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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ser Pastor - Pr. Irland Pereira de Azevedo

SER PASTOR - 1Coríntios 4:1, 2; 1Timóteo 3:1

Pr. Irland Pereira de Azevedo

Chamado pelo Senhor no dia mesmo de minha conversão aos 15 anos e meio, mas entregue nas mãos do Eterno aos seis meses de idade, quando desenganado pelos médicos, fui a Ele dedicado por minha mãe, para “ser como um desses pregadores que aparecem entre nós” – dizia ela ao referir-se a pregadores presbiterianos que iam a Bom Destino, município de S. Fidélis, e falavam de Jesus à nossa gente. Sim, há mais de quatro décadas estou a servir ao Senhor, com alegria, no Ministério da Palavra. E folgo em dizer aos colegas que, se Deus costumasse fazer clonagem, e me quisesse clonar mil vezes, gostaria de ser Pastor mil vezes...

De certo ser pastor é uma infelicidade, uma empreitada penosa e difícil, uma caminhada de desencantos, para quem não for realmente vocacionado pelo Senhor.

Chamado, entretanto, o homem de Deus sente o privilégio de a Ele dedicar o melhor de sua vida, de ao Seu povo servir, de aos homens comunicar a palavra de salvação, não obstante as dificuldades e aflições que lhe sobrevêm.

Mas, que é ser pastor? Qual é o quid proprium, a natureza mesma do ser pastor?

Responde o Apóstolo das Gentes, colega nosso, que “os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1Cort. 4:1), e que a obra do episcopado é excelente (1Tim. 3:1).

Entendo, meus companheiros no bendito Ministério, que SER PASTOR é estar inserido no plano de Deus para a redenção da humanidade. Deus não tem outro plano: nem enviar seus anjos, nem dispor de um imenso amplificador para que Sua própria voz transmita com perfeição, e sem distorções, Sua palavra de redenção[1]. Seu plano consistiu no envio de homens - “Houve um homem enviado de Deus cujo nome era João...” (João 1:6).

 SER PASTOR é ser auxiliar de Cristo, a “remar” no barco de Seu Reino, sob suas ordens; não é ser dono da igreja, nem definidor de seu destino. É, sim, estar com Cristo, para assisti-lo. E é ser mordomo, administrador responsável dos mistérios de Deus, Evangelho que por séculos esteve oculto dos homens e que se manifestou em Cristo.

 SER PASTOR é ser arauto que solene, grave e dignamente anuncia os decretos do Rei; é ser profeta a falar da parte do Senhor; é ser sacerdote, - por que não? - a abraçar as aflições e as dores da humanidade e levá-las à presença do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.

 SER PASTOR é ser mestre, a retirar das despensas de Deus a palavra que instrui, informa, transforma e orienta para o tempo e a eternidade.

 SER PASTOR é ser conselheiro pronto a ouvir, compreender e ajudar; e amigo que tem a palavra oportuna e veraz, a mediar o bálsamo divino para corações feridos.

 SER PASTOR é ser líder do povo de Deus, que aparece menos pela autoridade que reivindica, pelo domínio que pretende exercer, e mais, muito mais, pelo caráter, pela integridade, pelo exemplo.(1Ped. 5:2, 3).

 SER PASTOR não é ser o “faz-tudo”, o “manda-chuvas”, o “super-astro”[2]  a brilhar na ribalta de uma tribuna sagrada que se transforma em  passarela de exibicionismo e vaidade. Não. É ser “preparador”, “treinador”, “habilitador” do povo de Deus para que este sirva, edifique a igreja, promova o Reino de Deus no mundo, cresça enquanto serve, sirva enquanto amadurece e tem por padrão a excelência da estatura do varão perfeito - Jesus Cristo.

 SER PASTOR não é ser super-homem ou semideus. É ser homem, comum, normal, mas sobrenaturalmente habilitado para servir ao povo de Deus. É ser homem de verdade e da verdade. É ter os pés no chão do sofrimento, das necessidades e desafios humanos e a cabeça no céu das provisões divinas para um mundo carente.

 SER PASTOR é ser capaz de no mesmo dia sorrir e chorar, celebrar a vida e consolar na morte; é ter coração simples com de uma criança para perdoar, e forte como de um gigante, para a sucessão muita vez pavorosa, de experiências traumatizantes.

 SER PASTOR é viver no tempo, a edificar para a eternidade; é ser construtor de pontes, pelo mistério e ministério da Palavra, entre o pecador perdido e o Salvador do mundo; entre pessoas que se estranham e agridem-se; entre o sem sentido da História e o sentido que a Palavra revelada aponta; entre as trevas da ignorância espiritual e a luz do Evangelho da graça; é ser embaixador, a proclamar para os homens de todos os tempos: “Reconciliai-vos com Deus”, por isso que a ele foi entregue o ministério e nele foi posta a Palavra da reconciliação.

 SER PASTOR é ser um paradoxo vivo: é ser afligido e estar sempre alegre; é ser pobre e enriquecer a muitos, e parecer nada possuir, e tudo possuir; é vida que se queima no altar de Deus, entendendo como ventura maior viver e servir.

O Pastor dá razão a Tagore quando afirma: “Sonhei que a vida era alegria; acordei e descobri que viver é servir; servi e descobri que servir é alegria”.

 SER PASTOR é participar de uma obra excelente, bela, que dura, que transcende os limites do espaço e do tempo, que glorifica a Deus; é, por isso, o mais belo dos ofícios, a mais gloriosa das missões, o mais compensador dos sacrifícios.

Ser Pastor requer, entretanto, para que seja experiência venturosa, que o homem de Deus viva no centro da vontade do Senhor e tenha a dedicação exclusiva do soldado, a disciplina rigorosa do atleta, a diligência e perseverança do lavrador, a aplicação diuturna do obreiro a dividir bem a Palavra, a abrir caminhos retos para o caminhar seguro e firme do povo de Deus sob seu cuidado e liderança.

Sejamos Pastores assim, conforme o coração de Deus, e como mordomos fiéis da Palavra eterna.