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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Nunca é tarde demais (Artigo publicado no Jornal Batista)

Eu tenho um problema sério na minha vida: Corte de cabelo. Não que não fique satisfeito com os cortes que são feitos, mas porque simplesmente não tenho paciência de ficar esperando para receber o corte. Acho que é tempo perdido, tempo que eu poderia estar usando fazendo algo mais útil. Um dia desses, porém, acabei sendo surpreendido com um corte bem feito e com uma boa conversa, que me fizeram pensar sobre a manifestação da vontade de Deus em nossas vidas.

Uma bela tarde no trabalho, um colega disse que estava saindo para aparar suas revoltas madeixas e decidi que minha cabeleira necessitava de um merecido trato. Não conhecia o local onde ele ia, mas resolvi segui-lo, afinal ele disse que cortava seus cabelos nesse local desde criança. Ao chegar, percebi que era um ambiente amistoso e fiquei tranqüilo. Fui logo pegar uma revista que falava sobre a descoberta da tal “partícula de Deus” (que de Deus não tem nada, mas isso é tópico para um outro dia). E fui eu esperando, impaciente.

Após esperar uns quinze minutinhos, chegou minha vez. Sentei e rapidamente o barbeiro foi puxando papo. Dia frio daqui, chuva dali, e o senhor de aproximadamente cinquenta e muitos anos disse que o trânsito para sua casa era ruim, mas que ele saía da “aula” às 22:30, por isso conseguia chegar em casa em uma hora. Nem me impressionei com o fato dele morar em uma rua não calçada, mas sim com o fato dele estudar. Perguntei imediatamente que curso ele fazia, já pensando, em minha cabeça preconceituosa, que era algum curso técnico. A surpresa foi imediata: Ele fazia Direito.

Daí pra frente, o papo rendeu. Ele dizia que estava na luta para terminar o curso, que tinha planos de fazer alguns concursos públicos, que advogaria um tempo se não conseguisse passar em algumas provas. Minha surpresa foi aumentando e meu ego rapidamente diminuindo. Quando falei que era pastor, aquele senhor não apenas se mostrou feliz como começou a puxar assuntos bem atuais, como a ministração de aulas de religião no ensino público. Aí pude perceber que aquele senhor, que vivia em uma região rural de São Gonçalo, estava me dando uma verdadeira lição de vida enquanto aparava meu cabelo: Deus pode agir nas nossas vidas a qualquer momento, mesmo quando achamos que é tarde demais.

A tendência do ser humano é acreditar que, após uma certa idade, ele não pode mais realizar algumas atividades. Algumas limitações acabam, de fato, impedindo que façamos algumas coisas no nível que fazíamos quando mais jovens. Não corremos com tanta desenvoltura, não temos o mesmo fôlego, nossas mãos parecem não obedecer nossos comandos. Contudo, isso não significa que não podemos trabalhar, sermos úteis na sociedade. Apenas o foco muda, o esforço é redirecionado, as competências se tornam diferentes e as atividades são reposicionadas de acordo.

Em nossos meios cristãos, muitas vezes, sofremos tremendamente com essa visão. Vemos várias pessoas com uma capacidade enorme e um dom espiritual mapeado que não desejam trabalhar ou aprimorar seu talento porque acham que “passaram do ponto”. Acham que suas famílias, seus exíguos períodos de descanso, suas atividades seculares, os impedem de querer fazer algo a mais no reino ou em suas próprias vidas. Dizem que o trabalho é para os mais novos, para os que não possuem dupla jornada, para os que “ainda tem gás”. E, assim, vivemos com uma dificuldade cíclica de encontrar pessoas capacitadas e experientes para trabalharem na obra do Senhor.

Ao pensar na história de vida daquele barbeiro, tiro três lições vitais para meditar sobre a ação de Deus em nossas vidas:

Primeiro, nunca é tarde demais para recomeçar. Aquele barbeiro, mesmo já em plena meia idade, decidiu que era hora de investir seu tempo buscando conhecimento e uma nova formação. Eu lembro de Moisés, que resolveu seguir a vontade de Deus aos oitenta anos e imagino o que teria sido do povo de Israel se ele tivesse decidido não obedece-lo por achar que estava velho demais para liderar o povo escolhido pelo Senhor. Para Deus, nunca é tarde demais para recomeçarmos, pois Ele não vê idade. Ele vê corações dispostos a servi-lo e adequa seus planos às limitações físicas que possuímos.

Segundo, nunca é tarde demais para se dedicar de corpo e alma no serviço do Reino de Deus. Muita gente acha que, por ter algumas limitações de tempo, forças ou qualificação, não podem se dedicar à Obra. Não percebem, porém, que há muita coisa a fazer no Reino e que, se cada um contribuir com um pouco, o serviço pode ser realizado de forma mais ágil. Aquele barbeiro poderia dizer que o tempo o limitou mentalmente para estudar, mas ele não se importou com isso e foi estudar. Lembro de quando o Senhor orientou Moisés na escolha das pessoas que iriam construir o tabernáculo. Penso que havia, ali, pessoas de variadas profissões e idades, mas o Senhor os capacitou para a sua obra e certamente organizou o povo de forma a que cada um pudesse colaborar conforme suas limitações. Às vezes, na igreja, uma mera responsabilidade de cuidar da água usada pelos pastores durante o culto pode fazer toda a diferença.

Terceiro, nunca é tarde demais para alterarmos nossas rotinas. Aquele barbeiro não pensou que sua idade era um fator limitador para buscar uma nova carreira. Nem sequer considerou que aquela seria sua rotina enquanto vivesse. Da mesma forma, precisamos perceber que nunca é tarde demais para mudarmos algo em nossas vidas, para mexermos com nossas zonas de conforto, nossos horários, nossas agendas. Se analisarmos nossas atividades semanais, verificaremos que desperdiçamos muito tempo com coisas que não são vitais, que são perfeitamente supérfluas. São as novelas, as séries, os filmes, a Internet. Gerenciamento de tempo é vital nos dias de hoje e deveria ser um tema lembrado em nossas pregações. Aquele barbeiro provavelmente tem família, mas teve que abrir mão de algum tempo livre para poder estudar. Pedro, Tiago, André e João eram pescadores, trabalhavam o dia inteiro, mas largaram tudo para seguirem a Cristo, confiando que Ele os proveria. Que tal você largar uma ou duas horas semanais de alguma atividade supérflua para trabalhar na obra? Que tal abdicar de meia hora diária para buscar uma vida de intimidade com o Senhor, lendo a sua Palavra e conversando com ele em oração?

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