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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Diários de um pastor: McIgrejas: O que são, e quais são seus traços?

Ontem, coloquei um texto no site que falava sobre o "cristianismo fast-food" que estamos vivendo hoje, com as pessoas correndo atrás de comunidades das quais gostem. Comentamos como o cristão é fugidio, quando ouve ou presencia algo que lhe desagrade em sua igreja, e como várias comunidades e pastores sofrem com isso.

Hoje, quero tecer alguns comentários sobre o outro lado da moeda, pois o fato é que, se as pessoas correm atrás de igrejas que lhe agradem, é porque existem igrejas de diversos tipos, caras e roupagens. Como disse ontem, não há nada de mal nisso. O problema é quando a mensagem da igreja, a mensagem pregada no púlpito, é sacrificada em prol da oportunidade de crescimento. A estas igrejas, já existe um nome consagrado, inclusive com verbete na Wikipedia: A McIgreja, um trocadilho com o termo "Megaigreja".

É notório que estamos vivendo uma crise nos púlpitos de nossas igrejas. A mensagem bíblica é a cada mais trocada pela mensagem temática. No processo, temas vitais para a compreensão do cristão sobre a vida que Jesus descreveu como sendo uma vida correta perante Deus (como pecado, céu, inferno, expiação e salvação) são trocadas por mensagens única e exclusivamente construídas para dar uma vã esperança de total imunidade à desgraça para o fiel que congrega ali. A salvação dá lugar ao bem estar; o pecado não mata, apenas limita a possibilidade de recepção dos milagres divinos; o fiel não é um servo, é um senhor. Sim, pois só o senhor pode exigir algo de alguém. Deus é rebaixado, não é mais Senhor, é servo, servo de nossos desejos e vontades.

Existem vários motivos que levam um pastor ou uma igreja a desistirem da mensagem bíblica. Em alguns casos, existem problemas internos que fazem com que o pastor se sinta alijado da possibilidade de pregar determinado tema. Porém, em vários outros casos, o motivo é simples: Atrair mais gente. Não importa se a mensagem será sacrificada. Não importa se a pessoa não terá a menor ideia do que é "aceitar a Jesus". O que importa são os números: Membros, batismos, entradas. O resto é acessório.

O fato é que a mensagem de Jesus nunca foi fácil ou popular. Pelo contrário, vemos em João 6 que ele se recusa a sacrificar a sua mensagem para agradar a seus seguidores. O resultado é que, após um impulso inicial, apenas doze ficam para desfrutar de três anos de aprendizado com Ele. O Jesus da Bíblia abençoava as pessoas, mas também ensinava. As McIgrejas e os crentes fast-food ignoram esse Jesus dual: Só querem saber da bênção, mensagem que se lixe.

Você pode estar se perguntando, então: Como identificar uma McIgreja? Existem alguns traços que são marca de uma. Percebam, porém, que não necessariamente uma igreja que tenha um ou dois destes traços seja uma McIgreja, assim como podem haver McIgrejas com traços opostos a eles, por estarem em estágios iniciais de crescimento:

1. Número grande de membros: Esse é óbvio. Mas não quer dizer que toda Megaigreja é uma McIgreja. Outros traços são mais marcantes.

2. Templos luxuosos: Para atrair pessoas, as McIgrejas adotam inúmeras estratégias. Uma delas é o investimento de milhões e milhões de reais para criar um local suntuoso de adoração, onde as pessoas possam se sentir parte de algo muito grande e imponente. Alguns locais que vale notar são a Catedral de Cristal, nos EUA, a Cidade Mundial e o Templo de Salomão, no Brasil. 

3. Facilidades luxuosas: Como uma igreja não é feita apenas de santuário, as igrejas possuem facilidades ou atrativos que são igualmente impressionantes e que prendem as pessoas no local. Por exemplo, pistas de skate, fliperamas, open bars, academias de ginástica. Vejam que não sou contra uma igreja possuir espaços de convivência que sejam atrativos em trabalhos missionários ou evangelísticos, porém uma McIgreja dá ênfase na construção desses espaços, investindo mais nisso do que em áreas como missões ou ação social.

4. Mensagens rasas ou não-biblicas: Em McIgrejas, o importante é fazer o indivíduo se sentir bem no local. O confronto, a exortação, são evitados. Por isso, nestas igrejas prevalecem mensagens de auto-ajuda, mensagens relacionadas com a Teologia da Prosperidade e mensagens temáticas. Raramente nessas igrejas se pregam mensagens bíblicas, que visam confrontar o cristão em seu estado e levá-lo a crescer espiritualmente. 

5. Educação bíblica fraca: Nas McIgrejas, privilegiam-se classes temáticas, que visam trabalhar áreas de interesse da pessoa. Assim como as mensagens, os estudos tendem a evitar temas bíblicos profundos, apoiando-se nela apenas para trabalhar o bem estar das ovelhas.

6. Ausência de santidade: O conceito de pecado não é pregado, pois pode fazer as pessoas se sentirem constrangidas de ir ao local. Com isso, o conceito de santidade também é ignorado. O resultado é uma igreja inchada, com pessoas que não compreendem que precisam consertar algumas áreas de sua vida para viver uma vida orientada por Deus. São pessoas que, aos domingos, são crentes, mas de segunda a sábado, são como outras quaisquer. 

7. Propagação de heresias: Em um ambiente onde a Bíblia não é pregada, os ventos de doutrina correm facilmente no seu meio. Basta um ou outro adotar a nova postura para a visão correr solta pela igreja, sem qualquer intervenção da liderança. Sim, pois intervir numa questão doutrinária significa confrontar as ovelhas, o que uma McIgreja nunca faz.

8. Liderança autocrática: Como uma McIgreja não aprende a estudar a Bíblia ou focar sua vivência nela, os líderes tendem a orientar a comunidade segundo suas próprias opiniões. Sem confronto ou um fundamento bíblico para o questionamento, as ovelhas aceitam passivamente esta situação. As que ousam ler a Bíblia e questionar a liderança, são vistos como rebeldes, por estarem indo contra a visão pastoral, e são rapidamente rechaçados. 

9. Liturgia emocional: Em McIgrejas, o objetivo é fazer as pessoas se sentirem bem e felizes ao frequentarem os cultos. Neste sentido, a liturgia é construída para elevar o emocional das pessoas. Muita música, muito jogo de luz, ministrações melosas, louvores que falam que tudo vai dar certo, que podemos "tomar posse" de nossa vitória, testemunhos de conquistas, propaganda do que "Deus vem fazendo aqui", tudo isso leva as pessoas a um estado psíquico de enlevação que faz com que as pessoas quase percam os sentidos. 

10. Pragmatismo: Como disse o Pr. Ricardo Moreira em artigo no Jornal Batista deste fim de semana, o pragmatismo é a visão de que o certo é aquilo que deixa você feliz, que está dando certo, que funciona. O perigo, segundo ele, é que, "em nome daquilo que está funcionando, deterioramos princípios". Ou seja, em McIgrejas, não importa se a pessoa está em pecado, desde que seu ministério esteja funcionando. Não importa se a pessoa está vivendo uma vida podre, desde que esteja vivendo "feliz com Jesus", que tenha "aceitado a Jesus" e esteja desfrutando de suas bênçãos. 

Enfim, como o próprio Pr. Ricardo Moreira disse, hoje a medida do sucesso de uma igreja é mensurada pelo seu número de pessoas, e não por sua santidade e fidelidade às escrituras. Em uma comparação bem forte, porém que ilustra bem o caso, o câncer também se multiplica, e bem rápido, não sendo nada mais do que uma grande massa de células doentes que matam as saudáveis para ocupar seus lugares. Fica aqui a pergunta: Você sente que esta é a sua igreja? Então cuidado: Você pode ser o membro de uma McIgreja.

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