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quinta-feira, 8 de março de 2012

Diários de um pastor: Mulheres da minha vida

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Muita gente não sabe que sua origem foi devida ao grande número de protestos pelo mundo, no começo do séc. XX, às péssimas condições de trabalho a que as mulheres foram colocadas, quando invadiram o mercado de trabalho durante a segunda revolução industrial. Alguns imaginam que tenha a ver com o incêndio que vitimou 146 trabalhadores (a maioria mulheres) em um incêndio em uma tecelagem em Nova Iorque, em 1911, porém o dia já vinha sendo celebrado há dois anos. Contudo, o fato é que este dia foi importante na conscientização da população sobre a importância da mulher na sociedade e da necessidade de cuidar de seu bem estar.

Neste dia tão importante, eu olho em volta e vejo como minha vida está envolta de mulheres. Sou casado, pastor auxiliar de uma igreja batista (onde as mulheres são maioria esmagadora da membresia), trabalho em um departamento com várias mulheres, incluindo minha própria chefe e sua substituta imediata. No meu antigo emprego, também trabalhava com várias delas, incluindo a chefe e a substituta imediata. Suas influências em meu desenvolvimento como profissional são e foram impagáveis.

E o que dizer da nossa época de escola, de academia? Volto à memória e lembro de tantas professoras, gentis, aplicadas. Algumas chatinhas também, confesso. As de português, com seus intermináveis quadros para copiar no caderno, eram terríveis. Nem na faculdade me livrei disso, uma professora de antropologia também era fã dos quadros cheios de anotações. Porém, foi uma que me estimulou a publicar minha monografia, e um ano depois, cá estou eu, autor publicado, por editora e tudo, graças ao carinho e reforço de uma mulher.

Não posso esquecer de minha esposa, é claro. Mulher especial, lutadora, que começou a trabalhar cedo, aos 16 anos, estagiando durante seu curso de formação de professores. E estágio sem remuneração, só pela experiência e pela emoção de poder cuidar dos pequeninos. Com 18 anos, já era professora, com sala de aula, quadro negro e algumas pedras nos rins, cicatrizes de um trabalho penoso, que exige que a mulher fique horas em pé sem poder ir ao banheiro. Ajudou em casa, deu faxina e tudo. Hoje, tem duas matrículas, ganha mal, como todo profissional da educação neste país mal-educado em que vivemos, mas fala da educação, daquela utópica, de Paulo Freire e Piaget, com um brilho nos olhos que comove. Só uma professora para aturar o crianção que escreve a vocês.

Mas a mulher que mais marcou minha vida foi aquela que me gerou. Mulher guerreira, que me criou sozinha, com pouquíssima ajuda (uma empregada aqui, outra ali, todas mulheres). Mulher sofrida, que quase foi demitida várias vezes, que viu sua mesa no corredor um dia, voltando de licença médica, e recebendo um ultimato: Arranje um lugar, ou ponha-se na rua. Mulher inteligente, que apertou o orçamento para comprar um imóvel próprio, que orgulhosamente quitou, 17 anos depois. Mulher corajosa, que voltou a trabalhar, mesmo após aposentada, para ajudar em casa, que cuidou da própria mãe nos seus últimos cinco anos de vida.

Acima de tudo, porém, é uma mulher de fé, daquelas crentes mesmo. Olhando para ela, você não dá nada. Baixinha, fala mansa, sorriso fácil, apesar da timidez. Porém, abra a porta do quarto dela à noite, que lá está ela, orando. Chegue em casa pela manhã, você vai encontrá-la com a Bíblia aberta, estudando a lição da Escola Dominical. Mulher que não desiste, que me via parado em casa, afastado dos caminhos do Senhor, e orava, diligentemente. E olha o resultado: Filho na igreja, pastor e tudo. E ela se orgulha disso? Não. Foi seu amor, de mulher e de mãe, que a levaram a isso. Com saúde frágil, hoje ela ora por outros que precisam, ajuda quem pode, algumas vezes mesmo quando ela mesma não pode.

Mulheres. Dizem que elas são difíceis de entender. Eu não acho. Acho que nós, homens, somos simplórios demais para captar a sua complexidade. Nós funcionamos à base do raciocínio, da matemática, do bate e pronto. Mulheres são emotivas, detalhistas, dedicadas, pró-ativas, multi-ativas, fortes (sim, pois queria ver um homem passar pelo que elas passam na hora do parto). 

Obrigado, Deus, por fazer as mulheres como elas são, pois senão o mundo seria muito sem graça.

Feliz Dia Internacional da Mulher.

Um comentário:

  1. Amore, fiquei emocionada com seu texto. Não apenas porque você fala sobre mim, srsrsrsr, mas principalmente pela maneira como vocês escreveu sobre sua mãe, dá para perceber o carinho, a admiração e o amor em cada palavra. Parabéns por sua capacidade de traduzir em palavras experiências de vida que só o coração é capaz de entender. Um beijo enorme!
    Rosana

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