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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Jesus, meu melhor amigo... Amigo?!

Uma das coisas que mais gosto de fazer quando estou no trânsito é ouvir debates teológicos nas rádios. Faço isso não porque eu goste das respostas ou do nível intelectual das discussões, mas sim porque é uma ótima forma de analisar o estado do cristianismo evangélico atual. A cada dia que faço isso, fico mais e mais chocado sobre os caminhos que estamos seguindo. São pequenos detalhes, pequenas colocações, detalhes que podem passar imperceptíveis mas que nos ajudam a entender o quadro completo e sistêmico do cristianismo brasileiro atual.

Dia desses, ouvindo esta rádio, pude pescar um destes pequenos detalhes. Um pastor, de igreja conhecidamente neopentecostal, mencionou que Jesus queria ser o "melhor amigo" daquele que não cresse nele. Ao ouvir isso, rapidamente percebi que ele não comentou sobre o Cristo "Salvador", muito menos o Cristo "Senhor". Não. Para aquele pregador, a ênfase para apresentar a Jesus foi a de mostrá-lo como uma futura amizade para aquela pessoa.

Ao ouvir isso, comecei a pensar nas possíveis implicações desta visão diminuída de Cristo por parte dos cristãos de hoje. São muitas, que gostaria de aumentar com o tempo. As que me vieram à cabeça são:

1. O Senhor ordena, o amigo sugere: Jesus, em diversos momentos, ordenou que seus discípulos fizessem algumas coisas, como sair por todo o mundo e fazer discípulos (Mt. 28.19), agir com bondade perante o próximo (Mt. 5.16, 22, 24, dentre tantos outros) e amá-lo como a si mesmo (Mt. 22.39), amar a Deus sobre todas as coisas (Mt. 22.37), não amar as riquezas (Mt. 6.24, 13.22). Vê-lo apenas como um amigo pode fazer com que vejamos a Ele como alguém que sugere que façamos algo, mas que não precisamos levar muito a sério se não quisermos.

2. O Senhor faz a Sua vontade, o amigo faz a vontade do outro: Jesus veio ao mundo por vontade do Pai para nos salvar (Jo. 3.16) e tem uma vontade que é boa, perfeita e agradável para nós (Rm. 12.2), que pode nos parecer incompreensível, mas tem final glorioso (1 Co. 2.9). É desejo do Senhor que façamos a vontade de Deus (Mc. 3.35). O amigo, porém, apenas pensa em ajudar o outro a ter aquilo que ele quer. Esta visão é muito reducionista e elimina completamente a ideia de que os desígnios e vontade de Deus são o que há de melhor para nós.

3. O Senhor diz não, o amigo diz sim: Sabemos que, dentro da vontade de Deus, podemos ter nossos pedidos e anseios negados, pelo simples fato de não serem o melhor para nós. O amigo, porém, sempre nos dirá sim, pois ele quer nos ver alegres. É outra forma simplista de entender a ação de Cristo em nossas vidas.

4. O Salvador liga o homem ao futuro, o amigo ao presente: A missão salvífica de Cristo não foi para este mundo, mas para o porvir (Jo. 18.36, Mt. 6.20).

5. O Salvador santifica, o amigo aceita como está: Talvez o maior perigo que podemos enfrentar nesta visão: Enquanto o processo salvífico busca transformar a vida da pessoa (1 Pd. 1.16, Cl. 1.12, Ef. 5.3), a visão de um Cristo amigo leva o homem a ver um Jesus que aceita perfeitamente a pessoa como ela está sem exigir mudança de comportamento. Jesus passa a ser apenas um meio de graça para a pessoa, ou seja, passa a ter o mesmo papel dos santos católicos.

Existem muitos outros argumentos que podem ser levantados, e mesmos estes podem ser contra-atacados (que tal a ideia de que há amigos mais chegados que irmãos?). Porém, o fato é que substituir o Cristo Salvador e Senhor pelo Cristo Amigo é uma redução do papel de Jesus em sua vinda à Terra que nos preocupa e ajuda a entender a aceitação destas igrejas pelas pessoas.

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