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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Heresia da Prosperidade - Parte II: Prosperidade no Salmo 128

Esta semana, estou buscando retomar minhas atividades de redação de textos aqui para o blog. Minha intenção, como sempre, é abençoar as pessoas que eventualmente possam encontrar este endereço, seja pelo Twitter, pelo Facebook, pelo Orkut, pelo Google ou por outras fontes de origem.

Há algumas semanas, comecei a trabalhar a Heresia da Prosperidade, o mal que considero ser o maior desafio já enfrentado pela igreja cristã nos últimos 200 anos. Na época, trabalhei o Salmo 126, usado por um pastor em uma mensagem transmitida em uma popular rádio gospel no Rio de Janeiro. Hoje, continuando minha leitura bíblica, me deparei com o Salmo 128 e descobri uma linda pérola poética que ajuda no processo de destruição deste castelo de cartas que é a teologia da saúde e da riqueza (tradução literal do termo original em inglês para a Teologia da Prosperidade, "Health and Wealth Gospel").

O texto do Salmo 128 apresenta-se abaixo:

Como é feliz quem teme ao Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero. Sua mulher será como videira frutífera em sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa. Assim será abençoado o homem que teme ao Senhor! Que o Senhor o abençoe desde Sião, para que você veja a prosperidade de Jerusalém todos os dias da sua vida, e veja os filhos dos seus filhos. Haja paz em Israel!


Como os irmãos têm percebido, eu gosto de tirar a numeração dos versículos, pois ajuda a entender o contexto do texto completo, impedindo a tentação de extrair versículos isolados e fazer teologia a partir deles (lembrando que esta numeração não faz parte do texto original do AT e do NT). Ao lermos o texto, percebemos alguns detalhes centrais:


1. O texto fala que é feliz quem teme ao Senhor e anda em seus caminhos.

2. O texto fala sobre bênçãos que um homem recebe ao temer ao Senhor: Felicidade, bens materiais, família.

3. O texto termina falando sobre "paz em Israel".


Ao ler estes três temas e associando-os, percebemos que o autor faz uma correlação entre a responsabilidade individual do homem em temer a Deus, seguindo sua Lei, e o desejo que Israel tenha paz.


O mais interessante, porém, é notar o uso da palavra prosperidade. Esta palavra é usada na Nova Versão Internacional, mas não na Almeida Revista e Atualizada (na ARA, o texto fala que a pessoa "irá bem" e que ele verá "os bens de Jerusalém"). Isso já indica que a palavra pode ser mal interpretada pelos leitores mais rasos da Palavra de Deus.


Mesmo que considerássemos o termo "prosperidade" como sendo a melhor tradução do original hebraico, mesmo que entendêssemos o termo como sagrado, teríamos problemas em adaptá-lo ao conceito de prosperidade que vemos hoje. O motivo é simples e duplo:


1. O texto não promete que o homem não terá lutas, aflições ou doenças. Apenas diz que ele será feliz, bem-aventurado.


2. O texto, em nenhum momento, diz que o homem que teme ao Senhor será rico ou desfrutará de grandes riquezas dadas pelos céus. Pelo contrário, o texto afirma que o homem "comerá do fruto do seu trabalho". Este texto certamente faz referência aos pesados impostos cobrados pela Pérsia aos agricultores, porém ele deixa claro, independente do contexto mais histórico, que o homem será limitado em seus ganhos ao que ele conquista com seu esforço pessoal. Não há, aqui, qualquer menção de grandes riquezas dadas pelos céus ao homem. Esta história de que o homem, ao se converter, começa a usufruir das riquezas dos céus na Terra, portanto, é pura ladainha de estelionatário querendo extorquir dinheiro dos pobres incautos que entram em suas igrejas.


Ou seja, ao lermos este texto com carinho, compreendemos melhor o conceito de prosperidade no AT: Ter uma vida feliz, uma família grande e unida, e poder ter um ganho honesto com o trabalho de suas mãos. Qualquer coisa além disso, com base neste texto, é heresia.

Pensamentos Ministeriais: 3- A folga pastoral

Há algumas semanas, escrevi um texto sobre a grande dificuldade do pastor de meio período de conseguir encontrar um tempo para descansar. Ao trabalhar de dia secularmente e, depois, dar expediente na igreja, seja atendendo, seja preparando a mensagem para domingo, o ministro acaba tendo grandes dificuldades para arranjar um tempo para gastar com sua família, gerando problemas que, inicialmente, podem ser pequenos, mas que podem se tornar mais volumosos com o correr dos anos.


Ontem, pude refletir bastante sobre o descanso semanal. Nos últimos 4 anos, foram poucas as oportunidades que tive para tirar um dia para não fazer nada. Foi em 2007 que comecei a trabalhar diariamente na rua, e também foi neste ano que comecei a ter aulas no Seminário do Sul. Além disso, nos primeiros anos, dava expediente quase semanal na igreja como líder da equipe de louvor. A partir de 2009, comecei a dividir meu tempo entre o Rio de Janeiro e Araruama, cidade onde minha noiva mora. Com isso, o tempo que eu podia gastar descansando se reduziu aos períodos de férias e eventuais feriados semanais em que eu resolvia ficar no Rio de Janeiro, e mesmo assim, durante as aulas, eu aproveitava estes dias para botar a matéria em dia.


Mesmo depois de me formar, as demandas por tempo mantiveram-se elevadas. Todo sábado, dou aula na igreja pela manhã. Duas vezes por mês, subo para Araruama imediatamente depois. No domingo, estou em dois turnos na igreja, não só assistindo os cultos, mas planejando atividades para a juventude e organizando o Instituto da Bíblia. É verdade, o tempo diário de relaxamento aumentou, com a liberação das minhas noites. Entretanto, o cansaço aumenta conforme os dias vão passando.


Pois bem. Ontem, após várias semanas, tive a oportunidade de tirar um dia apenas para vegetar. Liguei a TV e fiquei o dia inteiro vendo séries, filmes e programas esportivos. Sou bem eclético, por isso vi desde CSI:NY até o draft da NBA (esse, pela internet, pois não foi transmitido na TV nacional), passando pelo jogo entre Brasil e Austrália, pela primeira fase da Copa do Mundo sub-17. Foi um dia de paz e tranquilidade, em que pude relaxar a cabeça e esquecer um pouco as demandas da vida. Até mesmo uma breve faxina em meu apartamento ajudou no processo!


O fato é que, no final do dia, pude perceber o quanto o descanso semanal é necessário para nós. Não foi à toa que Deus instituiu o sábado. Ele o fez para abençoar o homem, para dar a ele condições de encarar o trabalho diário ao longo de sua vida. E o período de 7 dias, com um descanso semanal, foi provado pela história como sendo ideal: Quando, durante a Revolução Francesa, tentou-se mudar o calendário anual para um calendário de 10 dias, com uma folga a cada período, o índice de doenças relacionadas ao trabalho disparou, provavelmente por causa do estresse e cansaço elevado dos trabalhadores.


Ao completar o dia de ontem e chegar hoje ao trabalho, pude perceber que estava muito acelerado e precisando de um dia só pra mim, para esquecer um pouco a vida e me deixar levar. E este é meu conselho de hoje para todos os colegas pastores e seminaristas que estão por aí, na luta em suas igrejas: Não se esqueça do dia de descanso. Ele é absolutamente necessário para a renovação das nossas forças para mais uma semana de lutas.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mensagem PIB Grajaú - 19/06/2011 - "Muito prazer, meu nome é Jesus" (Texto-base Mateus 16:13-17)

Texto-base: Mateus 16:13-17


Muitos já ouviram falar de Jesus Cristo. Provavelmente já até viram alguma imagem dele. O crucifixo, com a imagem de Jesus ferido e pregado na cruz, é um dos símbolos mais reconhecíveis na história. Toda época de páscoa, surgem alguns filmes que contam a história de sua vida, e todo final de ano, vemos filmes que contam a história de seu nascimento.


Ao mesmo tempo, o nome de Jesus talvez seja o mais polêmico da história da humanidade. Por uns amado, por outros odiado, sua passagem pelo nosso planeta, sem sombra de dúvidas, deixou uma marca indelével na sociedade. Hoje, mais de 1950 anos depois de nos deixar, Jesus ainda é uma figura que instiga debates intensos, tanto sobre quem Ele foi quanto sobre o que Ele ensinou.


O fato é, porém, que, apesar de muitos terem ouvido falar de Jesus, são poucos os que procuram conhecê-lo, e são menos ainda as pessoas que procuram ter um relacionamento com Ele. Muitos que o procuram o fazem por seus milagres, outros pela provisão que Ele pode dar. Outros acham que Ele é o representante da mega-sena, responsável por nos dar riquezas incomensuráveis nesta vida.


Talvez seja este o motivo pelo qual você veio a esta igreja esta noite: Conhecer este Jesus que tanto falaram para você. Talvez sejam outros motivos, menos nobres. O fato, porém, é que, se você está aqui, eu gostaria de apresentar este Jesus que move os corações de todos os freqüentadores constantes de nossa comunidade. Quero apresentar a vocês o homem cuja vida, morte e ressurreição dá sentido à vida de todos os presentes aqui, e quero mostrar a vocês como este mesmo homem pode transformar a sua vida, assim como transformou as nossas.


Em primeiro lugar, Jesus era um grande filantropo. O termo é formado por dois vocábulos gregos, fílos (amor) e antrópos (homem). Ou seja, Jesus foi um homem que demonstrou um enorme amor pelo homem, pela humanidade. Ao longo de sua jornada, Jesus se preocupava com todos os tipos de pessoas, abençoando todos os que o procuravam com fé, desde os poderosos (centuriões, membros do sinédrio) até os excluídos (viúvas, doentes, paralíticos, endemoninhados). Não só Jesus curava as pessoas ou as ressuscitava, ele o fazia gratuitamente, pois seu interesse nunca fora pecuniário.


Em segundo lugar, Jesus se revelou um grande líder. Por três anos, aquele jovem carpinteiro motivou enormes quantidades de pessoas, preparando um pequeno grupo de doze homens para continuar a sua missão. Ele delegou atividades ao grupo, dando tarefas específicas a cada um (tesouraria, alimentos) e mostrando como deveriam agir, frente a situações inusitadas. Em alguns momentos, teve até que contrariar e corrigir seus discípulos, orientando-os sobre como deveriam agir (divisão dos pães, mulher do fluxo de sangue, crianças que queriam se chegar a Ele).


Em terceiro lugar, Jesus mostrou ser um tremendo mestre. Seus ensinamentos revolucionaram a vida religiosa da época, quebrando a adoração impensada à Lei que Deus havia dado a seu povo e levando-os a buscar um relacionamento pessoal e íntimo com o Senhor, baseado no arrependimento dos erros que todos nós, homens e mulheres, cometemos.


Todos estes aspectos da humanidade de Cristo não revelam, porém, a plenitude de quem Ele foi, pois a Bíblia nos conta, em Mateus 16.13-17, que Ele é o Filho do Deus vivo. Existem vários textos que nos mostram, por completo, quem Jesus foi.


João 1.1, 14 nos mostra que Jesus (o Verbo) é Deus e veio ao mundo, fazendo-se carne como nós. João 8:58 nos mostra que Jesus se identificou com Deus, revelando que Ele era o “Eu Sou”, nome de Deus no AT (cf. Ex. 3.14).


João 3.16-21 nos mostra que Jesus (o Filho de Deus) foi dado por Deus a nós para que pudéssemos ter vida eterna.


Romanos 3.23-25 nos mostra que o sentido da cruz é que Jesus se sacrificou em nosso lugar, para que pudéssemos ter nossos pecados, nossas faltas, perdoados, limpos, e assim tivéssemos acesso ao Pai.


Quando percebemos tudo isso, vemos que, em tudo, Deus, encarnado em Jesus, tomou a frente e, por exemplo, revelou seu amor a nós. Ele não só ensinou os discípulos a amarem seus inimigos, Ele pediu que Deus perdoasse seus assassinos, afirmando que eles não sabiam o que faziam. Ele não só ensinou que o homem deveria amar o próximo, Ele o fez, até mesmo amando pessoas que outros consideravam impuras, indignas. E Ele o fez não apenas por palavras ou pequenas ações, mas o fez se sacrificando na cruz do calvário, carregando os nossos pecados em suas costas e fazendo-se maldição, para que tivéssemos vida. Ele não só ensinou que deveríamos prezar mais as coisas do alto do que as posses materiais, Ele o fez abandonando o seu local de conforto, como Rei dos Reis, e descendo, encarnando e sofrendo como nós, para nos trazer sua mensagem.


Para alcançar esta graça, esta vida eterna, é preciso que você acredite que Jesus foi tudo isso o que comentamos, nesta noite. E, nestes dias, acreditar não é fácil. O mundo nos diz que devemos crer apenas no que conseguimos provar por meio dos sentidos e da experiência física. Entretanto, o termo “fé” significa exatamente ter certeza de algo que você não vê, ter como fundamento algo que você espera. Você pode não ver, mas pode sentir. Muitos aqui sentiram isso e tiveram suas vidas transformadas. Eles apostaram suas vidas, seu “status quo”, e tiveram a maravilhosa alegria de conhecer e se relacionar com Ele. Conheceram o Jesus filantropo, o líder, o mestre e, acima de tudo, o Filho do Deus vivo, que morreu por eles.


Porém, não vou ser leviano e afirmar que isso é fácil. Muitos vão dizer que você é louco por acreditar em tudo o que falamos aqui, esta noite. Talvez surjam obstáculos, oposições em seu caminho. Contudo, o que posso lhe dizer é que, por mais perigosa que a jornada possa parecer, Deus irá preservá-lo, pois esta era a sua intenção: Salvar todo aquele que entendesse o seu plano ao vir ao mundo.

Instituto da Bíblia - Trindade - Aula 1/3 - Crenças Atuais

Visão tradicional da igreja: Deus é formado por três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), porém uma mesma natureza.

Visões divergentes:

1. Deus é um ser impessoal.

a. Animismo: A criação engloba tudo e as coisas “sobrenaturais” não estão “sobre” a criação, mas sim dentro dela. Deus é um ser impessoal, uma energia, que gera outras divindades, menores.

i. Egito antigo: Nun – águas primevas, caóticas, inconsciente, de onde os deuses surgiram e para onde voltariam. Rá, o primeiro deus pessoal, se ergue das águas sobre uma colina e “se cria”.
1. Nota: Os egípcios ajuntavam seus deuses em tríades (Osíris, Ísis e Hórus, por exemplo), porém não se compara isso à Trindade, pois tais deuses eram totalmente distintos em imagem e natureza, além de serem limitadas em sua capacidade de ação.

ii. Religiões africanas: Olorum é uma massa de ar infindável que começou a se movimentar e respirar. Da respiração de Olorum, surgiram a água e a atmosfera, e, destes, os primeiros orixás.

b. Panteísmo: A divindade é a totalidade das coisas que existem, estas se reduzem a um. Aqui, o ser supremo pode ser pessoal, apesar de ser desconhecido. Por tudo ser permeado por uma energia divina, a criação também é Deus, e o próprio homem é considerado um deus. Também podem existir outras divindades nesta classe religiosa.

i. Hinduísmo: Apesar de acreditar em vários deuses (aprox. 20 milhões), todas elas são apenas manifestações de Brahma, a realidade ulterior.

ii. Espiritismo: Um único ser inclui tudo que existe. Esse “Deus” é desconhecido ao homem, que pode se aproximar da compreensão dele através de evoluções sucessivas, até se chegar ao estado de divindade.

c. Politeísmo: Existem vários deuses, de igual importância ou em escalas, que reinam sobre o universo.

i. Hinduísmo: Vacas, rios, pessoas, até ratos, são considerados deuses.

ii. Mormonismo: O homem, através da religião mórmon, pode conseguir evoluir ao ponto de se tornar um deus, chegando a ser adorado por moradores de outro planeta. De fato, Iavé teria sido um homem (de carne e osso) que evoluiu e se tornou deus em nosso mundo, cujo pai seria deus em outro mundo.

2. Deus não existe: Naturalismo filosófico: As coisas foram criadas por acaso e seguem leis determinadas pela natureza. Não se explica como estas “leis” foram geradas.

3. Deus não é triúno:

a. Islã: Deus é único, não pode ter filhos. Maomé mente, se engana ou brilhantemente analisa a realidade cristã de sua época, afirmando ser a trindade formada por “Deus, Jesus e Maria”. Também afirma que Deus não pode ter um filho pois Alá jamais poderia se unir com a natureza humana.

b. Testemunhas de Jeová: Jesus é um anjo, um deus menor, criado por Deus e, portanto, inferior em natureza. O Espírito Santo é uma força ativa, uma forma de Deus realizar seus propósitos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ESTUDO: Salmo 82 e os vários "deuses"

Uma das especialidades das seitas é trabalhar textos fora do contexto. Um destes textos me chamou a atenção, recentemente: O Salmo 82.1, que diz: "É Deus quem preside à assembleia divina; no meio dos deuses, ele é o juiz" (NVI). Ele é muito utilizado por exegetas para dizer que o Israel antigo acreditava numa multitude de deuses além de Iavé.


O problema deste texto é que ele não dá, em nenhum momento, esta impressão. Estudando o contexto completo do salmo, vemos que o autor, a partir do v. 2, começa a criticar os poderosos de sua terra, por estarem promovendo a injustiça entre o povo. A figura de Deus como juiz contrasta com a figura dos poderosos que absolvem os culpados (provavelmente mediante pagamento), em vez de julgarem com retidão e garantirem a justiça para os fracos, órfãos, necessitados, pobres e oprimidos.


A seguir, nos v. 6 e 7, vemos a chave da interpretação do texto: Deus fala que os poderosos são "deuses", mas morrerão como "simples homens", caindo como "qualquer outro governante". Daqui extraímos que os tais "deuses" eram os governantes do povo de Israel, que se colocavam acima do bem e do mal, decidindo as causas conforme seus próprios interesses.


É neste sentido que, então, interpretamos o Salmo 82.1: No meio dos "deuses", ou seja, no meio dos governantes da terra, ele é o supremo juiz. E é por isso que várias traduções substituem a palavra "deuses" por "poderosos" ou "juízes". A versão ARA trabalha a parte a. do v. 1 como "Deus está na congregação dos poderosos", reenfatizando a orientação do texto.


Logo, fica claro que, em nenhum momento, a intenção do autor é fazer teologia celeste, mas sim criticar ferrenhamente a injustiça dos governantes do povo.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte VI: Rm. 1.20-32

Bom dia, pessoal, tudo bem? Enfim encerramos o capítulo 1 de Romanos. De uma tacada só, leremos e meditaremos sobre os versículos 20 a 32. Leiam com atenção, pois é daqui que parte toda a teologia paulina da justificação pela fé. Deus os abençoe.

Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!










Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.

Este texto, apesar de razoavelmente grande, contém algumas ideias centrais que nos ajudam a entendê-lo como um todo:

1) O coração insensato (pecaminoso) do homem obscurece sua mente: Paulo argumenta aqui sobre o efeito do pecado do homem ao se afastar de Deus e não reconhecê-lo em sua essência. Por não ter a fonte da bondade norteando suas ações, o homem deixa-se levar pelas paixões humanas, carnais, e isto acabe fazendo com que sua mente, seu raciocínio, não o avisem do caminho de destruição que o homem está seguindo.

São muitas as histórias que vemos e ouvimos, de pessoas, colegas e até mesmo familiares que não admitem a correção, que acham que suas posturas erradas de vida são justificáveis. O efeito, acabamos vendo depois: Bebedeiras, gravidez precoce, doenças, drogas. O pecado faz a carne ultrapassar as amarras da razão humana, e sem Deus no controle, é impossível segurá-las por muito tempo.

2) O coração insensato e pecaminoso faz o homem desviar o foco de sua adoração de Deus para as coisas terrenas: Paulo trás à memória, no restante do primeiro parágrafo acima (até o v. 25 do cap. 1), os efeitos do pecado na religiosidade do homem: Afasta-se o homem do criador e começa-se a adorar as criaturas, ou criações.

Aqui, vale notar algo: No passado, o homem adorava as criações de Deus (sol, lua, estrelas, aves, animais, pessoas). Hoje, porém, notamos um aumento da adoração à criação do próprio homem, em especial a adoração ao dinheiro, aos bens materiais. Para os olhos de Deus, ambos são igualmente repugnantes, pois afastam o homem do Senhor. Lembrando o que Jesus disse: É impossível adorar a dois senhores: A Deus e às riquezas (Mateus 6.24, Lucas 16.13). Devemos tomar cuidado também com toda a religiosidade que prega um Deus utilitário, que só serve para nos dar riquezas, carros do ano e casas novas.

3) Deus permite ao homem o livre arbítrio de agir conforme a sua vontade pecaminosa: O mistério deste trecho é curioso: Vemos Paulo falando dos efeitos do pecado na vida do homem: Destrói-se a ordem natural dos relacionamentos (homossexualismo), vive-se uma vida egoísta e cheia de confusões. Ao mesmo tempo, ele fala que Deus entregou o homem às paixões infames, uma disposição mental reprovável.

Isso significa que Deus causou esta situação? Esta é a pergunta que muitos se fazem ao ler este trecho. Porém, a verdade é que precisamos entender este trecho sob a ótica do pecado do homem ao desobedecer a Deus e querer saber o que Deus sabia (o pecado original de Adão). Ao se afastar de Deus, o homem ficou livre para agir conforme o seu coração, e sabemos que o coração do homem é enganoso, que ele clama pelo prazer imediato (os psicólogos chamam isto de "instinto animal", ou "id"). Neste sentido, percebemos que Deus, como Pai amoroso, decidiu manter a liberdade ao homem dele agir conforme a sua cabeça, mesmo sabendo que isso lhe causaria dor e sofrimento. É como o pai que, às vezes, permite que o filho cometa erros para que ele aprenda.

A conclusão que Paulo quer chegar, ao terminar este trecho do livro, é:

1) O homem é pecador
2) O homem não tem desculpa de não conhecer a Deus para se declarar isento de seus atos conscientes de maldade
3) Deus permite que o homem siga a sua cabeça e erre, mesmo alertando-o seguidamente

Como todo homem é indesculpável perante Deus e todo homem é pecador, conseguiremos compreender a crítica de Paulo no capítulo 2, ao condenar o homem que julga o próprio homem pelos erros que comete.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte IV: Rm. 1.16-17

Bom dia, pessoal, tudo bem? Hoje, continuando a nossa série de breves reflexões sobre Romanos 1, estou colocando a reflexão que fiz em cima de Rm. 1.16-17:


Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.

O apóstolo Paulo, a partir deste texto, irá começar a desenvolver a sua teoria sobre a salvação do homem. Ele começa desenvolvendo sobre o evangelho como "o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego". Este trecho traz três características sobre o evangelho (a boa nova, a de que Jesus Cristo havia vindo como Filho de Deus para morrer na cruz por nós):

1) A salvação não se consegue por iniciativa humana: O fato de Paulo mencionar que o evangelho é "poder de Deus" demonstra que não é nosso poder de persuasão ou nossa realização de quaisquer obras que nos leva à salvação, mas sim a força ativa proveniente do Senhor, a mão estendida para resgatar a humanidade da morte.

2) A salvação é pela fé: O poder do evangelho está na crença real de que o Senhor Jesus é o Filho de Deus, o Messias prometido no Antigo Testamento, que veio ao mundo se sacrificar por nós (conforme João 3.16,17).

3) A salvação não é mais para um povo específico, mas para todo o mundo: Observamos Paulo, aqui, defendendo seu apostolado universal, afirmando que o evangelho é para todas as pessoas. A primazia do povo judeu se deve ao fato de Cristo ter vindo do povo judeu, e sabermos que a salvação vem do povo judeu. Paulo, quando chegava às cidades, ia sempre primeiro pregar nas sinagogas, para depois pregar para os gentios (os não-judeus).

A segunda parte do texto revela como o homem deve manter um relacionamento com Deus diariamente: Uma relação de fé, de crença no poder salvador do sacrifício de Jesus na cruz por nós. Não só isso, Paulo afirma que "O justo viverá por fé" ("pela fé", em algumas versões), denotando novamente a característica que torna uma pessoa justificada perante o juízo divino: A fé, e não as obras humanas.

Será este diálogo entre fé e obras que Paulo irá trabalhar nos textos seguintes. Vale notar que Paulo critica as obras por conta da religiosidade mecânica e ritualística do povo judeu da época, que Jesus criticou tanto por afastar o povo de Deus. E é este diálogo que iremos trabalhar nos próximos dias.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte V: Rm. 1.18-20

Fala, galera, tudo bem? O texto que iremos analisar hoje está em Romanos 1.18-20 e é o começo do desenvolvimento sobre o plano de salvação. A densidade da carta aos Romanos começa aqui:

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;

Paulo inicia aqui sua argumentação sobre o pecado. Ele começa falando que Deus se ira contra os que trocam (detêm) a verdade pela injustiça e vivem uma vida ímpia e perversa. Considerando aqui a justiça de Deus plenamente declarada na Lei do Senhor, vemos Paulo fazendo uma analogia com relação ao pecado.

O problema é que muitos argumentariam (e argumentam, hoje) que uma pessoa poderia se declarar desculpada por não conhecer a Deus e, portanto, não poder ser julgado por Ele e suas normas. Porém, Paulo desenvolve sobre isto falando que Deus se manifestou (e se manifesta até hoje aos homens) através da sua criação. O "eterno poder" e a "própria divindade" divinos podem ser reconhecidos na organização das leis da natureza, na tendência do universo a se manter em uma ordem, não descambando no caos. Por conta desta "revelação natural", Paulo afirma que o homem é indesculpável perante Deus com relação à troca da verdade pela injustiça.

Este texto é polêmico, pois ele aborda um ponto fundamental de nossa fé: O que acontece com as pessoas que não tiveram a chance de conhecer a Deus? Temos casos como o das crianças, o de povos indígenas e outros isolados. A chave de interpretação deste texto, a meu ver, ainda não é se preocupar com a salvação, mas com a "desculpabilidade" do homem. O homem não pode alegar desconhecimento de Deus para agir mal. E, de fato, mesmo pessoas que são incrédulas possuem, em geral, um código de ética que procuram seguir. Porém, o fato é que, se uma pessoa parar para observar o mundo, a natureza, o cosmo, não há como negar o poder ordenador e criativo de Deus por trás de tudo, e não há como querer fazer o mal e se eximir disto por um "desconhecimento" do Senhor.

Esta ideia será importante no futuro, pois Paulo irá argumentar mais sobre o pecado, sua característica e a necessidade que o homem tem de ser expiado dele, curado dele, liberto dele. Apontar que o homem não tem desculpa para escapar da ira divina por conta do pecado será importante nos próximos capítulos. Porém, um ponto vital do texto é que ele coloca o homem como tendo uma ESCOLHA de deixar de lado a verdade e viver a injustiça. Há uma opção do ser humano por viver uma vida ímpia e perversa. Neste sentido, as pessoas que não têm ainda esta escolha inata (as crianças que ainda não têm consciência de seus atos) não seriam afetadas por esta ira. E isto bate com as declarações de Jesus, de imenso amor pelas crianças.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte III: Rm. 1.9-12

Bom dia, pessoal. Hoje, apresento o quarto texto que escrevi em 2010 sobre o primeiro capítulo de Romanos. O texto de hoje trabalha os versículos 9 a 12:



"Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos. Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. "

Este texto reflete duas características importantes da liderança de Paulo, como apóstolo e propagador do evangelho: A de intercessor e de servo-discipulador.

Um intercessor é uma pessoa que intercede, apela em ajuda a, alguém junto a outra pessoa. Neste caso, Paulo intercedia, clamava por ajuda, a Deus pelos crentes que estavam em Roma, sabendo das necessidades que enfrentavam. Afinal, estando tão longe do centro do cristianismo (Grécia e Ásia Menor) e cercados de idolatria, os cristãos romanos tinham que lutar contra toda uma cultura e uma história para viverem sua fé. Ao saberem que Paulo orava por eles, os cristãos de Roma certamente devem ter se sentido mais amados, lembrados e compreendidos.

Não só isso, Paulo também revela seu desejo de visitar pessoalmente os romanos para ensiná-los, doutriná-los, consolá-los e fortalecê-los pessoalmente em sua luta. Certamente os romanos sabiam que isto era complicado, devido à enorme distância entre Roma e Antioquia, cidade onde Paulo mantinha sua base entre viagens. Entretanto, sabemos pela Bíblia e pela história que Paulo completou esta viagem, mesmo preso, e teve a oportunidade de receber visitantes em sua cela. Desta forma, podemos ver os sacrifícios que Paulo engendrou para visitar este grupo, e este esforço certamente causou um profundo impacto nos romanos, por motivos que vemos até hoje.

As lições que ficam para nós são:

1) Temos nós, em nossas orações, intercedido junto a Deus por nossos irmãos, colegas, familiares? A oração não é só um fator decisivo no relacionamento de um cristão com Deus, mas também é um fator de união do Corpo de Cristo. Se você estiver orando por um irmão, fale com ele, diga isto. Não há nada melhor para nós do que saber que nossos irmãos em Cristo se importam conosco e dividem nossas preocupações consigo.

2) A ajuda concreta a um amigo deve ser algo que devemos almejar sempre, e não precisa se restringir ao âmbito da fé. Claro, devemos, como cristãos mais experientes, nos oferecer para ajudar aqueles que iniciam esta incrível caminhada. Porém, também podemos ajudar os nossos irmãos de outras formas, buscando empregos, ajudando nos estudos, etc.

É isso aí, galera. Vamos continuar prosseguindo, rumo à nossa meta, de sermos verdadeiros cristãos, ou seja, pessoas que espelham a mensagem e a vida de Cristo em nossas vidas.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte II: Rm. 1.2-4

Bom dia, pessoal. Espero que todos estejam bem, trabalhando e estudando muito. Esta é a segunda parte das reflexões em Romanos 1, baseada em Romanos 1.2-4:

... o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor.

O texto acima, ainda extraído da parte inicial da carta de Paulo aos Romanos, revela a visão de Paulo sobre Jesus Cristo. A carta aos Romanos é um enorme livro teológico sobre quem é Jesus e qual a sua relação com os acontecimentos. Neste pequeno trecho da carta, Paulo declara que:

1) Jesus foi a realização das previsões proféticas do Antigo Testamento sobre o Messias (Isaías 7.14, confira com Mateus 1.23; Salmos 22), mantendo alguns "requisitos religiosos", como sendo da linhagem do rei Davi;

2) Jesus foi reconhecido como Filho de Deus pelo poder que manifestou em sua vida, primeiro através dos milagres que realizou na Terra (João 3.2), depois através de sua ressurreição.

3) Jesus recebeu sua confirmação e iniciação ao ministério ao receber o Espírito Santo (o "espírito de santidade") em seu batismo (Mateus 3.16-17).

Com isto, Paulo lança as bases para toda a sua argumentação teológica sobre a figura de Jesus Cristo, como a figura messiânica (libertadora) do Antigo Testamento, que vive e reina ao lado de Deus, intercedendo por nós. Será em cima destes pressupostos que Paulo desenvolverá sua teologia cristológica.

Abraços, pessoal. Até amanhã.

Breves Reflexões - Romanos 1 - Parte I: Rm. 1.1

Fala, galera, beleza? Desculpem-me a falta de updates, mas esta semana tive bastante trabalho. Para compensar, colocarei, de hoje até domingo, uma série de reflexões que fiz há algum tempo sobre o primeiro capítulo de Romanos. Em geral, as cartas paulinas possuem uma breve introdução, seguida de algumas palavras iniciais para os membros da igreja. Nestas introduções, em geral, podemos ter uma visão bem pessoal de Paulo. Por isso, fiz estas mensagens no começo do ano passado e as divulguei por email para o pessoal da minha igreja.

Para começar, vamos ao texto que trabalhou Rm. 1.1:

Romanos 1.1: Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, (...)

Sabemos que "evangelho" significa "boas novas". Esta boa nova era a notícia de que o Messias, o Ungido, aquele que era esperado pelo povo judeu para libertá-lo da escravidão, veio ao mundo, demonstrou ser Filho de Deus, trouxe-nos ensinamentos de mudança de vida, se sacrificou por nós na cruz e ressuscitou ao terceiro dia, sendo levado a estar à direita de Deus.

Ao escrever aos Romanos, Paulo já era conhecido no mundo cristão, como um grande evangelista que levava esta boa nova aos povos não-judeus (também chamados de gentios). Ao escrever ao povo de Roma, Paulo poderia ter se apresentado como sendo "o cara". No entanto, foi humilde, colocando-se na posição de "servo de Jesus Cristo", "chamado para ser apóstolo" e "separado para o evangelho".

Percebe-se, observando o texto, que Paulo coloca-se como um receptor da vontade de Deus nas três instâncias. Como "servo", Paulo coloca a sua vontade inteiramente de lado e entrega-se aos desígnios do Senhor, cuja vontade ele afirma ser "boa, perfeita e agradável" (leia Romanos 12.2). Como "chamado", ele afirma estar pronto para ouvir a voz de Deus e atendê-la. Como "separado", ele entende sua posição de escolhido para a propagação da boa nova.

A pergunta que me faço, sempre, é: O que penso, o que planejo, é realmente a vontade do Senhor? Sabendo que a vontade Dele é "boa, perfeita e agradável", devemos, com fé, entregar nossos caminhos a Ele e pedir para Ele nos mostrar qual a sua vontade para nós. Colocando nossos caminhos nas mãos de Deus e nos declarando "servos de Jesus Cristo", poderemos, então, iniciar nossa jornada pelos caminhos que Ele preparou para nós.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

COMENTÁRIO: Dízimo pago em débito automático

Fonte: Ricardo Feltrin, para a Folha.com, extraído do blog Genizah Virtual

Não é por falta de criatividade que as igrejas deixarão de arrecadar dinheiro dos seus fiéis. Maior exemplo de inovação é o missionário R.R.Soares, líder da Igreja Internacional da Graça, que acaba de lançar uma nova modalidade de coleta de dízimo, por meio de débito automático em conta-corrente.

Segundo Soares divulgou em seu programa na Band, o membro da igreja poderá fazer suas doações mensalmente de forma mais prática. Para isso o fiel deve preencher um cadastro nos sites da igreja e passar seus dados bancários.

É o doador, afirma Soares, quem decide quanto quer doar. Quem se cadastrar, diz ele, ganha “um brinde de Jesus”, sem dizer o que é.

O missionário garante ainda que, se por acaso o doador não tiver saldo num determinado mês para dar o dízimo automático, ele não será debitado e “o fiel não será incluído no SPC ou no Serasa”. A doação mensal voltará a ser debitada no mês seguinte, sem acumular a que não foi paga.

Para criar o “dízimo em conta corrente”, a Igreja Internacional da Graça firmou parceria com Itaú, Banco do Brasil e Bradesco.

“Heaven Card”

Além do dízimo automático, o pastor R.R.Soares também lançou o cartão de crédito da Igreja Internacional da Graça de Deus. Entre outras vantagens, o cartão permite pagar as compras “em até 40 dias, financiar no crédito rotativo e fazer saques de emergência no Brasil e exterior”.

Segundo a igreja, o cartão “é mais uma forma de você contribuir com as ações e obras sociais da igreja”. Além da Internacional da Graça, a Universal e a Mundial também aceitam o pagamento de dízimos e doações por meio de cartão de crédito e débito. As operações são legais.

Romildo Ribeiro Soares, 64, é cunhado de Edir Macedo (casado com a irmã de Macedo, Maria Magdalena) e co-fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Deixou o parente por suposta divergência no final dos anos 70 e criou sua própria igreja em 1980.

Sua igreja tem negócios com várias emissoras, de quem compra horários, e também é proprietária de uma operadora de TV paga, cujos pacotes não oferecem nenhum canal que exiba cenas de violência, erotismo ou tenha linguajar chulo.

Comentário

Eu confesso que a reportagem, inicialmente, me trouxe fúria aos olhos. Como pode uma igreja se prestar a cobrar dos fieis, em débito automático, as ofertas que eles devem dar para suas igrejas? Parece-me mais uma forma mesquinha e estelionatária desses pastores neopentecostais arrancarem mais dinheiro de suas ovelhas.

Entretanto, parando para pensar, percebi que muitos de nós fazemos algo parecido. Atualmente, na denominação batista, existem planos de adoção missionária das Juntas de Missões Nacionais e Mundiais, onde pode-se estabelecer um valor mensal para contribuição e escolher pagar via boleto bancário ou debitar diretamente na conta corrente. Desta forma, garante-se o sustento mensal dos missionários na causa.

Acho que a fúria que tal cobrança nos causa vem muito da pessoa com pouca credibilidade que conhecemos e que pediu a oferta. Porém, gostaria de levantar a bola para discussões futuras: Seria ilegítimo adotar formas mais modernas do fiel contribuir com a igreja? Por exemplo, muitas já aceitam cartão de débito (de crédito sou contra, pois pode levar ao endividamento pessoal). Se o débito automático pode ser cancelado a qualquer momento, teria algum mal, se direcionado para fins claros, como construção, obra missionária ou trabalhos sociais? Poderíamos ir além e sugerir a cobrança do dízimo em débito automático ou mesmo débito autorizado?

Ainda não tenho posição definitiva quanto ao dízimo. Só aceitaria trabalhar com esta questão se a prestação de contas fosse extremamente rigorosa e transparente. Porém, quanto às ofertas específicas, não vejo mal na sugestão de formas alternativas de arrecadação de recursos e ofertas, desde que não haja pressão espiritual para fazê-las e que haja total, plena e irrestrita possibilidade do fiel desistir da oferta no tempo que desejar. E vocês, o que pensam?

domingo, 5 de junho de 2011

RESENHA: O que é o Islã - Melanie Miehl

MIEHL, Melanie. O que é o Islã? Perguntas e Respostas. Trad. Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 2005.

Entender um povo mal-compreendido. Esta é a proposta do livro O que é o Islã, escrito pela pesquisadora Melanie Miehl num sistema de perguntas e respostas que visa destruir todos os preconceitos formados a respeito do povo que professa a religião de Maomé e que procura seguir seus preceitos em sua vida diária. Entender seus costumes, sua história e sua sociedade torna-se vital nos dias de hoje, caso haja um desejo de se formar um diálogo entre muçulmanos e cristãos em nossa sociedade.

O livro possui um formato de perguntas respondidas em ordem alfabética em alemão, com alguns termos chaves sendo utilizados na ordenação. Com isto, a didática fica um pouco desconjuntada. Entretanto, a impressão que passa é que a intenção da autora foi de justamente criar um livro menos didático e mais dinâmico para leitura, algo que ela consegue com maestria. O formato de textos curtos, com perguntas respondidas em, no máximo, duas páginas, dá uma agilidade ao livro que o torna agradável e intrigante.

As perguntas do livro podem ser divididas em cinco categorias de interesse ao leitor, que facilitam também a pesquisa acadêmica: Categorias históricas, sociais, doutrinárias, religiosas e culturais. Todas elas, quando analisadas, apresentam a visão da autora sobre o povo islâmico, que pode parecer apologética a princípio, porém mostra um zelo e carinho da própria autora com seu povo pesquisado.
As perguntas de caráter histórico são apresentadas pela autora para explicar ao autor como o islamismo de hoje se desenvolveu. Para tal, ela responde perguntas sobre Maomé, sua esposa Aisha e os primeiros califas, ou líderes, do povo islâmico. Os conflitos entre os diversos partidos após a morte do Profeta e a formação, a partir destes, dos grupos sunita e xiita, são bem elucidativas e pertinentes para os dias de hoje, bastando lembrar dos conflitos no Iraque entre a maioria xiita e a minoria sunita. Nesta categoria, também entram questões sobre grupos dissidentes, como a Ahmadia e os alevitas, e grupos místicos, como os sufistas.

Ligada intimamente à história do islã estão algumas perguntas de caráter doutrinário, em especial as perguntas sobre Adão e Abraão, considerados profetas pelos islâmicos. O livro mostra como o islã também se utiliza destas figuras hebraicas para explicar sua cosmovisão e mito fundante. A explicação sobre a origem do povo árabe a partir de Ismael também é importante e explica ao leitor a origem dos conflitos entre árabes e israelitas.

Dentro das perguntas doutrinárias, também são interessantes as explicações sobre questões como céu, inferno, pecado, morte, vida, predestinação, anjos e demônios, soberania e unidade de Deus, dentre outras. Tais questões apresentam-se muitas vezes de formas semelhantes na religiosidade cristã, bastando ver a pergunta onde se fala sobre Shaitan (Satã). As diferenças entre os credos cristãos de islamitas também são ótimas para se entender este povo, como a questão do pecado original e a questão dos djinns como outro tipo de ser celestial.

Outras questões religiosas que são levantadas de forma bem detalhada pela autora são os acessórios da religiosidade islâmica. O Corão, os hadith, ou livros sobre a vida do profeta, até a forma como se constitui uma mesquita e uma escola de direito islâmico, são questões que ajudam o leitor a se imergir no islã como religião de forma bem viva e eficaz, explicando as imagens que muitas vezes são exibidas em flashes de notícias e documentários.

Talvez as perguntas mais interessantes do livro, no entanto, são as perguntas de caráter sócio-cultural, pois talvez seja o choque cultural entre cristãos e muçulmanos o maior problema para o diálogo entre os grupos, nos dias de hoje. Explicações sobre o ramadã, os costumes de vestimentas e moradia, a importância da hajj para um islamita, a questão das orações voltadas a Meca e da alimentação são questões vitais para um islamita, jamais devendo ser menosprezadas por nosso povo ocidental.

As questões sociais do islamismo também são muito bem apresentadas e detalhadas pela autora. Ela explica desde questões simples como nomes islâmicos até questões controversas como direitos humanos e direitos femininos, mencionando até a questão da poligamia. Por fim, mas não menos importante, a forma como o islã vê cristãos e judeus como “povos do livro” explica bastante a visão daquele grupo sobre estes e ajuda a complementar as questões do livro.

Relendo o livro para estudar a linguagem da autora, ela muitas vezes defende o povo islâmico dos preconceitos ocidentais, de que o povo islâmico é um povo fundamentalista. Às vezes ela usa bons argumentos para tal, como o fato de haverem diversos islamismos e o fato do Corão mostrar um certo respeito e mesmo possibilidade de redenção para os povos do livro. Entretanto, em outros momentos, a autora se utiliza de argumentos fracos, como a idéia de que o cristianismo criou o conceito de fundamentalismo no final do séc. XIX e início do séc. XX, esquecendo a essência do termo, que é uma visão cega e acrítica das escrituras sagradas, algo que é uma proposta fundamental do islã, a ponto do grupo afirmar que o Corão é a única forma pura de texto sagrado existente, tendo sido transmitido ipsis literis ao profeta e com uma cópia do mesmo estando guardada no céu.

Em todo caso, tirando alguns momentos de defesa, em especial da expansão do povo islâmico nos séc. VII e VIII, o livro mostra-se como uma bela e elucidativa leitura a respeito dos diversos aspectos da cultura e religiosidade muçulmanas, e mesmo as defesas sobre a expansão do povo islâmico ajudam a vê-la em outra ótica, menos etnocêntrica.

O fato é que a proposta da autora era a de justamente apresentar o islã pela perspectiva islâmica, conseguindo alcançar este feito de forma marcante e competente. Certamente é uma leitura altamente recomendável para pessoas interessadas em entender mais sobre a religiosidade islâmica, desde curiosos leigos até estudiosos do campo das ciências da religião.

Mensagem: Como fazer o bem? (Texto-base: Tg. 4.17)

Texto-base: Tg. 4:17: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.”


Idéia central: Para sermos diferentes do mundo, precisamos adotar posturas diferentes do mundo.


Contexto: Tiago fala para todos os cristãos que vivem entre gentios sobre como o crente deve andar, mostrando a sua diferença frente ao mundo através da prática de sua fé.


Qual não deve ser a postura do cristão, frente ao mundo?


Primeira: EGOÍSTA: Uma das piores posturas nos dias de hoje é o egoísmo do homem, voltado apenas para si e para as suas necessidades. (Mau exemplo: Mt. 19:16-22) O desejo de ter mais do que o outro leva a sentimento de inveja, ambição e orgulho, todos elementos que não agradam a Deus. São provenientes de “sabedoria humana”. Tg. 3:14-15.


Segunda: SEMELHANÇA: Tiago (irmão de Cristo) tentava mostrar aos judeus espalhados pelo império como era importante manter seu bom comportamento e praticar a bondade da sua religiosidade, indo de encontro com a fé de aparências dos fariseus. Tiago apresenta a idéia de que uma pessoa pode conhecer a palavra, ouví-la, mas não praticá-la (mantendo as práticas do mundo), afirmando que esta pessoa está se enganando. (Lc. 10:25-37). Ele também afirma que quem perseverar na prática da Palavra, será feliz naquilo que fizer. Tg. 1:22. Daí vem a idéia de que a fé, sem obras, é morta e inútil. Tg. 2:17,26.


Terceira: ORGULHOSA: Tiago lidava com questões sociais já na sua época. A divisão de tratamento nas igrejas entre ricos e pobres ecoa com a diferença de tratamento. Tiago mostrou como a verdadeira atitude de um cristão deveria ser, ao ignorar a diferença entre pobres e ricos, notando que Jesus veio para os pobres. Tg. 2:5. Esta pobreza pode ser material ou de espírito.


Tendo isto em vista, podemos concluir que as igrejas para quem Tiago se dirigia estavam mantendo uma atitude sectária e orgulhosa frente às outras pessoas. Tratavam-se como os melhores, buscando apenas seu próprio conforto, mundano e espiritual.


Como, então, devemos nós, cristãos, e nós, jovens, agir? Qual deve ser a verdadeira atitude do cristão? Fazer o bem ao próximo é a atitude do verdadeiro cristão.


1) Devemos ser verdadeiros embaixadores de Cristo: O embaixador tem como responsabilidade representar sua nação e cultura em outro local. Devemos ter em mente que representamos o reino de Deus na Terra e, portanto, devemos ter atitudes de verdadeiros cristãos frente ao mundo.


2) Devemos agir a todo momento: O mundo que nos cerca precisa de ajuda a todo instante. Quando você menos esperar, pode ter alguém ao seu lado precisando de uma palavra de bênção, e precisamos estar prontos para ser esta palavra de bênção na vida das pessoas.


3) Devemos ser linha de frente: Como jovens, temos a vitalidade e a disposição para enfrentar batalhas que, conforme os anos passam, não teríamos. Como jovens, estamos constantemente inseridos na sociedade, seja na escola, no trabalho, no curso ou entre amigos. Por isso, devemos lembrar de nossa missão e agir como linha de frente no movimento para mudar a nossa sociedade.

Estudo: Paulo, o apóstolo dos gentios

Este estudo foi dado em 10/05/2009 na EBD da Primeira Igreja Batista do Grajaú e estou compartilhando com todos. Abraços.


Paulo – O apóstolo dos gentios

1) Histórico

a. Local de Nascimento: Tarso (sudeste da Ásia Menor, atual Turquia).
i. Influência: Antigo império grego.

b. Cidadão Romano (At. 22:28), com certas posses (At. 21:39).

c. Religiosidade: Judeu Fariseu (At. 22:3), hebreu de hebreus.
i. Evidência: Usava o nome Saulo, alusão ao primeiro rei de Israel.

d. Educação: Gamaliel, mais ilustre rabino da época (At. 5:34).

e. Ofício: Consertava tendas (na era missionária).

2) Estado pré-Encontro

a. Perseguidor de cristãos: Presenciou (At. 7:58) e consentiu com (At. 8:1) a morte de Estêvão.

b. Perseguiu cristãos com afinco e ativamente (At. 8:3), invadindo casas para aprisionar homens e mulheres do Caminho.

3) O Encontro (At. 9)

a. Saulo foi a Damasco pró-ativamente perseguir cristãos na cidade (v. 2).

b. Jesus aparece como luz e voz (v. 3), visível aos seus companheiros de viagem (v. 7).

c. Jesus fala que Saulo perseguia a ELE, e não à sua IGREJA (v. 5).

d. Jesus provou sua divindade através de um sinal (cegueira e visão) (v. 8s, 17s).

e. Jesus escolheu Saulo como instrumento em suas mãos, especificamente para pregar a gentios, mas TAMBÉM a judeus (v. 15).

f. Saulo adotou como estratégia inicial pregar nas sinagogas (v. 20, 22), tanto para os judeus tradicionais quanto para os helenistas (v. 29).

4) Por que Paulo?

a. POR SER JUDEU, teve livre acesso às sinagogas para pregar (v. 20, 22).

b. POR SER VERSADO EM FILOSOFIA GREGA, pôde dialogar com os helenistas (v. 29) e com grandes estudiosos do antigo império grego (cena em Atenas (At. 17:16-34 – lição 9).

c. POR SER CIDADÃO ROMANO, podia entrar nas cidades e armar comércio na praça principal, ganhando seu pão de cada dia. Também tinha salvo conduto pra viajar pelo império.

d. POR TER POSSES, pôde pagar as caríssimas viagens iniciais que fez, sendo posteriormente sustentado pela igreja de Filipos (Fp. 4:15s) e outras (2 Co. 11:8).

e. POR TER SIDO PERSEGUIDOR, seu testemunho de mudança de vida impactou muitos (At. 9:21).

f. A principal resposta: PORQUE CRISTO O ESCOLHEU, SEGUNDO OS SEUS PROPÓSITOS!!!

Estudo - Sexo e casamento

Um dos maiores dilemas para a juventude cristã, nos dias de hoje, é se um casal pode ou não ter relações sexuais antes do casamento. Existem muitas confusões e teorias sobre o tema. Uma das mais interessantes é a de que, na Bíblia, não há condenação explícita ao fato, e que no AT, não haveria a figura do casamento como nós conhecemos hoje.


Anos atrás, fui confrontado por esta ideia. Por causa disso, preparei um estudo para questionar a afirmação da pessoa. Hoje, vasculhando meus arquivos, o achei, e resolvi postá-lo aqui. Aliás, nos próximos fins de semana, postarei sempre um estudo, um trabalho acadêmico e uma mensagem, para que vocês possam ler. Abraços a todos.


Estudo - Sexo e casamento

Conceitos importantes:

a) No hebraico bíblico, existem dois pares de termos diferentes para denotar homem e mulher e um em separado, bem conhecido:
a. םדא (Adam): Homem – humanidade (Somente em Gn. 3, Adam vira o nome do personagem bíblico).
b. רכז e הבקנ: Macho e fêmea (Gn 1: 27).
c. שיא e השא: Homem e mulher.

b) Sempre que o hebraico relacionar um casal em uma relação estável de matrimônico, como conhecemos, os termos usados serão os da letra C, indicando sua conotação de homem e mulher como “marido e esposa”.

1) Casamento e relacionamento conjugal no período pré-Lei

a. Adão e Eva: Deus viu que o homem estava sozinho e precisava de uma ajudadora para seguir sua vida, então faz a mulher para ser sua companheira (Gn. 2:18-24).
i. Chave do texto: Gn. 2:24: O texto descreve o motivo pelo qual, nos tempos do autor, homem e mulher deixavam suas casas e tornavam-se uma só carne.
ii. Relacionamento: Tornaram-se um para multiplicarem-se, após Deus ter proposto dar a mulher ao homem por companheira.

b. Caim, Lameque/Ada-Zilá: O termo usado no hebraico é השא, mulher no sentido de esposa.

c. Gn. 6: O termo para mulheres é םישנ e é derivado de השא. Os filhos de Deus, descendentes de Sete, estavam se casando com os filhos do homem, Caim, afetando o prosseguimento da linhagem de religiosidade centrada em Deus. Esta mistura fez o homem ficar mal com o tempo e levou Deus a arrasar com a humanidade.

d. Abrão e Naor: O verbo םהל deriva do radical laqach, que significa tomar, mas também significa pegar, agarrar, apanhar, segurar, levar consigo, receber, aceitar, adquirir, acolher, buscar, trazer, arrebatar, dentre outros. É usado também em outras construções daqui pra frente, em relação ao casamento. É importante, entretanto, notar o contexto inteiro das relações de casamento para entender a melhor tradução deste verbo.

e. Gn. 12:10-20, 20:1-7, 26:1-11: Três momentos em que o homem de Deus entrega sua mulher para um que não é seu marido, e Deus age contra o povo para que não houvesse quebra do laço entre os dois. Sinal da bênção divina eterna sobre o casamento.

f. Gn. 16, 17:15-20: Concubinas eram escravas usadas para satisfazer sexualmente seus donos, e tal prática era legal entre os povos. Havia leis que permitiam que uma mulher, caso não pudesse ter filhos, os tivesse através da concubina. Entretanto, não era este o plano de Deus para Abrão. O Senhor revela que seu filho sairá de Sarai e dá seu nome de Isaque, mas ainda resolve abençoar o povo que descende de Ismael, seu filho ilegítimo com Hagar.

g. Gn. 24: O casamento de Isaque é o primeiro que mostra algum tipo de cerimônia ou ritual. O importante notar é o uso do termo השא durante toda a passagem, indicando que a intenção de Abraão era achar uma esposa para Isaque.

h. Gn. 29: A primeira indicação da necessidade do pagamento de dote pela mão da noiva. Jacó se oferece para trabalhar por 7 anos para desposar Raquel. Enganado (a mais velha, Lia, lhe é dada no dia do casamento), ele tem que trabalhar mais 7 para poder ficar com sua amada.

i. Fato interessante: Novamente, o pai da noiva promove uma festa para celebrar a união de um casal.

ii. Fato interessante 2: Gn. 29:21: Após o trabalho (pagamento), Jacó chama Raquel (que se tornaria Lia) de esposa (‘isha).

i. Gn. 34: A tragédia de Diná mostra uma inversão da ordem devida de um relacionamento da época. Siquém tomou Diná, dormindo com ela e humilhando-a. Ao apaixonar-se por ela, quis tê-la como esposa e pediu a seu pai que pagasse o dote. Seus irmãos (filhos de Jacó, irmãos de Diná) trataram o acontecido não como pagamento de dote, mas pagamento de taxa de prostituição e decidiram matar a todos da cidade, através de um plano sutil.

j. Gn. 38: Novamente o verbo םהל aparece, em outra forma verbal. Novamente, fica implícito uma compra, tendo em vista que o mesmo verbo usado em 38:2 para Judá tomar uma mulher para si é usado em 38:6 para Judá tomar uma mulher para seu filho, Er.

i. Importante: Esta colocação do verbo mostra que o verbo não indica uma coabitação pura e simples, mas sim uma transação, uma negociação, como indicam as passagens anteriores, com relação ao dote.

k. Ex. 2:1, 21: O pai de Moisés tomou (םהל) sua mãe. Moisés recebeu Zípora, sua esposa, gratuitamente de seu pai Jetro/Reuel.

2) Casamento e relacionamento conjugal no período da Lei

a. Ex. 22:16s: Pela Lei, uma mulher deveria ser comprada pelo pretendente ao seu pai, antes de poder ter relações sexuais com ele. Caso a relação acontecesse antes do casamento, o dote deveria ser pago e o homem deveria se casar com a mulher, exceto caso o pai se recusasse (v. 17).

i. O vital neste texto é perceber que a Lei estabelecia uma ordem natural para o relacionamento: A mulher, AINDA VIRGEM, era comprada pelo seu pretendente junto ao pai da noiva, estabelecendo-se, aqui, uma relação de união entre os dois. O pai deveria abençoar a noiva (vide a bênção de Labão sobre Rebeca, ainda que meramente irmão, pois ele era o chefe da casa).

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Bullying: O mal do século XX

Um dos assuntos mais comentados por psicólogos, educadores e pela mídia, nos dias de hoje, é o tal do bullying. Por muitos anos, o assunto foi ignorado por todos os responsáveis pelas nossas escolas. Porém, vez por outra, o tema volta à tona. A última notícia sobre a questão deu conta de um incidente entre um garoto de 14 anos e uma criança de 6 anos em um tradicional colégio carioca, o Colégio São Bento. Esta escola, conhecida por sempre figurar entre os 10 melhores colégios do Brasil no ranking do Enem, jamais havia sido alvo de semelhante escândalo. Por isso, quando o assunto veio à tona, a mídia carioca deu uma ênfase renovada ao tema.

Para quem não sabe, bullying é um termo que vem da língua inglesa. Ele não tem uma tradução exata, porém é derivado do substantivo bully, que significa agressor, brigão ou valentão. Para ilustrar bem o que seria um bully, tomo emprestado alguns filmes americanos, de onde vem o termo. Por exemplo, no filme "Te Pego Lá Fora" (clássico da Sessão da Tarde), um rapaz é perseguido por um enorme pilantra, que chega a extorquir dinheiro dele para evitar uma briga. Este tema é bastante explorado em outros filmes colegiais americanos: Em geral, os bullies são os garotos populares da escola (jogadores de futebol americano ou basquete, líderes de torcida), enquanto os alunos mais introvertidos (nerds, gordinhos) são os perseguidos. Outros clássicos filme do tipo são "Garotas Malvadas", "Garota de Rosa Shocking" e "A Vingança dos Nerds".

Apesar do termo ter chegado apenas recentemente no Brasil, a prática é antiga em nossas escolas. Muitas crianças sofreram assédio moral e físico por serem diferentes. Neste domingo, o comediante Leandro Hassum assumiu, em rede nacional, ter sido vítima de bullying por ser gordo. Imediatamente me relacionei com seu sofrimento, por também ter sofrido o mesmo tipo de agressão, pelo mesmo motivo, durante o ensino fundamental (a fase mais agressiva quando eu tinha entre 8 e 11 anos!). Porém, por falta de informação e de iniciativa, muitas crianças sofrem até hoje por causa destes problemas, e muitos pais, em vez de corrigirem seus filhos, o defendem, como uma mãe que recentemente foi defender seu filho de 8 anos na TV americana porque havia sido tratado com violência pela polícia (o garoto entrou armado com um pedaço de pau em sala de aula e fez de tudo, não chegando a agredir ninguém).

O fato é que, como educadores, pais, professores e responsáveis, precisamos entender que o bullying é real e pode causar danos irreversíveis à psiquê da criança, tanto a agredida quanto a agressora. Para entender melhor o assunto, parei para meditar e percebi que existem, hoje, quatro tipos principais de bullying:

1. Bullying físico: É o mais comum. Em geral é consequência de quando uma criança mais fraca não faz aquilo que uma mais forte ordena. Ao contrário do que se imagina, não é exclusivo do gênero masculino, apesar deste ser maioria entre os que causam agressões deste tipo. Exemplo clássico do filme que mencionamos há pouco.

2. Bullying psicológico: Acontece muito no ensino médio. É quando um jovem é acusado de fazer, praticar ou causar um ato nocivo ou moralmente reprovável pelos seus colegas, causando isolamento do indivíduo acusado. Por conta da homofobia inerente a nossa sociedade, os acusados de serem homossexuais são os mais afetados, porém existem casos de pessoas atacadas moralmente por serem negras, pobres, cristãs ou diferentes das outras de alguma outra forma. Um exemplo é o caso do filme Carrie, a Estranha, onde a jovem é humilhada pelas colegas por ser introvertida e se vestir diferente das outras jovens da escola.

3. Cyberbullying: Um derivado do bullying psicológico. Em geral acontece quando alguém é acusado de fazer algo moralmente errado ou é agressivamente exposto na internet. Casos comuns são publicações de fotos e vídeos íntimos da pessoa afetada ou exposição de conversas com conteúdo picante. Um exemplo que vem sendo trabalhado atualmente na novela das 9 é o caso da jovem que vê um vídeo seu transando com o namorado divulgado na internet sem seu conhecimento.

4. Bullying espiritual: Vocês podem não identificar este tão facilmente, mas acontece. É quando alguém é criticado, ameaçado ou coagido por não ser "suficientemente espiritual" em determinado assunto. Acontece muito em igrejas pentecostais quando algum irmão não demonstra o dom de línguas após longos anos no ministério e em igrejas neopentecostais quando as pessoas não dão a oferta ou o sacrifício. Um exemplo recente foi o de um apóstolo de uma grande denominação neopentecostal em franca decadência que, de púlpito, ameaçou as suas ovelhas, dizendo que, quem não ofertasse para a construção da nova sede da igreja, estaria em maldição. Já em igrejas históricas, o problema em geral acontece quando decisões importantes são tomadas e pessoas discordam delas, usando "visões divinas" para justificar suas opiniões humanas.

Tendo analisado estas questões, precisamos aprender a identificar os traços de personalidade que podem indicar se alguém está sendo vítima de bullying ou se alguém é um agressor. Por experiência própria (e, portanto, nada científica), identifiquei os seguintes traços:

- Agressor: Companheiro de outros bullies, arrogância, alegria pela desgraça dos outros, sadismo, sarcasmo com pessoas de diferentes origens, etnias e opções de vida, sentimento de superioridade.

- Agredido: Depressão, isolamento, agressividade repentina, paranoia, sentimento de inferioridade, problemas de atenção e notas baixas.

Estes são apenas alguns sintomas. Como disse, não são científicos, pois vêm da experiência própria. Entretanto, eles podem ajudar você, pai ou educador, a identificar estes traços em seus filhos e corrigí-los a tempo de que danos maiores venham a ser causados na mente deles. É nossa missão, como pais e responsáveis, educar nossos filhos para serem cidadãos melhores, e para isso, não podemos ter medo de orientá-los pelo melhor caminho.

Pensamentos Ministeriais: 2- Ouvindo a voz de Deus

Um dos maiores conflitos na mente de uma pessoa cristã na hora de tomar uma decisão é saber se aquela decisão tomada é da vontade de Deus. Este tema é tão complicado que leva muitas pessoas a ficarem engessadas, orando e esperando por anos a fio a informação divina sobre o caminho que deve ser tomado, sem perceber que Deus já pode ter dado uma resposta bem clara a ela.


Quando penso na questão do ouvir a voz de Deus, percebo como tem gente enganada com relação ao tema. Muitos oram, esperando realmente ouvir sobrenaturalmente Deus falando no ouvido delas. Entretanto, vemos na Bíblia situações onde Deus fala com voz de trovão (Ex. 20.18) e situações onde Deus aparece como um leve sussurro (1 Rs. 19.12). Além disso, a Bíblia alerta para vozes estranhas, notando até que, mesmo que um anjo desça e pregue outro evangelho que não o nosso, deve ser anátema. Como, então, identificar a voz de Deus para nós?


Pensando sobre o tema, pude notar que podemos adotar algumas regras pontuais que podem nos direcionar no caminho certo. São apenas algumas ideias, e creio que vocês, leitores, podem comentar mais sobre o assunto:


1. A voz de Deus não contraria o disposto na sua Palavra: Se cremos que Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre, cremos também que Ele não pode ir contra a mensagem que nos trouxe na sua Palavra. Em questões essenciais e morais, podemos discernir isso, portanto, facilmente. Por exemplo, se o texto bíblico condena o divórcio no NT, devemos estudar bem detalhadamente se é isso que queremos para nossas vidas. Jesus, por exemplo, só autorizou o divórcio em caso de adultério. Hoje, porém, temos muito mais situações, como violência doméstica, adultério virtual, dentre outros. Em todo caso, se você acha que Deus, por exemplo, está lhe dizendo para deixar seu marido atual para se casar com outro homem, isso não faz sentido, pois vai contra os seus ensinamentos bíblicos.


2. Em casos de divergência bíblica, devemos confiar na revelação final de Deus, na figura de Jesus Cristo: Os grandes reformadores trouxeram novamente à tona a chave cristológica de interpretação das Escrituras. Ou seja, devemos confiar que Cristo nos trouxe a palavra mais próxima do que Deus queria para nós. Portanto, se Salmos diz que bom é aquele que pega a criança de nossos inimigos e a joga contra a pedra, e Jesus fala que devemos orar por nossos inimigos, seguimos esta linha de raciocínio. Logo, se você acha que Deus está dizendo para você se vingar de outra pessoa pelo mal que ela lhe fez, esta voz não pode vir de Deus. Até porque a vingança é somente Dele (Sl. 94.1).


3. Em casos omissos na Bíblia, não devemos buscar o escândalo: Os mais liberais detestam quando os pastores citam 1 Co. 6.12 e 1 Co. 10.23. Eles acham que é uma desculpa que o pastor usa quando não tem mais argumentos para impedir que alguém faça algo não-ortodoxo na igreja. O fato, porém, é que o Espírito Santo une, enquanto Satanás busca dividir a igreja. Por coisas muito pequenas, como a música que deve ser tocada no culto, comunidades racharam ao meio. Logo, devemos sempre tomar cuidado com as coisas que fazemos, especialmente com aquelas que podem nos dominar ou com aquelas que não edificam a igreja ou a meus irmãos. Portanto, se você acha que Deus lhe disse para fazer uma tatuagem e está escandalizando os membros mais fracos na fé, você está redondamente enganado.


4. A voz de Deus jamais incentiva o pecado: Isso é óbvio, né, gente? É corolário do item 1. Deus condena o pecado na Bíblia. Se Ele é o mesmo, jamais te dirá para pecar. Logo, se você achar que Deus deu a você um comando para transar com sua namorada, você está redondamente enganado.


Enfim, por enquanto só consegui pensar nessas quatro. Se você lembrar de outras, pode comentar este post. Eu lembrando de outras, também colocarei aqui. Abraços.

Pensamentos Ministeriais: 1- A luta entre o tempo para a igreja e para a família

Dois dias atrás, publiquei um post sobre minha pequena grande crise, por ser ministro auxiliar de minha igreja. Na verdade, para deixar bem claro, nem posso me enquadrar como ministro de meio período, pois não dou expediente na igreja. Na verdade, uso minhas noites livres para estudar, preparar minha classe de EBD aos sábados e pensar sobre as atividades que a juventude pode vir a realizar no futuro. Tempo investido na igreja, de fato, creio ser por volta de 10 horas semanais. É claro que, nesta contagem, não incluo tempo devocional e tempo de estudo, como tenho tido ultimamente, voltando a ir de ônibus para o trabalho.

O fato é que, ao pensar nesta dedicação, comecei a perceber que nem havia incluído meu futuro casamento. Em julho, estarei me unindo à minha noiva e sei que precisarei dedicar tempo de minha vida para cultivar esta nova relação. Por isso, comecei a sentir na pele aquilo que tantos autores de livros sobre ministério pastoral enfatizam: A família é primordial na vida do pastor. Se ele não cultivar um tempo para ela, problemas podem acontecer.

O fato é que, independente de ser ministro de tempo integral ou meio período, os pastores têm problemas para conseguir reservar um tempo para apenas se relacionarem com suas famílias. Conheci um pastor que era professor, trabalhava no seminário e ainda pastoreava uma igreja em tempo integral. Na aula, ele comentou que tirava a segunda-feira para se divertir com seus filhos e investia as noites de quinta-feira especificamente no seu relacionamento conjugal. Esta situação, porém, pode se agravar nos casos de ministros de meio período, pois, caso resolvam dar expediente noturno na igreja, estes pastores e líderes podem se ver sem tempo nenhum para suas famílias ou para seu descanso.

Hoje mesmo, lendo sobre os desafios do ministério pastoral, vi um texto que abordava exatamente a questão do descanso semanal. O autor foi bem feliz ao apontar que o descanso semanal foi criado por Deus para o homem poder recuperar suas energias após uma longa semana de trabalho. O próprio prazo (1 descanso a cada 7 dias) revela uma perfeição incrível. Durante a Revolução Francesa, tentou-se alterar o calendário semanal para 10 dias, dando-se um dia de descanso no décimo, porém, após 12 anos, percebeu-se que o novo calendário havia aumentado os índices de doenças relacionadas à fadiga (o estresse era algo desconhecido na época), causando a sua abolição.

Outra questão que afeta a vida pastoral é o período de férias. Muitos pastores preferem parcelar seus períodos de férias ao longo do ano, ficando a semana fora mas não deixando as igrejas aos domingos. Muitos, por outro lado, simplesmente ignoram os sinais do corpo e passam anos, até mesmo décadas, sem tirarem férias. Isso acaba aumentando o índice de doenças e encurta o tempo de serviço ministerial. É escandalosa a quantidade de pastores com problemas cardíacos ou cancerígenos, muitos somatizados após anos de lutas para comandar uma congregação.

Posso perceber, enfim, que este será um dos maiores desafios de minha nova vida. Não sei quando (ou se) serei convidado para pastorear uma igreja inteira. Porém, quando este dia chegar, espero me lembrar desta meditação e ser totalmente honesto e aberto com a Comissão de Sucessão, estabelecendo dias e datas fixas para descanso e para férias. Somente assim, creio eu, poderei dar o máximo de mim pela igreja, respeitando os momentos de descanso que o corpo exigir.