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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Teologia dos Cristãos Alemães (Comunicação apresentada no Seminário do Sul em março de 2012)

Introdução: É difícil imaginar que, um dia, nazistas e cristãos tentaram andar lado a lado para atingir seus objetivos. Enquanto Hitler tentava cooptar a população alemã, mostrando-se como um devoto cristão, que ia à missa e tudo, vários teólogos e lideres da igreja protestante alemã tentavam adaptar sua religião à visão nacional-socialista do mundo.

O resultado desta tentativa de aproximação foi o surgimento de um grupo religioso chamado de “Movimento cristão-alemão”. Surgido originalmente nos anos 20, este grupo decidiu que precisava tornar o cristianismo mais palatável ao governo hitleriano. Para isso, perceberam que alguns parâmetros precisavam ser atingidos:

1.      A nova religião precisava ser antijudaica.
2.      A nova religião precisava valorizar o sangue alemão e a terra.
3.      A nova religião precisava pregar valores de firmeza, não fraqueza.

Para alcançar estes objetivos, o Movimento Cristão-Alemão adotou algumas estratégias:

1.      Pregou a distinção entre vida eclesiástica e vida civil, através de uma teologia chamada Teologia das Duas Esferas (um homem pode ter uma postura na igreja e outra na vida secular, adotando posições distintas, como um carrasco de campo de extermínio sendo diácono de igreja. É a Teologia do “estava cumprindo ordens” e usava Romanos 13.1-7 para justificar tal postura).

2.      Buscou formas de desjudaizar o cristianismo: O MCA sabia que os nazistas criam que os judeus eram uma raça inferior que poluía o puro sangue alemão. Por isso, precisaram tirar todos os traços de judaísmo do cristianismo. Para isso, adotaram algumas posturas:
a.      O AT foi desconsiderado como canônico.
b.      O próprio Jesus foi “arianizado”, passando a ser enfatizado como Galileu, povo que seria ariano, segundo os nazistas, devido à conquista do Reino do Norte pelos assírios.
c.      O NT foi limpo de termos judaicos, pois considerava-se que a mensagem ariana de Jesus teria sido pervertida, por Paulo ou pelos evangelistas judeus.
                                                     i.     “Hosana” trocado por “Heil”.
                                                   ii.     Rei de Israel trocado por Rei

3.      Buscou ignorar doutrinas essenciais, para evitar “mitologias”: O MCA sabia que os nazistas tinham uma visão do mundo muito cética, por isso buscaram desconsiderar algumas doutrinas conhecidas do cristianismo, como a trindade (difícil demais de entender), o nascimento virginal de Cristo e a sua ressurreição. O conceito de pecado também era descartado (“João 1.47 – “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!” é alterado para “Tu és um verdadeiro homem de Deus em vossa nação”).

4.      Criou publicações mais de acordo com os preceitos nazistas, como um novo NT (As genealogias de Mateus e Lucas, o hino de Maria, João Batista, o assassinato das crianças por Herodes e a fuga ao Egito, Zacarias e Ana, a história dos sábios do oriente, e o título de “rei dos judeus”, foram totalmente extirpados do texto), hinário (com cânticos exaltando a nobre cultura alemã) e catecismo (contrapondo Jesus ao judaísmo, numa luta entre ambos, levando ao triunfo de Jesus na cruz, com direito a mandamentos de manter o sangue puro e honrar o führer e mestre, mas sem menção a morte, roubo ou observação do sábado).

5.      Quebrou dogmas como o sacramento do batismo, ignorando sua possibilidade de salvar um judeu (pois elas não podiam apagar o sangue judeu que corria em suas veias).

3 comentários:

  1. Pr. André, li recentemente o seu livro "Nazismo e cristianismo", que me esclareceu em muitos pontos sobre o tema. Contudo, estranhei a não inclusão na bibliografia de livros recentes sobre o assunto como: "Nazismo e religião", de André Tadeu (Reflexão), "Bonhoeffer, um mártir", de Craig Slane (Vida) e "Bonhoeffer", de Eric Metaxas (Mundo Cristão). Um abraço.

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  2. Pr. André Nascimento20 de março de 2013 às 23:06

    Boa noite, George. Obrigado pelos comentários. A inclusão de livros recentes pode ser justificada pelo fato de que a monografia que escrevi foi feita em 2010, para a graduação de meu curso de Teologia. Creio que o livro do André Tadeu saiu posteriormente. Quanto aos livros sobre Bonhoeffer, o corte da minha pesquisa preferiu não focar na vida dos opositores ao Movimento Cristão Alemão (como Bonhoeffer, Niemoller, Barth e Von Rad) por causa do extenso escopo da pesquisa, então preferi deixar para uma outra oportunidade. Se algum dia continuar a história, certamente irei citar essas histórias. Obrigado pelos comentários e pelas indicações. Abração.

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  3. Prezado pr. André, obrigado pela resposta. Informo-lhe que postei um comentário ao seu livro no meu blog Graça e Saber: http://www.gracaesaber.com/2013/03/nazismo-e-cristianismo.html

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