Fala, galera, beleza? Seguindo a linha do dia de hoje, de resgate de alguns posts de meu antigo blog, resgatei este que lancei na época do aniversário de 31 anos da PIB do Grajaú. É um pequeno estudo, bem legal, sobre o termo "Estrela da Manhã", pois surgiu uma dúvida com relação a quem o termo se referiria, a Jesus ou a Satanás. Vale a pena lê-lo. Abraços.
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Hoje foi dia de aniversário lá na PIB do Grajaú. Desde a manhã, foi um dia incrivelmente abençoado para todos os presentes. Entretanto, o dia foi ainda mais interessante para mim por conta de uma dúvida levantada por uma adolescente, que acabou alterando o momento de louvor durante o culto matutino.
Tudo começou após o começo do culto. Pretendíamos entoar o louvor "Estrela da Manhã", um louvor antigo, porém com uma letra muito bonita. Enquanto o pastor se preparava para a oração inicial do culto, já dando as boas vindas a todos os presentes, uma das jovens participantes da equipe, que não estava na escala, me fez uma pergunta que me surpreendeu: Ela teria ouvido que esta "estrela da manhã" seria uma definição para Satanás, na Bíblia. Na hora me surpreendi, pois não me lembrava de nada do tipo na Bíblia. Então ela me mostrou sua Bíblia comentada, apontando para Isaías 14.12-15. Aquela Bíblia afirmava, com todas as letras, que "Estrela da Manhã" era Lúcifer, o anjo que tentou tornar-se acima de Deus.
Totalmente desconsertado, imediatamente suspendi a música do louvor, levando-me a investigar este termo. Foi-me bem lembrado que o termo "estrela da manhã" aparecia diversas vezes no Novo Testamento, o que me levou a fazer uma pesquisa apurada sobre o termo e sobre Isaías 14. Aqui estão os passos e resultados desta pesquisa:
1º Observar os originais: Com 3 anos de seminário, um aluno já é capaz de ir nos originais e identificar alguns termos, com ajuda de dicionários e outras ferramentas, que identifiquem o original daquele termo. O termo no hebraico é "hilel", que pode ser traduzido literalmente como Vênus, "o que brilha" ou "estrela da manhã". O termo é enigmático, e, tirando todo o texto fora de contexto, realmente sua interpretação parece dar margem a ser Satanás. Vejamos o texto:
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.
Existia um passo mais simples para tirar esta dúvida. Porém, acabei dando uma volta completa para tal. Vamos refazer estes passos:
2. Analisar outras instâncias do termo na Bíblia.
Como sempre associamos Jesus Cristo à "Estrela da Manhã", ao cantar o cântico (totalmente de adoração), fomos atrás do termo no Novo Testamento. Existem três textos com estes termos:
2 Pd. 1.19: Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração...
Neste versículo, "estrela da alva" está com o termo "phosphoros" no texto grego original. É um termo usado para se referenciar a Vênus, ou a Estrela d'Alva como a conhecemos nos dias de hoje.
Ap. 2.28: ...assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
Neste versículo, os termos no original estão separados para "estrela" e "manhã". O problema de comparar Jesus à estrela da manhã aqui é que as palavras são do próprio Jesus, segundo a revelação de João.
Agora vem o versículo de onde certamente o autor tirou o termo para sua música e de onde o conhecemos:
Ap. 22.16: Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.
Neste versículo, é bem claro: Jesus se entitula como a "Estrela da Manhã". O adjetivo "brilhante" é apenas um qualificador de um termo triplamente composto, no original: "a brilhante", "a estrela", "a manhã".
Tendo este último versículo em vista, precisamos nos curvar ao tema da música. Ela estaria correta: Jesus é a "Estrela da Manhã", na Bíblia. Este qualificador tem inúmeras conotações teológicas, que todos podem conferir em seus comentários, por isso não entrarei nesta questão, pois meu objetivo tornou-se entender a seguinte aparente contradição bíblica: se a "Estrela da Manhã" é Jesus, como poderíamos interpretar a "Estrela da Manhã" de Is. 14.12-15 como Satanás?
Nesta hora, lembrei-me de minhas aulas com o Prof. Osvaldo, de Exegese do AT, e dos professores Dionísio e Enildes, de Metodologia Exegética do NT. Todos sempre fizeram questão de enfatizar o seguinte:
O Antigo Testamento, antes de ser polissêmico, tem um sentido histórico para o povo da época. A Palavra de Deus deve ser encontrada no sentido histórico do texto, ou seja, o motivo pelo qual o autor escreveu aquele texto naquela época.
É claro, eu creio na visão polissêmica da Bíblica, ou seja, que alguns textos proféticos contêm interpretações para a própria época e para uma era posterior. Se não fosse assim, jamais poderia crer, como cristão, que o Antigo Testamento revela, em muitas partes, a vinda de Jesus Cristo, o consumador da lei.
Tendo isto em vista, eu me perguntei: E o contexto histórico do texto, qual era, quando Isaías o escreveu? Não sou um especialista ou doutor em AT, porém não é preciso sê-lo para ler exatamente o que está escrito na perícope completa do trecho, que era o que deveria tê-lo feito desde o começo. Confesso que, antes de fazê-lo, ainda fui buscar informações e diálogos sobre o trecho em vários comentários, tanto em minha biblioteca quanto na internet. Enfim, leiamos a perícope inteira, que vai do v. 4 ao v. 23. A versão é a Almeida Revista e Atualizada da Bíblia Online (www.bibliaonline.com.br):
4 ¶ então, proferirás este motejo contra o rei da Babilônia e dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania!
5 Quebrou o SENHOR a vara dos perversos e o cetro dos dominadores,
6 que feriam os povos com furor, com golpes incessantes, e com ira dominavam as nações, com perseguição irreprimível.
7 Já agora descansa e está sossegada toda a terra. Todos exultam de júbilo.
8 Até os ciprestes se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano exclamam: Desde que tu caíste, ninguém já sobe contra nós para nos cortar.
9 O além, desde o profundo, se turba por ti, para te sair ao encontro na tua chegada; ele, por tua causa, desperta as sombras e todos os príncipes da terra e faz levantar dos seus tronos a todos os reis das nações.
10 Todos estes respondem e te dizem: Tu também, como nós, estás fraco? E és semelhante a nós?
11 Derribada está na cova a tua soberba, e, também, o som da tua harpa; por baixo de ti, uma cama de gusanos, e os vermes são a tua coberta.
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.
16 Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos?
17 Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades? Que a seus cativos não deixava ir para casa?
18 Todos os reis das nações, sim, todos eles, jazem com honra, cada um, no seu túmulo.
19 Mas tu és lançado fora da tua sepultura, como um renovo bastardo, coberto de mortos traspassados à espada, cujo cadáver desce à cova e é pisado de pedras.
20 Com eles não te reunirás na sepultura, porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos jamais será nomeada.
21 Preparai a matança para os filhos, por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades.
22 Levantar-me-ei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos; exterminarei de Babilônia o nome e os sobreviventes, os descendentes e a posteridade, diz o SENHOR.
23 Reduzi-la-ei a possessão de ouriços e a lagoas de águas; varrê-la-ei com a vassoura da destruição, diz o SENHOR dos Exércitos.
Os trechos que identificam claramente o alvo do autor do texto estão destacados acima. Observemos todos:
1) v.4: O autor claramente aponta para um texto profético contra o rei da Babilônia. Deus manda o profeta enviar uma mensagem futura para o rei babilônico, notando sua queda.
2) v.11: O texto fala em uma "cova", algo que é mais fácil ler literalmente do que alegoricamente. Pode-se alegorizar esta "cova" como o inferno? Sim, pode-se. Mas aí, também podemos alegorizar o restante da Bíblia e aceitar todas as suas interpretações, algo que nenhum teólogo sério aceita tranquilamente.
3) v.15: "Reino dos mortos" pode ser entendido como inferno? Sim. Porém, o texto aqui é a tradução do termo "Sheol", um termo de difícil tradução teológica. Em todo caso, vale notar que cria-se, no antigo Israel, que todos os mortos iriam para o "Sheol".
4) v.16: O profeta se pergunta se este rei era o "homem" que atormentava o mundo conhecido. Supondo que Satanás é o anjo caído que imaginamos (Ez. 28, conforme interpretação alegórica, também), ele não pode ser este "homem" listado aqui em Is. 14.
Desta forma, considerando que este "rei da Babilônia" era um homem, precisamos nos voltar ao contexto histórico e entender a religiosidade daquela região. E, neste link, um clássico estudo sobre a religião babilônica, podemos ver que os reis, por serem considerados filhos dos deuses, tomavam para si qualidades divinas, o que poderia levar algum rei específico a, sim, querer se elevar à posição de Deus.
Precisamos considerar, também, que a religiosidade antiga era regida por uma "divindade da terra", onde o poderio de um deus era ditado pela quantidade de vitórias que dava a seu povo. Uma vitória em batalha era sinal do favor daquele deus. Uma derrota era sinal de fracasso do deus ou de aprisionamento, por meio de encantamentos, por parte do outro povo, daquela divindade. O livro "Cidade Antiga", de Fustel de Coulanges, é um clássico sobre o assunto, e leitura obrigatória em aulas de História do Cristianismo I.
Levando-se todas estas fontes em questão, podemos definir que o "rei da Babilônia" descrito em Isaías 14 era, certamente, um governante existente, que estaria tentando assumir para si um caráter divino, por conta de suas inúmeras conquistas militares e poderio imperial. Neste sentido, então, estamos devidamente embasados para reler Is. 14.12
v. 12: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!
Leia a frase acima em voz alta. Leu? Agora leia esta mesma frase em tom de IRONIA. Perceberam? O profeta estava criticando o referido rei, ironizando o seu postulado de querer se colocar como um deus acima dos outros deuses. Ele provavelmente utilizou termos que o próprio rei se atribuiu para ironizá-lo e mostrar que seu fim havia chegado, em um futuro escatológico.
Chegando a esta conclusão, posso tranquilamente interpretar os versículos do Novo Testamento como Jesus Cristo sendo a REAL Estrela da Manhã, aquele que está acima de todos os seres existentes, criados, sejam terrenos ou celestiais, e acima de cujo nome não se pode chegar nenhum nome. As interpretações para Ap. 2.28 são diversas, não entrarei no âmbito da questão aqui, porém é certamente em Ap. 22.16 que podemos nos embasar para aceitar a teologia da música como correta.
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Hoje foi dia de aniversário lá na PIB do Grajaú. Desde a manhã, foi um dia incrivelmente abençoado para todos os presentes. Entretanto, o dia foi ainda mais interessante para mim por conta de uma dúvida levantada por uma adolescente, que acabou alterando o momento de louvor durante o culto matutino.
Tudo começou após o começo do culto. Pretendíamos entoar o louvor "Estrela da Manhã", um louvor antigo, porém com uma letra muito bonita. Enquanto o pastor se preparava para a oração inicial do culto, já dando as boas vindas a todos os presentes, uma das jovens participantes da equipe, que não estava na escala, me fez uma pergunta que me surpreendeu: Ela teria ouvido que esta "estrela da manhã" seria uma definição para Satanás, na Bíblia. Na hora me surpreendi, pois não me lembrava de nada do tipo na Bíblia. Então ela me mostrou sua Bíblia comentada, apontando para Isaías 14.12-15. Aquela Bíblia afirmava, com todas as letras, que "Estrela da Manhã" era Lúcifer, o anjo que tentou tornar-se acima de Deus.
Totalmente desconsertado, imediatamente suspendi a música do louvor, levando-me a investigar este termo. Foi-me bem lembrado que o termo "estrela da manhã" aparecia diversas vezes no Novo Testamento, o que me levou a fazer uma pesquisa apurada sobre o termo e sobre Isaías 14. Aqui estão os passos e resultados desta pesquisa:
1º Observar os originais: Com 3 anos de seminário, um aluno já é capaz de ir nos originais e identificar alguns termos, com ajuda de dicionários e outras ferramentas, que identifiquem o original daquele termo. O termo no hebraico é "hilel", que pode ser traduzido literalmente como Vênus, "o que brilha" ou "estrela da manhã". O termo é enigmático, e, tirando todo o texto fora de contexto, realmente sua interpretação parece dar margem a ser Satanás. Vejamos o texto:
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.
Existia um passo mais simples para tirar esta dúvida. Porém, acabei dando uma volta completa para tal. Vamos refazer estes passos:
2. Analisar outras instâncias do termo na Bíblia.
Como sempre associamos Jesus Cristo à "Estrela da Manhã", ao cantar o cântico (totalmente de adoração), fomos atrás do termo no Novo Testamento. Existem três textos com estes termos:
2 Pd. 1.19: Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração...
Neste versículo, "estrela da alva" está com o termo "phosphoros" no texto grego original. É um termo usado para se referenciar a Vênus, ou a Estrela d'Alva como a conhecemos nos dias de hoje.
Ap. 2.28: ...assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
Neste versículo, os termos no original estão separados para "estrela" e "manhã". O problema de comparar Jesus à estrela da manhã aqui é que as palavras são do próprio Jesus, segundo a revelação de João.
Agora vem o versículo de onde certamente o autor tirou o termo para sua música e de onde o conhecemos:
Ap. 22.16: Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.
Neste versículo, é bem claro: Jesus se entitula como a "Estrela da Manhã". O adjetivo "brilhante" é apenas um qualificador de um termo triplamente composto, no original: "a brilhante", "a estrela", "a manhã".
Tendo este último versículo em vista, precisamos nos curvar ao tema da música. Ela estaria correta: Jesus é a "Estrela da Manhã", na Bíblia. Este qualificador tem inúmeras conotações teológicas, que todos podem conferir em seus comentários, por isso não entrarei nesta questão, pois meu objetivo tornou-se entender a seguinte aparente contradição bíblica: se a "Estrela da Manhã" é Jesus, como poderíamos interpretar a "Estrela da Manhã" de Is. 14.12-15 como Satanás?
Nesta hora, lembrei-me de minhas aulas com o Prof. Osvaldo, de Exegese do AT, e dos professores Dionísio e Enildes, de Metodologia Exegética do NT. Todos sempre fizeram questão de enfatizar o seguinte:
O Antigo Testamento, antes de ser polissêmico, tem um sentido histórico para o povo da época. A Palavra de Deus deve ser encontrada no sentido histórico do texto, ou seja, o motivo pelo qual o autor escreveu aquele texto naquela época.
É claro, eu creio na visão polissêmica da Bíblica, ou seja, que alguns textos proféticos contêm interpretações para a própria época e para uma era posterior. Se não fosse assim, jamais poderia crer, como cristão, que o Antigo Testamento revela, em muitas partes, a vinda de Jesus Cristo, o consumador da lei.
Tendo isto em vista, eu me perguntei: E o contexto histórico do texto, qual era, quando Isaías o escreveu? Não sou um especialista ou doutor em AT, porém não é preciso sê-lo para ler exatamente o que está escrito na perícope completa do trecho, que era o que deveria tê-lo feito desde o começo. Confesso que, antes de fazê-lo, ainda fui buscar informações e diálogos sobre o trecho em vários comentários, tanto em minha biblioteca quanto na internet. Enfim, leiamos a perícope inteira, que vai do v. 4 ao v. 23. A versão é a Almeida Revista e Atualizada da Bíblia Online (www.bibliaonline.com.br):
4 ¶ então, proferirás este motejo contra o rei da Babilônia e dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania!
5 Quebrou o SENHOR a vara dos perversos e o cetro dos dominadores,
6 que feriam os povos com furor, com golpes incessantes, e com ira dominavam as nações, com perseguição irreprimível.
7 Já agora descansa e está sossegada toda a terra. Todos exultam de júbilo.
8 Até os ciprestes se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano exclamam: Desde que tu caíste, ninguém já sobe contra nós para nos cortar.
9 O além, desde o profundo, se turba por ti, para te sair ao encontro na tua chegada; ele, por tua causa, desperta as sombras e todos os príncipes da terra e faz levantar dos seus tronos a todos os reis das nações.
10 Todos estes respondem e te dizem: Tu também, como nós, estás fraco? E és semelhante a nós?
11 Derribada está na cova a tua soberba, e, também, o som da tua harpa; por baixo de ti, uma cama de gusanos, e os vermes são a tua coberta.
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte;
14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.
16 Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos?
17 Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades? Que a seus cativos não deixava ir para casa?
18 Todos os reis das nações, sim, todos eles, jazem com honra, cada um, no seu túmulo.
19 Mas tu és lançado fora da tua sepultura, como um renovo bastardo, coberto de mortos traspassados à espada, cujo cadáver desce à cova e é pisado de pedras.
20 Com eles não te reunirás na sepultura, porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos jamais será nomeada.
21 Preparai a matança para os filhos, por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades.
22 Levantar-me-ei contra eles, diz o SENHOR dos Exércitos; exterminarei de Babilônia o nome e os sobreviventes, os descendentes e a posteridade, diz o SENHOR.
23 Reduzi-la-ei a possessão de ouriços e a lagoas de águas; varrê-la-ei com a vassoura da destruição, diz o SENHOR dos Exércitos.
Os trechos que identificam claramente o alvo do autor do texto estão destacados acima. Observemos todos:
1) v.4: O autor claramente aponta para um texto profético contra o rei da Babilônia. Deus manda o profeta enviar uma mensagem futura para o rei babilônico, notando sua queda.
2) v.11: O texto fala em uma "cova", algo que é mais fácil ler literalmente do que alegoricamente. Pode-se alegorizar esta "cova" como o inferno? Sim, pode-se. Mas aí, também podemos alegorizar o restante da Bíblia e aceitar todas as suas interpretações, algo que nenhum teólogo sério aceita tranquilamente.
3) v.15: "Reino dos mortos" pode ser entendido como inferno? Sim. Porém, o texto aqui é a tradução do termo "Sheol", um termo de difícil tradução teológica. Em todo caso, vale notar que cria-se, no antigo Israel, que todos os mortos iriam para o "Sheol".
4) v.16: O profeta se pergunta se este rei era o "homem" que atormentava o mundo conhecido. Supondo que Satanás é o anjo caído que imaginamos (Ez. 28, conforme interpretação alegórica, também), ele não pode ser este "homem" listado aqui em Is. 14.
Desta forma, considerando que este "rei da Babilônia" era um homem, precisamos nos voltar ao contexto histórico e entender a religiosidade daquela região. E, neste link, um clássico estudo sobre a religião babilônica, podemos ver que os reis, por serem considerados filhos dos deuses, tomavam para si qualidades divinas, o que poderia levar algum rei específico a, sim, querer se elevar à posição de Deus.
Precisamos considerar, também, que a religiosidade antiga era regida por uma "divindade da terra", onde o poderio de um deus era ditado pela quantidade de vitórias que dava a seu povo. Uma vitória em batalha era sinal do favor daquele deus. Uma derrota era sinal de fracasso do deus ou de aprisionamento, por meio de encantamentos, por parte do outro povo, daquela divindade. O livro "Cidade Antiga", de Fustel de Coulanges, é um clássico sobre o assunto, e leitura obrigatória em aulas de História do Cristianismo I.
Levando-se todas estas fontes em questão, podemos definir que o "rei da Babilônia" descrito em Isaías 14 era, certamente, um governante existente, que estaria tentando assumir para si um caráter divino, por conta de suas inúmeras conquistas militares e poderio imperial. Neste sentido, então, estamos devidamente embasados para reler Is. 14.12
v. 12: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!
Leia a frase acima em voz alta. Leu? Agora leia esta mesma frase em tom de IRONIA. Perceberam? O profeta estava criticando o referido rei, ironizando o seu postulado de querer se colocar como um deus acima dos outros deuses. Ele provavelmente utilizou termos que o próprio rei se atribuiu para ironizá-lo e mostrar que seu fim havia chegado, em um futuro escatológico.
Chegando a esta conclusão, posso tranquilamente interpretar os versículos do Novo Testamento como Jesus Cristo sendo a REAL Estrela da Manhã, aquele que está acima de todos os seres existentes, criados, sejam terrenos ou celestiais, e acima de cujo nome não se pode chegar nenhum nome. As interpretações para Ap. 2.28 são diversas, não entrarei no âmbito da questão aqui, porém é certamente em Ap. 22.16 que podemos nos embasar para aceitar a teologia da música como correta.
Parabéns! Muito coerente a forma de interpretação do texto.
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