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terça-feira, 6 de março de 2012

Igrejas evangélicas viraram fornecedoras de músicos profissionais para bandas e artistas seculares

A música é uma parte importante do culto na maioria das igrejas evangélicas, por isso inúmeros músicos são formados nesse meio. Tendo a oportunidade de integrar a parte musical do louvor nas celebrações das igrejas, muitas pessoas que se convertem acabam descobrindo um talento ou, pelo menos, a possibilidade de aprender a tocar um instrumento e cantar. Esse fenômeno criou, involuntariamente, nas igrejas brasileiras, um mercado paralelo de capacitação.

Igrejas evangélicas viraram fornecedoras de músicos profissionais para bandas e artistas secularesCom isso as igrejas estão sendo vistas por muitos como celeiros de profissionais, que acabam abastecendo bandas e artistas seculares com músicos treinados e versáteis. A formação religiosa é considerada diferencial por alguns profissionais que trabalham recrutando músicos para gravações shows e turnês. O músico carioca Simoninha conta que a expressão “esse cara é bom, vem da igreja” já se tornou comum na hora de avaliar alguns dos profissionais que trabalham com ele.

“A gente fala brincando, entre os músicos que não são religiosos, que não têm vínculo nenhum. É uma forma de dizer que o cara é disciplinado, maduro e competente. Tem muita gente dessas igrejas no meio musical, um acaba puxando o outro”, explica o artista, que tem entre os sete músicos da sua banda, quatro que se encaixam nesse perfil.

Simonal conta ainda que alguns desses músicos atraem uma legião de fãs evangélicos para o seu trabalho. “Vamos fazer show, tem seguidores do Robinho. Ele tem fãs no país inteiro”, conta o músico, falando do baixista Robinho Tavares, que trabalha com ele há 12 anos.

O regente Nilton Silva, 37 anos, falou ao G1 sobre a forma que os músicos são formados na igreja. Segundo ele o esquema é colaborativo, ou “mambembe mesmo, sem regra, ar condicionado, estrutura de sala de aula. É na base da repetição e autodidatismo”.

Filho de um maestro, Nilton conta que quando seu pai começou a frequentar os cultos foi incumbido de tocar trompete, mesmo sem ter a mínima noção sobre o instrumento. Ele afirma que, com o treino, em dois anos seu pai já era responsável por ensinar aos novatos. “Meu pai é maestro desde que me conheço por gente. Ele aprendeu a reger sozinho e, depois que se converteu, passou a tocar trompete também. Aprendeu na marra, lendo partitura, estudando sozinho. O esquema é: senta aí e vai pegando com os que já sabem”, explicou.

Ele conta ainda que, na infância, ele e seus irmãos montaram um quarteto musical que fazia sucesso no meio religioso, e que aos 22 anos resolveu montar um coral com alguns amigos do meio evangélico. O músico disse que o coral não canta apenas em igrejas: “A maioria dos contratantes não é evangélica, não tem vinculo nenhum. Em março, por exemplo, cantaremos no casamento da modelo Carol Trentini, em Santa Catarina. Ela não é evangélica. Trabalhamos muito bem nesse meio. Cantamos de tudo um pouco”, explica.

Artistas como Simoninha, Paula Lima, Alexandre Pires, Sandy e Junior já procuraram por ele pedindo indicação ou até mesmo interessados em usar o coral em gravações de programas de TV, CDs e temporada de shows.

Hoje já é considerado comum ver igrejas exportando artistas para o meio secular. A cantora Shirley Oliveira, que começou na Igreja Universal, está atuando como vocalista da banda do baixista Pixinga durante a temporada de shows que ele faz em um bar na zona oeste da capital paulista. Ela já fez também segunda voz para artistas como Alexandre Pires, Jair Oliveira, Tânia Mara, Daniel e Jair Rodrigues.

O vocalista e produtor musical Aldo Gouveia trabalha na banda do cantor Fábio Júnior desde 2003 e conta que fez, durante algum tempo, segunda voz em shows dos Racionais MC´s, do rapper Mano Brown: “Temos amigos em comum, pessoas do meio. Ele precisou de backing em 96 e eu fiz alguns shows”, conta Gouveia.

Ele explicou também o porquê de as igrejas estarem se tornando referência nesse meio: “Músicos da igreja têm que correr atrás. O acesso existe, mas não é uma formação de alto nível. Quem gosta, tem o sonho, se vira pra se capacitar. Com o tempo, isso foi formando um grupo seleto de profissionais mais versáteis, maduros e uma rede de contatos”.

Fonte: Gospel+

Um comentário:

  1. Creio que isso é fruto em grande parte da falta de reconhecimento do esforço do musicista. O cara estuda pra caramba, se esforça e depois dizem que ele "nasceu" com o "dom", e que o que recebeu de graça tem que dar de graça (esquecem que escola de música custa dinheiro, material de estudo custa dinheiro, instrumentos... enfim). Poucas igrejas se dispõem a pagar os músicos, mesmo quando os mesmos são integrais (ou quase, pois gastam tempo não somente tocando nos cultos, mas também ensaiando, pesquisando e "tirando" músicas... compondo, etc). Dificilmente se dispõem até mesmo a financiar ao menos o estudo de quem o usará ali mais tarde. O mesmo não se faz com o ministério pastoral, pois as pessoas reconhecem que o pastor teve que fazer um seminário, reservar dinheiro e tempo para estudos. Todos concordam que ele merece o sustento do trabalho.
    Já vi gente até cortar cabelo a preço popular na igreja mas receber para isso, e todos defenderem que ele recebesse por ser sua profissão. Em contrapartida, mesmo sendo a música uma profissão, essas mesmas pessoas condenam que o músico receba dinheiro.
    Um contra-argumento que diz que o músico pode tocar música cristã e ganhar dinheiro com isso fora da igreja tem seu peso contra: Gravar CD além de caro, não rende mais tanto quanto antes, e quem vai pagar para ver um show de um artista se pode vê-lo gratuitamente todo domingo na igreja?!
    Falo como músico que já recebeu salário para tocar mas que ao mesmo tempo sempre se disponibilizou a tocar de graça nos cultos. E adquiri muito conhecimento tocando de graça! Toquei com muita gente bem acima do meu nível e cresci com isso. Não me arrependo de nada disso.
    Também, é claro que ninguém é obrigado a tocar. Quem toca sem receber o faz por prazer e de livre vontade, e também não é errado. Mas sendo a questão de tocar no meio secular principalmente pelo dinheiro que se ganha, isso pesa pois todos precisam se sustentar.
    Claro que há outros motivos: A fama, a falta de compromisso da igreja com a qualidade na música, a falta de compromisso do próprio músico com a Igreja, querer por querer, etc., apenas coloquei um deles que acho que tem seu peso, para tentar acrescentar mais à postagem.

    http://vinibas.blogspot.com

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