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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Teologia Paulina vs. Teologia de Resultados (Pr. Fabricio Cunha)

Em minha pouca experiência de vida e, menor ainda, no contexto eclesiástico, tenho me impressionado com a velocidade da dinâmica das mudanças no seio da Igreja evangélica. Junto a isso, a diversidade de sistemas, ferramentas, livros, visões, e uma enorme gama de características que compõem o ambiente evangélico, têm me causado um sentimento duplo, que se constitui, em primeira instância, de uma confusão mental generalizada e, num segundo momento, agrava-se com o sentimento de medo e perplexidade face à falta da idéia de onde chegaremos como igreja.

Práticas como a Teologia da Prosperidade, têm suplantado a doutrina bíblica e outras tantas, tais como a da maldição hereditária, a banalização da batalha espiritual, a doutrina do “eu determino”, têm tomado o lugar da “mensagem da Cruz”, tão pouco pregada nos púlpitos evangélicos contemporâneos.

Entretanto, um outro tipo de teologia é o que mais me preocupa, a Teologia dos Resultados. Tal teoria, vinda principalmente dos EUA, tem se tornado “lei” no que diz respeito a assuntos como a evangelização, o crescimento de igrejas, a liderança e em outros de ordem primária na vida eclesiástica. A suposta semelhança com a doutrina bíblica e o aparente cumprimento das principais ordenanças da Palavra, levam muitos a quase canonizarem tais ensinamentos, além de revolucionarem sua grei usando esta doutrina por base.

Ao olhar para a Teologia Paulina, não vejo espaço para tais práticas comuns no contexto da Teologia dos Resultados e, ao compara-las, posso pontuar a existência de um grande abismo entre uma e outra.

Dois pontos preponderantes desta doutrina contemporânea são a escolha de um indivíduo por sua “combinação” com a visão do grupo e por sua “capacidade”. Se fosse por estes dois pontos, muitos dos primeiros crentes, dentre eles os próprios apóstolos, estariam de fora do rol de membros de nossas congregações. Em contrapartida a isso, vemos nos escritos de Paulo que a “dependência” e não a “capacidade” constitui-se o fundamento de um ministério bem sucedido. Que se dirá então da base tríplice onde tais líderes se apóiam: a afirmação no que são bons, a predominância do mais forte e o perfil empresarial. Todos pontos totalmente escusos da Teologia de Paulo que se fundamenta no “…quando sou fraco é que sou forte…”, na predominância do mais humilde e n perfil relacional (“Lembre-se de quem o aprendeste…” e não “do que” aprendeste). Além do que, se Paulo fosse organizar um congresso hoje (o que já acho muito improvável) tenho certeza que o tema não seria “O Líder e Sua Visão” ou “A Visão Para Hoje” temas comuns atualmente, mas talvez fosse “O Espinho na Carne” ou “Aperfeiçoamento na Fraqueza”. Seus seminários não seriam para se adquirir novas ferramentas e visões mas para se ensinar as antigas práticas como a da oração, a do jejum e a da pregação expositiva.

Creio que Paulo não comprometeria a mensagem a verdade da cruz só para contabilizar mais mãos levantadas que dizem que aceitam um Jesus que não conhecem, mas continuaria com o discurso da busca incansável pela plenitude da varonilidade, do negar-se a si mesmo e da perseguição para os que querem viver piedosamente. Paulo não tinha uma mentalidade aglutinadora e curralista, mas pessoal  comunitária. Basta lermos suas introduções e suas despedidas cheias de carinho e pessoalidade, além de suas preocupações com comunidades que ele ainda sequer havia conhecido pessoalmente.

Isso tudo nos leva a um grande sentimento de egoísmo, busca de grandeza e confusão. Se fôssemos mais iguais a Paulo e se vivêssemos sua Teologia (“…sede meus imitadores como eu sou de Cristo…”), o “resultado” tão cegamente almejado seria bem diferente. Passaria de uma busca do concreto a uma contemplação do sobrenatural, de um apelo material ao anseio pelo espiritual, de uma irreal expectativa a uma concreta gratidão.

Autor: Pr. Fabricio Cunha, pastor de juventude da Igreja Batista de Água Branca

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