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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Diários de um pastor: Sobre escravidão, servos e Senhores

Recentemente, tive a oportunidade de completar a leitura de um belo livro sobre a sociedade da Ásia Menor nos tempos das cartas paulinas. Este texto me abriu os olhos para muitas questões levantadas pelo texto bíblico e que nós não conseguimos captar com nossos olhos modernos. A leitura de textos deste tipo sempre é salutar, pois muitas possibilidades sobre o texto bíblico se revelam.

Ao realizar a leitura, o autor descortinou a situação dos escravos durante esta fase da história e esclareceu que esta classe social vivia de forma diferente do que imaginamos. Uma das questões que saltou aos meus olhos era o fato de que muitas pessoas se vendiam para pessoas ricas, tornando-se, assim, escravas. Mas por que elas fariam isso?

Segundo o autor, os escravos da época eram relativamente bem tratados, sendo vistos por seus senhores como bens de produção, e não bichos, como no escravagismo americano e brasileiro. Como bens de produção, deveriam ser desenvolvidos, por isso recebiam alimentação, roupas e uma pequena remuneração. Alguns eram educados, recebendo instrução para servirem como médicos ou pedagogos nas casas. Ou seja, pessoas entregavam-se em servidão para uma pessoa, em troca de segurança, sustento e capacitação. Não era algo universal, mas era a forma como a maioria dos escravos era tratada na era de Paulo.

Por outro lado, o livro também comentou sobre o conceito de redenção, pois esta era uma das formas de um escravo se tornar livre. Nesta situação, um escravo poderia comprar a sua liberdade, pagando ao seu senhor uma soma monetária para poder voltar ao estado de homem livre. Muitos eram os escravos que economizavam ao longo de sua vida para alcançar as condições necessárias para adquirir sua liberdade. Para os senhores, era vantajoso aceitar tal processo, pois geralmente o escravo precisava pagar o que havia custado, quando comprado, e o senhor podia trocar, desta forma, um escravo mais velho por outro mais novo, renovando sua mão-de-obra.

O fato é que, ao ler este livro, pude compreender melhor a questão da redenção que adquirimos em Cristo Jesus e a aparente incongruência da liberdade que adquirimos ao nos libertarmos do pecado, com o senhorio de Cristo, seguindo, desta forma, os seus mandamentos:

1. O conceito de redenção é mais simples de entender: O homem era escravo do pecado, da morte, porém foi redimido mediante o pagamento de sua libertação. Este pagamento foi feito pelo derramamento do sangue de Jesus Cristo na cruz do calvário, oferta perfeita, por ser o filho perfeito de Deus. Com esta redenção, tornamo-nos livres para viver desprendidos dos prazeres pecaminosos que o mundo nos oferece e que nos afasta de Deus.

2. Já o conceito do senhorio de Cristo torna-se menos complicado com a explanação do autor do livro que li: Sendo livres, podemos viver segundo nossas mentes, livres da influência dos prazeres do mundo, porém a vida torna-se bastante penosa. Ao nos colocarmos debaixo do senhorio de Cristo, entregando nossa vontade e nossos rumos em suas mãos, confiamos que Ele é bom para nos orientar, sustentar e capacitar para vivermos uma vida abundante e feliz. Aos olhos humanos, pode parecer uma falta de liberdade. Porém, aos olhos espirituais, a mudança de vida revela a liberdade que temos, de agir não mediante os desejos de nossa carne, mas sim mediante a orientação de um Pai que nos ama a ponto de permitir que ajamos contra os seus desígnios.

É claro que abordei, aqui, apenas um aspecto do complexo dogma da salvação. Contudo, uma pessoa que não é evangélica, ramo do cristianismo que mais chama atenção pelos seus costumes conservadores, sempre questiona a vivência do fiel pelo prisma da liberdade de fazer o que bem entende. Entender a cultura da época bíblica nos ajuda a compreender mais a fundo o que o autor pretendia ao utilizar os termos que utilizou, traduzindo melhor a mensagem bíblica para os dias atuais. Paulo escreveu para uma sociedade concreta, com elementos de discurso que faziam sentido ao povo de sua época.

Ser servo de Cristo significa compreender que a vida é cheia de situações complexas e que Cristo é um senhor bondoso, que deseja o nosso melhor e, por isso, nos guia e ensina a tomar decisões e fazer escolhas que só irão nos abençoar, por mais que elas pareçam loucura aos olhos do mundo.

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