Recentemente tive a oportunidade de iniciar a leitura de um livro bem interessante, chamado "Outliers - Fora de série". Este livro de Malcolm Gladwell, pretende desvendar alguns segredos sobre os motivos que levam algumas pessoas a se tornarem especiais, ou foras-de-série, em suas atividades. Com isso, o livro acaba desmistificando algumas questões sobre dons, talentos e competência pessoal. Por estar lendo esta obra para o trabalho, vou procurar tecer alguns comentários aqui sobre o livro, buscando fazer pontes com a teologia cristã.
O primeiro capítulo do livro é controverso, porém bem interessante. O autor afirma que a data de nascimento de um indivíduo pode lhe dar uma vantagem competitiva sobre os outros. A justificativa do autor é a seguinte: Em algumas atividades, existem datas de corte para que a pessoa possa ingressar. Geralmente, estas atividades são realizadas desde a infância, e a data de corte determina quem começa naquele ano e quem fica pro ano seguinte. A questão é que, caso uma pessoa nasça imediatamente depois desta data, ela ganharia quase um ano de desenvolvimento antes de poder ingressar, ganhando uma vantagem competitiva sobre os outros de sua faixa etária.
O autor trabalhou diversos exemplos esportivos para comprovar sua afirmação. Por exemplo, no mundo do hóquei no gelo canadense, a data de corte para uma criança se inscrever nos times de iniciantes (9 anos) é 1º de janeiro. Nesse caso, se uma criança nasce no dia 2 de janeiro, ela precisa esperar até o ano seguinte para se inscrever. Neste momento, ela terá 9 anos e 364 dias. Esses 364 dias a mais de crescimento e desenvolvimento acabam ajudando algumas crianças no trabalho esportivo, levando-as a ter uma vantagem sobre as outras. A prova de que sua teoria estava correta foi ver as escalações de diversos times e seleções mundiais de hóquei no gelo e descobrir que a maioria dos seus jogadores haviam nascido nos meses de janeiro, fevereiro e março (com maior ênfase no mês de janeiro).
Para aumentar a argumentação, o autor notou que esta vantagem aumenta conforme as crianças avançam nas faixas etárias do esporte, pois, por serem maiores e melhores, acabam recebendo um treinamento melhor, gerando uma vantagem cumulativa que as outras crianças não conseguem, por falta de atenção dos treinadores. O resultado é uma seleção muito mais baseada no desenvolvimento inicial da criança do que em algum tipo de talento natural.
É claro que essa afirmação é bombástica, pois detona com a visão de que o homem recebe dons e talentos da parte de Deus para efetuar alguma atividade. Contudo, se compreendermos o dom divino não como a atividade, mas os requisitos e competências necessárias para realizar aquela atividade (força de vontade, coragem, apoio familiar), conseguimos entender porque a data de nascimento ajuda, mas não é definitiva. Afinal, nem toda criança que nasce em janeiro se torna uma excelente jogadora de hóquei (ou de futebol, que também possui data de corte para inscrição nas categorias de base), e nem todo esportista de excelência necessariamente nasce logo após a data de corte (dois jogadores da seleção tcheca campeã do mundo nasceram no final do ano, tendo um nascido no dia 31/12!).
O que podemos extrair dessa primeira análise do livro é que o mundo, às vezes, pode ser cruel com a criança. Muitas sonham em ser jogadores de futebol, um dos esportes mais democráticos do mundo, porém a data de corte para inscrição de uma criança pode ser a diferença entre um jogador bem desenvolvido e um jogador mal trabalhado. No caso das escolas, esse ano de diferença pode significar, também, facilidade ou dificuldade de aprendizado.
O fato é que a época em que a criança nasce pode ajudar, mas não é tudo, como disse. O capítulo posterior do livro afirma que os fora de série se destacam dos outros por gastarem uma quantidade insana de horas trabalhando para aprimorar seus talentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário