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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Teologia da Prosperidade: Um desafio à pregação da sã doutrina (Parte 2/2)

Boa tarde, prezados amigos e leitores. Hoje, publicamos a segunda e última parte do artigo de minha autoria que foi publicado na Revista Educador, da Convenção Batista Brasileira, neste primeiro trimestre. Espero que apreciem. Abraços a todos.

Os grandes perigos da doutrina da prosperidade

A doutrina da prosperidade, por causa de seus paradigmas, traz inúmeros desafios aos educadores tradicionais de hoje. Enfrentá-los não é fácil e pode trazer muitas dores de cabeça ou conflitos. Porém, essa luta é necessária para que a congregação possa manter um nível de vida cristã sadia.  

Em primeiro lugar, a infiltração desta doutrina no seio das igrejas tem levado os cristãos a pensarem cada vez mais em satisfazer os seus desejos individuais. Em algumas comunidades, esta pregação é mais aberta, com os fieis orando e brigando com Deus para receber a sua bênção, o que acaba gerando migração para igrejas com “mais poder” ou “mais unção”, ou simplesmente abandono da fé, quando não veem seus intuitos realizados. Ao agirem desta forma, provam que ignoram uma das partes da oração que o Senhor nos ensinou: “Seja feita a Tua vontade” (Mt. 6.10). Ignoram que Deus tem toda a autoridade para dizer “não” a nossos desejos (2 Sm. 12, 2 Co. 12.7-9, Mt. 26.42) e o faz porque quer o nosso melhor (Rm. 12.2).

Em outras comunidades, porém, o efeito da doutrina é mais velado, com cristãos direcionando todo o seu tempo para crescerem materialmente. Não pedem a Deus a bênção diretamente, mas pedem por empregos cada vez melhores, gastando horas, dias, anos, estudando ininterruptamente para crescer mais e mais na carreira, mas não direcionando um momento satisfatório para cultivarem um relacionamento saudável e íntimo com o Senhor, porque “não tem tempo”. Não só isso, muitas vezes tais pessoas prejudicam sua saúde e vida familiar por não dedicarem o tempo necessário para conviver com eles. Ignoram a palavra do sábio, que disse: “Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho, é um presente de Deus” (Ec. 3.13).

Além disso, ao pensarem apenas em seus anseios e desejos próprios, estes cristãos dificilmente aproximam-se de seus irmãos, relacionando-se meramente na vertical e ignorando os problemas e dificuldades que acontecem na horizontal. Por causa da justificativa para o não recebimento de bênçãos desta teologia, é comum que aqueles que não receberam a bênção sejam julgados e malvistos pelos demais fieis, sendo acusados injustamente de terem pouca fé, estarem com pecado escondido ou serem endemoninhados. Esquecem-se do fato de que a igreja primitiva cultivava a comunhão não apenas relacional, mas também a comunhão de bens, buscando conhecer as necessidades uns dos outros para dividir o que tinham entre si (At. 2.44,45). Também ignoram que o que nos afeta não vem, necessariamente, de pecado (Jo. 9.2,3), e que grandes herois da fé, como Pedro, Paulo, Estêvão e Tiago, sofreram por conta do evangelho.

O maior agravante, porém, pode vir do conformismo de alguns pastores a toda esta sensação de “mercado religioso” que circunda o meio evangélico atual. Na vã tentativa de atraírem pessoas para o que consideram ser uma “igreja saudável”, muitos pregadores têm negociado seus púlpitos, abdicando da oportunidade de alimentar suas congregações com mensagens bíblicas consistentes para apresentar pregações meramente de auto-ajuda ou motivacionais. Com isso, pregam indiretamente as bênçãos de Deus, apresentando mensagens rasas, sem fundamento na Palavra. Ao deixarem a Bíblia de lado, estes pregadores acabam por tornar suas ovelhas mais e mais suscetíveis a ventos de doutrina ou novos apóstolos milagreiros, gerando superficialidade no relacionamento de sua congregação com Deus e instabilidade da membresia.

O que fazer frente a tantos desafios?

Seria presunção minha querer solucionar todos os problemas oriundos da infiltração desta teologia em nossas comunidades. Entretanto, penso que existem algumas ações que podemos tomar para reduzir os seus impactos:

1. Pregue e ensine a Palavra de Deus: Hoje, a mensagem temática está cada vez mais comum em nossas igrejas. Não há nada de errado com este tipo de mensagem, desde que ela emane da Bíblia para os nossos corações. O que tem sido visto hoje, porém, é a utilização da Bíblia como mera ilustração ou pretexto para a transmissão dos argumentos do pregador, muitas vezes sem fundamentação. Ao solidificar a mensagem na Palavra, a congregação se sente atraída pela sua autoridade e tende a ouvi-la com maior atenção.

2. Apresente as diferenças de teologia do Antigo e do Novo Testamento: As igrejas neopentecostais usam o argumento de que Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre para alegar que ele pode, hoje, fazer as mesmas coisas e cumprir as mesmas promessas que serviram para o povo de Israel. Apresente a doutrina da retribuição (Dt. 28) e, depois, a mudança de paradigma que ocorreu ao longo da história de Israel (Is. 1, Jó, Mt. 19.18-24).

3. Estimule o sentimento de comunidade e serviço desinteressados: A igreja nunca foi imaginada na Bíblia como sendo uma comunidade estática e individualista, em que as pessoas vão unicamente para buscar uma força mística que desse a elas o que elas querem. Pelo contrário, a igreja sempre foi caracterizada como um corpo (Ef. 4.15,16, 1 Co. 12), unido em sua diversidade, com dons e talentos que devem ser usados para o crescimento coletivo (1 Co. 12.7, 27) e em prol do outro, sem sentimento de orgulho (1 Co. 13.4,5b). Desta forma, não se deve encorajar a ideia de que as pessoas serão mais abençoadas se servirem mais na igreja. Pelo contrário, deve-se estimular o trabalho por amor, a Deus e ao próximo.

4. Apresente o verdadeiro sentido de prosperidade bíblica: Existem diversos textos que mostram que ter uma vida próspera não significa ter uma vida cheia de riquezas, mas sim aproveitar a vida que Deus lhe deu (Sl. 128.1-4, Ec. 3.13), aceitando que Jesus é o único que pode saciar nossos anseios (Jo. 4.13,14; 6.48-50), dentro das nossas necessidades (Mt. 6.25-33), e não desejos carnais (1 Pd. 2.11,12). Deve-se, portanto, estimular o crente a aproveitar aquilo que conquistou, em vez de gastar todo seu tempo buscando alcançar um patamar maior, enquanto gasta seu tempo nesta vida sem desfrutar dela.

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