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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Evangelismo, vagões de metrô e gritaria combinam?

Todos sabem que é extremamente difícil, nos dias de hoje, levar a Palavra de Deus àqueles que precisam. Existe muito ceticismo por parte da população, e o pecado abunda nesta Terra. Vários irmãos zelosos, sentindo o chamado de Deus, decidem separar um tempo de suas vidas para levar a Palavra àqueles que não a conhecem, evangelizando nas ruas, praças e esquinas de nossas cidades. Isso é muito louvável. Contudo, sabemos que, em alguns casos, exageros acontecem, e isso acaba causando algumas dificuldades adicionais à pregação do evangelho.

O vídeo que está apresentado abaixo foi recentemente divulgado no Youtube e retrata bem a forma como alguns grupos religiosos agem para proclamar a Palavra de Deus. É sabido que vários grupos resolvem que a melhor forma de pregar o evangelho é falando alto em meios de transporte em massa, em especial trens e ônibus. No Rio de Janeiro, sabe-se que, em vários vagões de trens da Central do Brasil, acontecem verdadeiros cultos, com louvor e pregação, durante a viagem. O problema é que muitos usuários destes meios de transporte não desejam ouvir a mensagem, pois estão aproveitando o tempo para descansar um pouco, seja complementando o sono da manhã, cortado pela necessidade de levantar muito cedo para chegar ao local de serviço, seja relaxando após um longo dia de trabalho no retorno para sua residência.

A justificativa teológica para estes grupos adotarem esta prática é que o cristão deve pregar a Palavra "a tempo e fora de tempo". O problema é que Paulo nunca disse isso. Em 2 Tm. 4.2, vemos que Paulo pede para que Timóteo, pastor da igreja em Éfeso, "pregue a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina". Ora, o que Timóteo deveria fazer a tempo e fora de tempo é "instar", ou "ficar preparado", conforme a NVI. Isso significa que Timóteo deveria se preparar para, a qualquer momento, exortar ou ensinar um irmão que estivesse tendo um comportamento divergente do considerado aceitável pela Palavra de Deus. É claro que, com isso, não estou dizendo que não se deve pregar em praça pública. Apenas creio que o espaço das pessoas que estão nestes meios de transporte deve ser respeitado.

O maior problema é que este tipo de comportamento acaba afetando outras formas de evangelização. Outro dia, parado numa marquise de um conhecido prédio do Rio de Janeiro, abrigando-me da chuva, recebi um folheto evangelístico de uma humilde senhora. Folheto saudável, do bom, que fala que a boa semente é a Palavra de Deus (e não as ofertas que alguns professam em seus programas). Infelizmente, após entregar-me o folheto, a senhora foi abordada por um segurança do local, que a impediu de continuar seu trabalho na marquise, dizendo para ela ficar no espaço aberto da rua. Ela não fazia nada demais, porém, como costumam atuar na região outros pregadores mais "incisivos" e "invasivos", ela acabou sendo impedida de continuar a obra de Deus.

Na Bíblia, temos vários exemplos de evangelização. Por exemplo, Pedro e João, em At. 3, fazem o milagre e depois, quando as atenções do povo se voltam a eles, eles pregam a Palavra. Paulo chegava a entrar nas sinagogas, mas lia as Escrituras e mencionava, através de sua argumentação lógica, que Jesus era o messias esperado. Vemos outros exemplos de pregação em público (Jonas 3, Jeremias 33-38, 1 Reis 18, dentre tantos ouros), porém, não vemos paralelos entre estes eventos e o acontecido no metrô.

O fato é que a Bíblia nos ensina que devemos falar com moderação (Pv. 21.23), ensinar com amor (Pv. 31.26). Ela fala que a língua branda pode convencer qualquer um (Pv. 25.15), traz cura (Pv. 26.28). Tiago ainda adverte sobre a língua que abençoa e amaldiçoa, dizendo que ambos não podem proceder da mesma fonte (Tg. 3.9-11), e que a sabedoria que vem do alto é "antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera" (Tg. 3.17).

Eu oro e peço a Deus que continue levantando pessoas com a vontade ousada de pregar o Evangelho de Jesus Cristo. Mas também oro e peço a Deus que toque no coração destas pessoas para que elas observem as necessidades do seu próximo, que deseja descansar antes ou depois de um longo dia de trabalho, para iniciarem seu trabalho evangelístico.

Segue abaixo o vídeo mencionado mais acima. Vejam e tirem suas conclusões:


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