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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Teologia do Quadrado (Tt. 1.9, Hb. 3.12-13, Cl. 3.16, Gl. 6.1, Ef. 4.2)

O Facebook pode ser uma praga, às vezes, porém ela pode nos levar a uma inspiração que nos leva a meditar sobre algum aspecto de nossas vidas. E foi exatamente em um momento desses que tive uma meditação legal sobre o estado de nosso cristianismo.

Tudo começou com uma singela frase de um irmão de minha igreja e amigo de longa data. Ele comentou que era muito ruim receber críticas de pessoas que tinham sua vida totalmente errada. Até aí, nada demais. Realmente, é ruim mesmo ver pessoas com traves no olho criticando seu cisco. Porém, ele completou a frase com um conhecido ditado contemporâneo: "Cada um no seu quadrado".

Logo que vi a mensagem, respondi que não era adepto da "Teologia do Quadrado", e meu pastor riu da definição, dizendo que nunca havia falado desta "Teologia". Foi então que meditei sobre o tema e percebi que, hoje, vivemos em muitas de nossas igrejas exatamente isso. A "Teologia do Quadrado".

E o que é essa Teologia, você me pergunta? É simples: É a ideia que muitos cristãos têm de que eles devem viver conforme suas consciências, suas ideias, seus corações, independente do que outras pessoas ou fontes possam dizer. Isso, na verdade, não é característico do cristão: É um traço da cultura pós-moderna. Em nossa sociedade, houve uma diluição dos valores. Hoje, o indivíduo é autônomo em seus ideais e valores, e ignora valores superiores, metafísicos. É por isso que se diz "Cada um no seu quadrado":
Todos querem viver suas vidas sem interferência, comentários, conselhos ou exortações de outras pessoas.

O que se vê em muitas igrejas, hoje, é exatamente isso. Não é à toa que as igrejas que mais crescem no Brasil são as igrejas em que não há nenhuma vinculação de membresia. As igrejas deixaram de ser comunidades formadoras de discípulos para serem lojas da fé, mercados e hospitais onde as pessoas entram e saem de acordo com sua vontade para receber a bênção que desejam. Se concordam com a mensagem pastoral, permanecem. Se discordam, saem e buscam outra que se alinhe aos seus valores pessoais.

Neste meio, o trabalho pastoral acaba sendo muito prejudicado. Como as pessoas dão mais valor à sua própria consciência, ignoram completamente a mensagem bíblica e o conselho pastoral. São pessoas de coração duro, que não entendem suas posturas muitas vezes pecaminosas como algo errado, por mais que se explique as consequências nefastas destas posições. É como o velho "Nada a ver". O que as pessoas fazem não tem "nada a ver" com Deus, pecado, vida espiritual. Falar mal dos outros pelas costas não tem nada a ver. Ter relações sexuais antes do casamento não tem nada a ver. Ir pra balada e beber não tem nada a ver. Com isso, quando são questionadas, acabam adotando a postura do quadrado: "Não se meta na minha vida, que eu me entendo com Deus". O problema é que não há como "se entender" com Deus sem ler a sua Palavra, e a Bíblia nos aponta alguns caminhos sobre o assunto:

1. É função ministerial a exortação (Tito 1.9): Paulo aconselhou os aspirantes ao pastorado a exortarem suas ovelhas no "reto ensino", ou seja com base nas Escrituras (Cl. 3.16a). Exortação sem Palavra é opinião.

2. É uma atividade da igreja a exortação mútua (Hebreus 3.12-13): O autor, aqui, aconselha aos irmãos da igreja a se exortarem mutuamente (em um diálogo, um a um, e não em confusões grupais), para que o grupo não fosse contaminado em seus corações pelo pecado. E notem que o autor percebe que o pecado engana, ou seja, ele não se apresenta como pecado e leva a pessoa a crer que o que ela está fazendo NÃO é pecado.

3. A exortação deve ser sábia (Colossenses 3.16): Paulo recomenda à igreja de Colossos que se aconselhem e instruam com sabedoria. E nota-se que deve ser acompanhada de louvores a Deus, o que denota que ela deve ser vista como algo benéfico, vindo do Alto para que possamos melhorar em nossas vidas espirituais e nossa busca por uma vida sadia e santa. Um outro detalhe é que críticas destrutivas, de cunho ofensivo, não são sábias, mas só servem para gerar mágoas e divisões.

4. A exortação deve ser branda (Gálatas 6.1): Em nossa ânsia pelo zelo, podemos incorrer no erro de nos irar na hora de corrigir alguém (confesso, aqui, meu pecado). Paulo, porém, exorta a igreja da Galácia a corrigir aqueles que falharam com espírito de brandura, ou seja, de mansidão, um dos aspectos do fruto do Espírito.

5. A exortação deve ser feita com amor (Efésios 4.2, 1 Corítios 4.21, 16.14): No diálogo entre os cristãos, deve-se considerar que problemas surgirão. Porém, devemos sempre ter no coração o espírito de amor pelo próximo. Exortamos, aconselhamos, não por causa dos outros, mas por causa da própria pessoa exortada, porque a amamos e queremos o melhor para a vida dela. E este deve ser o espírito do conselho no seio da igreja.

Conclusão

Eu sei que esta palavra encontrará MUITAS críticas. É natural, pois uma igreja onde cada um vive no seu quadrado dificilmente demonstra ou desnuda seus problemas. É uma igreja mais fácil de liderar, mais fácil de pertencer. Entretanto, creio que esta não era a intenção de Cristo para seu povo. Ele queria que as pessoas conversassem entre si abertamente e se sustentassem espiritualmente. Se não fosse assim, não faria sentido o texto de Mateus 18.15-17.

Em suma, eu creio que a exortação, o conselho, a instrução, são partes vitais do ministério pastoral e da vida comunitária na igreja. Todos os cristãos deveriam compreender isso e, a partir de uma humilde reflexão, se abrir para este saudável diálogo. Somente assim, uma comunidade pode se chamar de Comunidade Terapêutica.

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