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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Teologia da Prosperidade: Um desafio à pregação da sã doutrina (Parte 1/2)

Prezados amigos, irmãos e leitores. Há algum tempo venho comentando no Facebook sobre como Deus tem agido em minha vida. Sonhos antigos que possuía começaram a se realizar. Alguns ainda estão a caminho, porém outros já estão aqui. Hoje, compartilho com vocês um destes pequenos sonhos: A publicação de um artigo em uma revista.

Este artigo sobre a Teologia da Prosperidade foi enviado por mim e publicado na revista Educador do primeiro trimestre deste ano. Para mim, é com muita alegria que recebi a notícia de que teria este artigo publicado, pois creio plenamente que o tema é crucial para a pregação do evangelho.

Agradeço desde já ao diretor-geral da Convenção Batista Brasileira, Pr. Sócrates Oliveira de Souza, e à redatora da Revista Educador, Profa. Jane Esther, pela oportunidade, e mantenho a minha disposição de continuar contribuindo para a nossa querida Convenção.

Enfim, sem mais delongas, segue a primeira de duas partes do artigo publicado na revista deste trimestre:

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            Esta história aconteceu há cerca de três anos, mas certamente não perdeu sua contemporaneidade. Em um domingo de verão, devido à falta de vários alunos da classe de jovens, decidi acompanhar a lição com os homens. Naquele dia, iniciou-se um debate sobre o crescimento de determinadas igrejas, da linha neopentecostal, que pregavam a já conhecida Teologia da Prosperidade. Fui taxativo ao notar que muitas pessoas se deslocavam a essas igrejas em busca das bênçãos materiais que seus líderes ofereciam. Pensei, com isso, ter feito um comentário que seria pacífico entre o grupo. Para minha surpresa, porém, fui questionado por um irmão, que afirmou que não só discordava do meu ponto de vista como freqüentava uma dessas igrejas durante a semana e não entendia porque esta mensagem não era apresentada em nossa tradicional comunidade.

A vida do educador em nossas igrejas, hoje, é muito difícil. Tanto pastores quanto professores e líderes precisam enfrentar uma nova realidade: as igrejas estão brigando entre si para conquistar espaço em um “mercado religioso”. Nesse embate, várias armas são usadas, como a TV, rádios e internet, para alcançar um público a cada dia mais informado, carente e místico. Para vencer a disputa, as igrejas oferecem bênçãos e milagres instantâneos, raramente mencionando o Deus das bênçãos no processo.

Quando nos deparamos com esse quadro, não conseguimos parar de nos questionar: O que está por trás do sucesso destas igrejas, e o que nós, batistas, podemos fazer para impedir que nossos irmãos sejam atraídos por seus ensinamentos e deixem os nossos arraiais, ou mesmo os influencie por dentro?

Os princípios da Teologia da Prosperidade

Mas do que se trata, enfim, a Teologia da Prosperidade, e por que é tão danosa a nossas comunidades? Airton Jungblut define esta Teologia como sendo a doutrina

que prega enfaticamente o direito de todo crente, detentor de uma verdadeira fé cristã, exigir de Deus o cumprimento imediato de todas as bênçãos prometidas ao seu povo quando da remissão dos pecados através da morte sacrificial de Cristo. Ela postula que Deus está obrigado a atender a todo tipo de solicitação (saúde, riqueza, felicidade, etc.) feita corretamente através do que é denominado "confissão positiva", ou seja, através da fé incondicional na realização da solicitação associada ao emprego de vocábulos corretos que expressem a sua legitimidade bíblica[1].

Esta doutrina foi elaborada por Kenneth Hagin na década de 50 e ensinada ao longo de sua vida. Allan Pieratt, que pesquisou as obras de Hagin, divide seus ensinamentos em três pilares: Autoridade Espiritual, Saúde e Prosperidade e Confissão Positiva[2].

O primeiro pilar trata sobre a Autoridade Espiritual que Kenneth Hagin assumia para si. Hagin divulgou a sua pregação partindo do pressuposto de que ele teria uma “unção de profeta, que seria uma bênção especial dada por Deus para trazer novas revelações, visões ou interpretações da Bíblia, que, mesmo que fossem opostas a outros trechos, deveriam ser entendidas como infalíveis por serem oriundas do próprio Deus. Aqueles que questionassem sua autoridade poderiam ser vítimas da ira de Deus, chegando a afirmar que, se um pastor não aceitasse a sua mensagem, ele poderia cair morto no púlpito[3].

O segundo pilar da pregação de Hagin diz respeito ao direito do cristão de ser sadio e próspero. Em sua literatura, Hagin afirma que “as doenças e enfermidades não são da vontade de Deus para o Seu povo. Ele não quer que a maldição paire sobre os Seus filhos por causa da desobediência; Ele quer abençoá-los com a saúde”[4]. Para fundamentar esta alegação, Hagin argumenta que, se não era da vontade de Deus que o povo de Israel, seus servos, ficasse doente, quanto mais hoje com a igreja, formada por filhos Dele[5]. Além disso, Hagin reinterpreta os textos bíblicos que mencionam que os cristãos passam por aflições neste mundo, dizendo que estas aflições não envolvem doenças (Mt. 8.17).

Com relação à prosperidade financeira, segundo Pieratt[6], Hagin adota a mesma filosofia: Assim como o cristão tem direito à saúde, ele também tem direito a ser próspero. A pobreza ou as dificuldades financeiras de qualquer espécie também não representam a vontade de Deus para o homem. Para isso, o cristão deve seguir alguns parâmetros: Meditar na palavra dia e noite (Js. 1.8), orar por isso (3 Jo. 2), ter fé (Fp. 4.19).

Segundo os pregadores neopentecostais, esta prosperidade não significa ser apenas satisfeito com o que você possui, mas desejar possuir tudo do bom e do melhor: as melhores comidas, roupas, carros, casas. Hagin, em dada oportunidade, teria ouvido de um pregador que Jesus e seus discípulos não andaram em Cadillacs. Hagin, então, reinterpretou o texto da entrada de Jesus em Jerusalém, afirmando que Jesus andou em um jumento, o que seria o “Cadillac” da época. Este pensamento ilustra bem a visão de Hagin e de seus discípulos: O crente não apenas deve almejar a prosperidade, ele não deve colocar limites à sua ambição. Quem não alcança essas bênçãos, é o próprio culpado de seus sofrimentos.

Para alcançar estas bênçãos materiais, há duas técnicas. A primeira, especificamente para a questão financeira, envolve a entrega de ofertas à igreja. Esta técnica se relaciona com os relatos e parábolas e textos sobre semeadura (Mc. 4.26ss, Sl. 126.6), onde se compara a semeadura às ofertas dadas na igreja e se afirma que o crente tem o direito de cobrar de Deus uma colheita abundante, ou seja, riquezas multiplicadas.

A segunda, criada por Hagin, afirmava que o crente deveria exercitar uma técnica chamada de Confissão Positiva. Esta técnica é um conjunto de condições que o cristão deve exercitar para receber as bênçãos descritas acima. Pieratt explica que “a confissão positiva ensina que o cristão será próspero segundo aquilo que ele conhece sobre seus direitos, de acordo com a firmeza com que ele acredita neles e pelo modo como ele confessa”[7].

A confissão positiva, segundo Pieratt, se divide em cinco atos: O conhecimento dos direitos do cristão, a firmeza da fé (chegando ao desafio e cobrança a Deus sobre o cumprimento da promessa), o uso místico do nome de Jesus, ausência de dúvida quanto à realização da bênção e a confissão da dádiva em voz alta. Sem estes cinco atos, o cristão não possui condições de ativar sua bênção e acaba tendo uma vida amarrada.  Por conta disso, este procedimento acaba tornando-se o cerne da pregação neopentecostal.



[1] JUNGBLUT, Airton L. A guerra santa de Evangélicos contra Neopentecostais. Debates do NER, Porto Alegre, ano 1, n. 1, p. 46-52. Novembro de 1997.
[2] PIERATT, Allan. O evangelho da prosperidade. São Paulo: Vida Nova, 1993.
[3] PIERATT, p. 23.
[4] HAGIN, apud. PIERATT, p. 25.
[5] Em uma declaração curiosa em seu livro Compreendendo a Unção (p. 31), Hagin afirmou que não sentia dor de cabeça desde agosto de 1933, quando ainda era adolescente.
[6] PIERATT, p. 28.
[7] PIERATT, p. 32.

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