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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Diários de um pastor: Um humilde pitaco sobre o cristianismo e a sociedade

Ontem tive a oportunidade de retomar meus estudos no curso de pós-graduação em Teologia Bíblica e Sistemática-Pastoral do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É um curso dinâmico e desafiador, com professores de alto calibre levantando questões bastante importantes para o melhor entendimento das Escrituras. A cada terça que subo a colina, me sinto mais vivo e animado com a carreira que o Senhor me concedeu, e trabalho com afinco para acrescentar algo ao vasto cabidal de conhecimento criado pelos grandes pensadores nestes dois mil anos de cristianismo.

Na primeira aula de ontem, tivemos a oportunidade de iniciar estudos sobre Cristianismo, Cultura e Alteridade com o Prof. Delambre de Oliveira, e logo de cara, tivemos um bom bate papo sobre como o Cristianismo pode e deve atuar na cultura. A questão toda surgiu quando um aluno questionou se seria ético a um missionário trabalhar entre povos indígenas, pois a sua cultura poderia ser destruída. Este é um questionamento válido, feito por muitos e que já levou a diversas ações de órgãos do governo para impedir o trabalho missionário entre os indígenas.

Primeiramente, para entendermos a questão, precisamos definir cultura. Segundo Edward B. Tylor, cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Se considerarmos esta definição, percebemos que um missionário atua em uma tribo introduzindo novos conhecimentos, mudando sua crença no sagrado, trabalhando a sua moral e lei, analisando seus costumes e hábitos segundo os fundamentos cristãos, para buscar moldar aquela tribo aos padrões cristãos.

Quando penso em cultura, porém, reduzo-a a quatro grandezas básicas, dos mais abstratos aos mais visíveis: Suas crenças, seus valores, seus costumes e seus elementos. As crenças geram valores, que levam à criação de costumes e elementos para externá-los. Por exemplo, no meio judaico, a crença de que o seu povo é separado dos demais levou ao valor de marcar esta separação corporalmente, através do costume da circuncisão, que traz elementos como a festa, o aparelho usado no corte e a pessoa responsável.

A grande questão é que, no meu entendimento, muitos dos elementos de uma cultura podem ser resignificados, gerando novos costumes e valores com base na crença de que Jesus Cristo é o Filho de Deus e tem o melhor para nós. Neste sentido, uma cultura indígena pode preservar muitos de seus elementos, como as festas, danças e ritmos, enquanto que outros podem ser transformados, como o infanticídio de pessoas com deficiências físicas.

No passado, tivemos problemas com este diálogo entre cristianismo e cultura. No século XIX, quando os primeiros missionários americanos chegaram ao Brasil, trataram a cultura brasileira como um todo como abjeta. Por isso, trouxeram uma liturgia completamente estrangeira, que limitou a aceitação do evangelho por muitos anos. O único instrumento "santo" era o órgão, a única melodia correta eram os hinos e salmos. Nesta época, piano era instrumento de cabaré e considerado profano.

Com o tempo, algumas aberturas começaram a ser feitas, com a introdução de outros instrumentos na liturgia, porém a música e os ritmos continuaram os mesmos. Somente nos últimos tempos, os ministros de música perceberam a riqueza da cultura brasileira, introduzindo elementos culturais tupiniquins no culto tradicional, como percussão, estilos e batidas musicais brasileiras, melodias e cânticos ao estilo Bossa Nova, dentre outros.

Quando passamos a entender e aceitar que os elementos de uma cultura podem trazer novas conotações, conseguimos ver com melhores olhos e sem preconceitos um grupo de coreografia, uma banda de rock gospel, um grupo de street dance ou mesmo algo simples como um mímico ou um palhaço missionário. Tudo isso são elementos da nossa cultura que atraem as pessoas e que podem ser utilizados como canais de propagação do evangelho de Cristo através de sua ressignificação. E se você duvidar disso, procure saber a história da melodia de "Castelo Forte", um dos clássicos de nosso Cantor Cristão. Você vai se surpreender.

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