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sábado, 17 de março de 2012

Diários de um pastor: Capacitados ou escolhidos? (Mais divagações)

Este post é uma sequência do exposto abaixo. Leiam e confiram.

Bom, pessoal, um dos desafios de um pastor é lembrar de tudo que começa a pensar. Hoje, mais cedo, escrevi algumas linhas sobre a provocação do Pr. Israel Belo de Azevedo, sobre o ditado "Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos". Essas linhas foram escritas enquanto eu trabalhava arduamente, mas, conforme as horas passaram, eu percebi que o assunto não saía de minha mente. Comecei a meditar sobre o tema, lembrar dos textos bíblicos que falavam sobre o tema, e percebi que o assunto pode ser ainda mais dissecado. Acho que cada ponto daria um sermão específico. Talvez até gere uma série de mensagens destas meditações, para o futuro, não sei. Só sei que, quando minha mente começa a divagar desta forma, o incômodo para colocar no papel (ou na rede) é muito grande. Vamos lá.

A primeira coisa que pensei, ao repensar o tema, é que o ditado está certo, se lido da forma como escrita acima. Perceba o objeto direto do substantivo "capacitados". Ele dá a ideia de totalidade. "Deus não escolhe TODOS os capacitados". E isso é fato. Nem toda pessoa que tem capacidade para realizar alguma atividade foi escolhida por Deus para realizar algo. Essa capacidade pode ser algo natural ou algo que a pessoa lutou para desenvolver, e isso pode até ir contra os preceitos divinos, como, por exemplo, o vendedor que cria a capacidade da mentira para enganar os outros sobre as qualidades de seu produto.

Por outro lado, é também fato que Deus "capacita os escolhidos", mas não da forma como se pensa. No texto do Pr. Israel, vemos que ele critica aqueles que não estudam ou se esforçam para aprimorar suas qualidades. Pode ser o pastor que acha que, porque é um instrumento de Deus, pode pregar simplesmente abrindo a Bíblia  a esmo e pegando um texto de cara, sem estudar seu contexto. Pode ser o músico que acha que não precisa aprender as nuances de uma melodia ou novas harmonias, pois "o Espírito" irá guiar suas mãos nas notas certas. O resultado, em geral, é desastroso em ambos os casos. E nem falamos sobre outros trabalhos na comunidade, como lideranças em geral, cultinho, cantatas, regência, participações especiais, dentre outros.

Eu interpreto esta parte como Deus dando capacidade daquela pessoa executar uma tarefa, através da vontade, facilidade de aprendizado, esforço e competência específica. Por exemplo, um bom pregador precisa falar bem, ser bom leitor, estudioso, não ter medo do público e se dedicar, às vezes horas a fio, para aperfeiçoar, polir, a mensagem que Deus lhe concedeu. Pode ser que uma pessoa escolhida por Deus não tenha alguns destes traços (Moisés), mas Deus lhe dará capacidade ou uma solução para o problema (Arão).

Existe outra posição que podemos tomar, também. Deus não escolhe todos os capacitados, mas ele só escolhe incapazes? A resposta é não. Eu analiso da seguinte forma: A capacidade está ligada com o dom ou talento que a pessoa possui. Alguns são natos, outros são adquiridos através do esforço e da força de vontade (que pode vir de um desejo inato de trabalhar aquela área em sua vida). Desta forma, eu penso que todos os escolhidos por Ele são capacitados, seja através do talento natural pra coisa (como o camarada que identifica a nota musical de qualquer coisa, até de um copo quebrando), seja através do desejo que Ele desperta na pessoa para se esmerar e estudar aquela área de sua vida, aperfeiçoando-a continuamente. Por exemplo: Moisés foi educado por 40 anos no Egito, Paulo ficou 14 anos se preparando para o ministério. Até mesmo os discípulos ficaram três anos aprendendo com o Mestre. 

Por fim, elaboro mais sobre a questão da intimidade com Deus e sua relação com a capacidade que Deus dá ao homem para realizar algo. Para mim, a melhor forma de fazer a obra de Deus é através do binômio intimidade-excelência. Uma pessoa excelente, sem intimidade com Deus, vai estar fazendo algo vazio, apenas para se mostrar. Uma pessoa íntima de Deus, mas que não é excelente, vai se contentar com pouco e ignorar que seu dom afeta outras pessoas. Uma pessoa que é íntima de Deus e que é excelente, porém, consegue fazer a obra de forma completa. É como se colocássemos em prática a lei do amor a Deus e ao próximo: Se amo a Deus, vou querer dar meu melhor pra Ele. Se amo meu próximo, vou querer evitar atacar seus ouvidos com músicas estrondosas, desafinadas ou vazias. Ser ministro, seja da Palavra, do louvor ou qualquer coisa, envolve relacionamento vertical (com Deus) e horizontal (com o próximo), e este relacionamento só se desenvolve através de um trabalho que envolve disciplina para melhorar e vislumbre a Deus como o receptor do culto, a essência da relação cúltica, o sentido da liturgia. 

Por enquanto é isso. Mas acho que ainda tem espaço para mais divagações sobre o tema. Até lá.

3 comentários:

  1. Vim aqui para comentar. Mas não posso comentar, porque parte-se do pressuposto do que Deus quer, e eu não posso mais falar sob essa perspectiva. Na prática, fenomenologicamente falando, tem muito zé-arruela trabalhando (às vezes ajudando, às vezes fazendo besteira) e tem muito doutor trabalhando (às vezes ajudando, às vezes fazendo besteira). Só quem julga poder discernir a ação de Deus - e não sou eu a fazê-lo - pode achar que da pra dizer que Deus chamou esse ou aquele. Na prática, chamou Macedo, R. R. Soares, Valdemiro, o pastor do tráfico (10%!), os pastores pobres, os de carrão de luxo, os da baixada, os da Barra e Recreio... Não tenho olho mágico: e o "Reino" tem de tudo, de bom, de ruim, de anjos e de canalhas. Achar um anjo bem preparado é bom - mas não sei se isso quer dizer que tenha sido Deus a mexer os pauzinhos...

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  2. Amado Pr.Andre Falcão, concordo com voçê que temos de ter comunhão horizontal e conmunhão vertical, este é o significado da cruz. Acrescentaria compromisso com a obra de Deus, e principalmente com o dono da obra, que é Deus.
    Acho e até coloque no meu status no facebook que Deus escolhe que Ele quer e a este capacita, Deus escolheu homens despreparados para serem seu discipulos, e a estes Jesus ficou o ministério Dele todo capacitando-os e mesmo assim não foram excelentes. Paulos de Tarso dedicou-se ao estudo da palavra como o melhor mestre de sua época, Gamaliel, e mesmo assim não entendeu a verdadeira mensagem, Deus precisou tratar pessoalmente com ele "discipula-lo", Paulo foi um dos maiores nomes do NT, foi o que mais escreveu no NT, foi o que mais plantou comunidades cristãs "igrejas" e mesmo assim não atingiu a excelência. Nós somos muito limitados para atingirmos a excelência, Deus nos usa através de nossas imperfeições e limitações ai está o grande milagre de Deus. Quando nos achamos capacitados e/ou excelêntes, nos achamos melhores que nossos irmão e deixamos de ser dependente de Deus. E ai acotencem as barbarias que vemos, ouvimos e lemos na midia, com certos lideres evangelicos envergonhando o evangelho com teologias estranhas, que visam enganar o povo e angariar recursos para seu próprio enriquecimento, e outros que nem chegam a midia mas minam a saúde de muitas igrejas por ai, que os achar capacitados e excelêntes, mas que apenas destorcem e atrapalham as boas novas do evangelho.

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    1. Sem sombra de dúvidas, Marcus, sua colocação representa bem meu pensamento. Capacidade, sem intimidade, geram essas distorções que vemos: Pastores enganando o povo, deturpando o evangelho apenas para encher igreja e/ou seus bolsos, cantores criando músicas para dar suporte a essa massa de crentes enganados... São muitos os exemplos. Porém, isso não nos exime de trabalhar para buscar aprimorar nossas capacidades, não para aparecer, mas para fazer um trabalho melhor na obra do Senhor. Vide Paulo, que, no final da vida, pede que levem para ele seus livros e pergaminhos. Será que era só para uma leitura ocasional, para passar melhor o tempo em sua prisão domiciliar?

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