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sexta-feira, 9 de março de 2012

Diários de um pastor: O fruto do trabalho (sobre ofertas e comércio de livros e CDs)

Hoje tive a oportunidade de passar mais algumas cópias do meu primeiro livro, "Nazismo e Cristianismo", aqui no trabalho. É impressionante a aceitação que o livro vem tendo. É verdade que vários colegas o compraram simplesmente para me apoiar, porém outros adquiriram a obra porque genuinamente ficaram interessados pelo assunto. Contudo, enquanto distribuía, resolvi implicar com um colega que não comprou e acabei ouvindo algo que me fez pensar. Ele argumentou que eu deveria distribuir gratuitamente o livro para meus colegas, apesar de ter custeado parte dele.

Isso me deixou desnorteado. Um colega, que aprecio muito, criticou-me de tal forma que me fez pensar. Estaria eu cometendo um pecado mortal? Afinal, não obriguei ninguém a adquirir o livro, apenas o ofereci, fiz a propaganda, e o resto aconteceu naturalmente. Pelo menos três pessoas leram o livro e elogiaram bastante o material, debatendo o assunto com afinco. Por que, então, deveria eu ser reprovado por ter vendido o livro? Será que o que fiz foi tão absurdo assim?

Imediatamente me lembrei de uma questão que, por vezes, afetam as nossas igrejas de hoje: A cobrança de venda de algo ao se convidar alguém para participar de culto em sua igreja. Não vou comentar sobre o valor que algumas personalidades gospel cobram como "oferta voluntária", pois "oferta voluntária" não pode ser estipulada. Contudo, falo da prática de cantores que pedem que sejam vendidos um número de CDs, ou de pastores que exigem que sejam repassados alguns livros ou DVDs de suas palestras, para poder pregarem ou louvarem na igreja pretendente.

Ao meditar sobre o assunto, pensei em duas questões distintas: Se é certo vender o material, mesmo a amigos, e se é certo obrigar as igrejas a comprar determinada quantidade de material para ser repassado. Já sabendo que o assunto é polêmico, comecei a remontar alguns textos à minha mente, e com a ajuda de alguns sites, como este e este, pensei em alguns parâmetros sobre o assunto:

1. A produção de livros, CDs, DVDs e coisas afins fazem parte do ministério da pessoa: Essa é fácil de perceber. Assim como um profissional, um ministro do evangelho ou um ministro de louvor investe bastante tempo e esforço para produzir o material, geralmente de divulgação de seu trabalho. No caso de livros, o tempo de pesquisa e produção é enorme. No caso de CDs, o tempo de ensaio, composição e produção das músicas é por vezes exaustivo. Por ser fruto do trabalho da pessoa, este torna-se digno de receber por seu trabalho (Lc. 10.7, Mt. 10.10).

2. A cobrança de valores devem condizer com os gatos envolvidos no projeto: Se uma pessoa vai fazer um show, prover palco, iluminação, som, levar 20 pessoas de equipe de suporte e banda com 8 pessoas, logicamente o investimento necessário para tal será enorme, e o valor cobrado deve abranger todas essas despesas. Porém, é inadimissível uma pessoa cobrar 20 mil reais para ir a uma igreja cantar com playback. É claro que exagerei aqui, mas dá para entender.

3. A exigência de quantidade mínima de venda de produtos não deve ser feita: Aqui entra a opinião pessoal. Se o seu produto é bom, de qualidade, você não terá dificuldades em passá-lo. Creio que a cobrança vem de pessoas que não confiam no seu trabalho ou desejam ardentemente divulgá-lo, não se preocupando com a capacidade da igreja de absorver aquilo. Até hoje, pude perceber que aqueles que mais vendem seus produtos são os que os oferecem humildemente, mostrando sua importância e relevância (livros) ou qualidade (CDs, DVDs).

4. Oferta deve ser tratada como oferta, e cobrança, como cobrança: Não devemos maquiar o valor para contratação de um músico como "oferta". Seja honesto, diga quais são suas despesas para estar no local: Combustível, transporte, hotel. Acima disso, sim, é oferta, e o ministério deve sentir-se livre para oferecê-la ou não. E aí eu sei que há abusos de ambas as partes: Igrejas que não oferecem nada ou dão uma oferta minúscula para abençoar o ministério do camarada, ou "profissionais da fé" que adotam táticas pouco louváveis para arrecadar mais "ofertas" para seu trabalho. Em ambos os casos, os exageros são reprováveis.

E como deve ser a melhor forma de um ministro lidar com a questão? Se eu for convidado, hoje, para qualquer lugar, pediria o transporte (ou combustível, se der pra ir de carro), hospedagem (não me importaria de ser na casa de alguém, dependendo da situação) e a oportunidade de expor o material a ser vendido (livros, DVDs) em algum local da igreja (não precisa ser a porta de saída, com maior trânsito). E, sinceramente, MESMO que a oportunidade de expor o material não fosse dada, ainda assim iria, pois minha missão nesse mundo, como pastor de almas, é pregar o evangelho a toda a criatura, e não vender livros a toda a criatura. Pra mim, vale mais ganhar uma alma para Jesus do que vender quinhentos milhões de livros.

Um comentário:

  1. Acho que o texto de 1Co9 esclarece muita coisa sobre esse assunto.
    "Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar?
    Da mesma forma o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho."
    1 Coríntios 9:13-14
    Este entendimento somado ao espírito de Paulo, que não usava deste direito para não ser pesado à igreja (2Co11:9;12:14), e como em Fp4:17 não corria atrás de ofertas, entendo ser o bom equilíbrio para o cristão. Não que, como Paulo o cristão de hoje tenha que se privar do lucro dado pelo seu trabalho, mas que ele saiba moderar isso de forma a obter o justo sustento, não sendo ganancioso e nem se tornando um fardo pesado de mais para a Igreja.

    Quanto ao seu livro, acho o assunto interessantíssimo, e imagino o trabalho que deva ter dado reunir o conhecimento necessário. O lucro é justo, que Deus te abençoe nisto.


    http://vinibas.blogspot.com

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