar as massas na heresia da semente.

O texto sagrado referido diz assim:

Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

A interpretação deste texto, por parte daquele pregador, porém, foi totalmente alegórica (1): A semente é a oferta dada pelo cristão na igreja. O sentido da semeadura com lágrimas diz que você deve semear mesmo causando um sacrifício para você. Ao fazer isso, Deus verá suas lágrimas e fará multiplicar as bênçãos em sua vida, referidas nos feixes. Estes feixes podem ser: Saúde, vida familiar boa, prosperidade financeira, etc.

A afirmação deste pregador foi interessante porque definiu bem as ideias que os pregadores da heresia da prosperidade botam na mente das pessoas:

1) Ser cristão é um relacionamento de troca com Deus.
2) Ser cristão tem, como principal benefício, a multiplicação de bênçãos materiais.
3) A oferta não deve ser por generosidade, mas sim como um investimento para posterior resgate.

O problema desta heresia está nas suas consequências nas vidas das pessoas: Quando elas "semeiam" e não recebem as bênçãos que estavam esperando, estas pessoas tendem a se rebelar, a se chatear com Deus por não terem recebido a bênção que esperavam. Jogam a culpa em Deus, sem perceber que a Bíblia nos ensina que tais dádivas são muito mais relacionadas com os nossos esforços, capacitados pela sabedoria e personalidade que Deus nos deu, do que com bênçãos sobrenaturais que ele pode nos entregar.

Para piorar, muitos pregadores e pastores defendem-se da falha das pessoas em conquistarem estas bênçãos jogando a culpa nas próprias pessoas ou no próprio Deus. Por um lado, eles afirmam que, se a pessoa não recebeu a bênção que gostaria, é porque "semeou pouco" ou porque tem algum pecado enrustido que impediu que seu pedido chegasse com sinceridade ao altar do Senhor. Por outro lado, eles afirmam que, se a pessoa acha que se enquadra em todos os requisitos para receber a bênção, que ela tem o direito de "exigir" de Deus a promessa que lhe foi dada.

Em todo caso, vamos analisar a doutrina da semente aos poucos:

Ponto 1: O texto apresentado pelo autor não tem nada a ver com ofertas ao Senhor. Ao se ler o texto de Sl. 126 completo, podemos perceber isso:

Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: "O Senhor fez coisas grandiosas por este povo". Sim, coisas grandiosas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.

Lendo este texto, percebe-se que a intenção do autor é fortalecer a alma daqueles que haviam voltado do cativeiro babilônico e estavam começando a reerguer a nação de Israel. Sião é o monte onde o Templo ficava, em Jerusalém. "Trazer os cativos de volta a Sião", logo, refere-se ao retorno do exílio na Babilônia.


Continuando com o texto, nos v. 2-4, o autor rememora a alegria do povo de Israel ao retornar para a sua casa. Esta alegria tem muito a ver com a situação em que viviam na Babilônia, pois, mesmo tendo uma vida relativamente confortável no cativeiro (cada exilado tinha casa, terra e família), eles estavam envolvidos pelo culto idolátrico aos deuses babilônicos, cultos estes que eram totalmente opostos ao culto a Iavé. Desta forma, o sofrimento do povo era pela opressão espiritual na qual viviam.


Entretanto, quando retornaram para suas terras, vemos que o povo de Israel não encontrou vida fácil. Pelo contrário, sabemos pelos livros de Esdras e Neemias que houveram conflitos entre os remanescentes da terra e o povo que retornou do exílio. Além disso, a infraestrutura que o povo possuía para plantar na Babilônia (conhecida pela riqueza e fartura da terra, por conta dos rios Tigres e Eufrates, que circundavam a região) não se encontrava na antiga Judá, terreno arenoso, desértico, difícil de ser cultivado. Daí o autor notar as lágrimas daqueles que plantam: Eram lágrimas de esforço, por estarem tendo que lutar para cultivar uma terra mais difícil de lidar do que a antiga.


Desta forma, o sentido do autor original com os v. 5-6 reside tem a ver com uma mensagem de esperança e fortaleza para os agricultores que, agora, tinham que lutar mais para conseguirem plantar e colher o que precisavam para sobreviver. A mensagem real do texto reside no fato de que Deus abençoaria seu povo pelo trabalho árduo que fazia ao retornar à sua terra e voltar a cultuar apenas a Ele (lembrando: Muitos judeus resolveram permanecer na Babilônia porque preferiram manter suas terras e casas que haviam construído no local). Ou seja, não há nada de sobrenatural no texto, muito menos troca. Pelo contrário, havia uma promessa de esperança para aqueles que retornaram à terra de Jerusalém para reconstruir a nação santa, separada por Deus para tal, e esta promessa também não tinha nada a ver com riquezas, mas sim com sobrevivência no local.


Na próxima oportunidade, comentarei sobre outros textos do AT e do NT que mencionam a ideia de semente e de prosperidade, entre eles: Lv. 26.16, Dt. 28.1-13, 39, 2 Co. 9.6-8. A gente se fala. Abraços.

(1) Alegoria é uma figura de linguagem que transmite um outro significado além do exposto no texto. Interpretação alegórica da Bíblia, portanto, é a forma de tentar entendê-la extraindo verdades que extrapolam o sentido literal do texto bíblico. Este tipo de interpretação foi muito comum na igreja católica primitiva e é a principal forma de grupos hereges afirmarem que a Bíblia diz algo que ela não diz.

Um comentário:

  1. Hoje em dia, existem muitos falsos profetas. E enganarão a muitos...O problema é que as pessoas, não leem a bíblia e confiam em seus pastores. muitos são enganadores.

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