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terça-feira, 27 de março de 2012

Diários de um pastor: A linha entre a moral e o legal

Como tenho dito, um dos meus exercícios favoritos é vasculhar a internet por notícias do estado do cristianismo no Brasil e no mundo. A cada dia que passa, vemos que a coisa está indo de mal a pior. Enfrentamos lutas internas e externas. Uma dessas notícias, datada de hoje, falava sobre uma suposta prática de nepotismo entre os gabinetes de dois parlamentares brasileiros e evangélicos: Um teria contratado, em seu gabinete, o irmão de outra parlamentar.

Apesar da notícia ser apenas acusatória (não demonstrando provas ou dando direito de defesa), o texto fez questão de notar que, da forma como se apresentou, a prática seria legal, porém imoral. Isso fez minha cabeça começar a girar: Como deve ser a vivência do cristão perante a lei? Há alguma incongruência entre legalidade e moralidade? Pode um cristão agir legalmente, porém de forma imoral? E o contrário? Pode um cristão agir de forma moral, porém ilegalmente?

Analisando a questão sob um prisma bem superficial, do alto da cabeça, podemos vislumbrar questões em nosso país que são legais, mas não são nada morais. O consumo de bebida alcoólica é permitido, porém seus efeitos devastadores na sociedade são minimizados. A pornografia é liberada na TV em horários alternativos (geralmente de madrugada), porém abertas a quem quiser assistir na TV a cabo. Na internet, então, se você souber os caminhos, nem precisa passar pelos links de comprovação de maioridade. O cigarro também é liberado, apesar de devastar o nosso corpo e onerar o sistema de saúde.

Pela nossa lei nacional, consumir bebida alcoólica, fumar cigarro e assistir a produções pornográficas é perfeitamente legal, dentro de suas restrições. Contudo, não significa que suas práticas são aceitáveis moralmente. Em especial quando falamos da moral bíblica e cristã, onde o corpo é comparado ao santuário do Espírito Santo (1 Co. 6.19) e a vida e saúde, vista como bênção de Deus, qualquer atentado contra ele infringe a moral bíblica. Destruir o corpo significa destruir o santuário do Espírito, significa aniquilar o corpo e a vida que o Senhor nos deu.

Por outro lado, pode existir uma conduta moral, segundo a Bíblia, e ilegal? Sim, é claro. Na Bíblia vemos inúmeros casos onde era ilegal não adorar a Deus, mas sim que era obrigado adorar ao regente (os reis persas e os imperadores romanos, por exemplo). Outra seria se a mulher cristã da Ásia Menor se recusasse a cumprir seu serviço como prostituta cultual nos templos gregos.

A pergunta que fica, então, é: Até onde o cristão pode ir, nas instâncias em que a moral e o legal não andam juntos, mas formam fronteiras? Penso eu como Pedro, que diz que "mais importa agradar a Deus do que aos homens" (At. 5.29). Isso significa:

1. Não andar segundo os caminhos deste mundo, se eles forem imorais aos olhos de Deus (Sl.1.2): Isso significa não aceitar igrejas que vendem seus púlpitos para politicagem, extorquem o povo em sua credulidade para se apropriar de suas riquezas. Isso significa não aceitar pastores que pregam um evangelho barato, de auto-ajuda, para encher igrejas, sem mostrar a elas o verdadeiro caminho da cruz.

2. Não me curvar às imposições deste mundo, mesmo que isso signifique o ostracismo ou coisa pior (Jo. 15.18, 19): Em alguns casos, a lei pode permitir ou impor um padrão de comportamento que vai contra a moral bíblica, como a questão da idolatria mencionada anteriormente, ou práticas eclesiásticas sob as quais a lei humana não tem regulação. Nestes casos, vivo segundo minha consciência e a postura bíblica.

Agora, percebam um último detalhe: Tudo o que comentei aqui, é de foro de decisão individual. Essas exortações são de mim para você, leitor querido. Tentar impor nossa visão sobre os outros por meio da força política sobre todos os outros não é um caminho popular ou moral. O próprio Cristo disse que o reino Dele não era desse mundo, por isso precisamos compreender que há espaço para o diálogo e a educação sem a imposição ou obrigação. Numa sociedade democrática, a tolerância e o diálogo devem ser sempre abertos. Do contrário, podemos incorrer no mesmo pecado que a igreja alemã caiu, ao praticamente colocar Adolf Hitler no poder da Alemanha através do voto.

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