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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Heresia da Prosperidade - Parte II: Prosperidade no Salmo 128

Esta semana, estou buscando retomar minhas atividades de redação de textos aqui para o blog. Minha intenção, como sempre, é abençoar as pessoas que eventualmente possam encontrar este endereço, seja pelo Twitter, pelo Facebook, pelo Orkut, pelo Google ou por outras fontes de origem.

Há algumas semanas, comecei a trabalhar a Heresia da Prosperidade, o mal que considero ser o maior desafio já enfrentado pela igreja cristã nos últimos 200 anos. Na época, trabalhei o Salmo 126, usado por um pastor em uma mensagem transmitida em uma popular rádio gospel no Rio de Janeiro. Hoje, continuando minha leitura bíblica, me deparei com o Salmo 128 e descobri uma linda pérola poética que ajuda no processo de destruição deste castelo de cartas que é a teologia da saúde e da riqueza (tradução literal do termo original em inglês para a Teologia da Prosperidade, "Health and Wealth Gospel").

O texto do Salmo 128 apresenta-se abaixo:

Como é feliz quem teme ao Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero. Sua mulher será como videira frutífera em sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa. Assim será abençoado o homem que teme ao Senhor! Que o Senhor o abençoe desde Sião, para que você veja a prosperidade de Jerusalém todos os dias da sua vida, e veja os filhos dos seus filhos. Haja paz em Israel!


Como os irmãos têm percebido, eu gosto de tirar a numeração dos versículos, pois ajuda a entender o contexto do texto completo, impedindo a tentação de extrair versículos isolados e fazer teologia a partir deles (lembrando que esta numeração não faz parte do texto original do AT e do NT). Ao lermos o texto, percebemos alguns detalhes centrais:


1. O texto fala que é feliz quem teme ao Senhor e anda em seus caminhos.

2. O texto fala sobre bênçãos que um homem recebe ao temer ao Senhor: Felicidade, bens materiais, família.

3. O texto termina falando sobre "paz em Israel".


Ao ler estes três temas e associando-os, percebemos que o autor faz uma correlação entre a responsabilidade individual do homem em temer a Deus, seguindo sua Lei, e o desejo que Israel tenha paz.


O mais interessante, porém, é notar o uso da palavra prosperidade. Esta palavra é usada na Nova Versão Internacional, mas não na Almeida Revista e Atualizada (na ARA, o texto fala que a pessoa "irá bem" e que ele verá "os bens de Jerusalém"). Isso já indica que a palavra pode ser mal interpretada pelos leitores mais rasos da Palavra de Deus.


Mesmo que considerássemos o termo "prosperidade" como sendo a melhor tradução do original hebraico, mesmo que entendêssemos o termo como sagrado, teríamos problemas em adaptá-lo ao conceito de prosperidade que vemos hoje. O motivo é simples e duplo:


1. O texto não promete que o homem não terá lutas, aflições ou doenças. Apenas diz que ele será feliz, bem-aventurado.


2. O texto, em nenhum momento, diz que o homem que teme ao Senhor será rico ou desfrutará de grandes riquezas dadas pelos céus. Pelo contrário, o texto afirma que o homem "comerá do fruto do seu trabalho". Este texto certamente faz referência aos pesados impostos cobrados pela Pérsia aos agricultores, porém ele deixa claro, independente do contexto mais histórico, que o homem será limitado em seus ganhos ao que ele conquista com seu esforço pessoal. Não há, aqui, qualquer menção de grandes riquezas dadas pelos céus ao homem. Esta história de que o homem, ao se converter, começa a usufruir das riquezas dos céus na Terra, portanto, é pura ladainha de estelionatário querendo extorquir dinheiro dos pobres incautos que entram em suas igrejas.


Ou seja, ao lermos este texto com carinho, compreendemos melhor o conceito de prosperidade no AT: Ter uma vida feliz, uma família grande e unida, e poder ter um ganho honesto com o trabalho de suas mãos. Qualquer coisa além disso, com base neste texto, é heresia.

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